Canabidiol: Depois de críticas e protestos, nova consulta pública será aberta

Cinco entidades assinaram uma nota contra a resolução do Conselho Federal de Medicina que restringe a atuação dos médicos na prescrição de medicamentos de cannabis

Felipe de Moura*

O menino Arthur brincando na escola Reprodução
O menino Arthur brincando na escola
Reprodução

Depois de críticas e protestos acerca da resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que restringe a atuação dos médicos na prescrição de medicamentos de cannabis para tratar apenas alguns casos de epilepsia, o CFM decidiu, nesta quinta-feira, fazer uma nova consulta pública sobre o tema.

A decisão da última sexta-feira (14), que foi duramente criticada, foi alvo de uma nota contra a resolução assinada por cinco entidades: Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (ABIQUIFI), a Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (ABIFINA), a Associação Brasileira das Empresas do Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (ABIFISA), a Associação Brasileira de Organizações Representativas de Pesquisa Clínica (Abracro) e a Associação Brasileira das Indústrias de Canabinoides (BRCann)

De acordo com essas entidades, há comprovação científica do tratamento com canabidiol de diversas doenças e condições clínicas.

Portador de autismo, o menino Arthur Costa, de apenas seis anos, tinha episódios frequentes de agressividade que o impediam de ficar em sala de aula. Porém, isso acontecia antes dele começar a usar o óleo feito a partir de derivados da maconha. Como os episódios de agressividade eram tão comuns, ele ia pouquíssimas vezes à escola. Depois do tratamento, Arthur voltou a frequentar uma sala de aula.

“Tudo que eu fazia irritava o Arthur, ele se machucava, batia a cabeça na parede, jogava os móveis de casa. Hoje em dia ele interage com todo mundo, está muito melhor, fala e brinca com todo mundo. Antes do canabidiol não seria desse jeito. Hoje, o Arthur está melhor 90%. O canabidiol foi um divisor de águas não só na vida do Arthur, como na minha. Hoje eu também tenho mais vida. Quando o canabidiol veio, ele só teve ganhos”, disse Isadora Costa, mãe da criança.

Ela também conta como reagiu à notícia de que o CFM restringiu o uso do canabidiol:

“Foi assustador. Parece que tudo que é para favorecer os nossos filhos, tem alguém contra. Não pretendo mudar a medicação dele. O que vai ser do meu filho amanhã sem essa medicação? Isso não pode acontecer, isso é um retrocesso muito grande. Quem fez essa lei não tem empatia, não favorece o humano. Vale pensar no próximo”, comentou, aos prantos, Isadora.

Segundo especialistas, o canabidiol é indicado em mais de 10 tratamentos diferentes, diferentemente do que estabelece a última resolução do CFM.

Aqui no país, a regulação do uso do canabidiol é feita pela Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Embora a resolução do CFM não tenha efeito legal, ela funciona como orientação para os médicos e pode até deixar profissionais inseguros na hora de prescrever o medicamento.

“Isso foi um retrocesso. O CFM restringiu demais o uso desse medicamento. O canabidiol já estava sendo bem disseminado por outras especialidades. Muitos pacientes vão ter prejuízo com essa restrição. O medicamento vai ter mais dificuldade de acesso, já que grande parte dos médicos vão ser inibidos a prescrevê-los e às vezes vão ter que procurar um mercado paralelo para ter esses medicamentos, seja na internet ou até na rua, na forma não medicinal da droga, que não é aconselhada por ninguém porque ela é muito tóxica e não traz benefício nenhum”, explicou o neurologista Pedro Monteiro

No Rio de Janeiro, pais e profissionais foram às ruas para protestar contra a restrição:

“Eu sou mãe de três pacientes autistas severo, que não falavam, davam cabeçada na parede e arrancavam o cabelo com as mãos. Hoje, meus três filhos não têm nenhum atraso. A cannabis, em sua integralidade, pode tirar os meus filhos do espectro. Eu tenho filhos que vão à escola, ao cinema, ao shopping e que fazem o que todas as crianças podem fazer. Nós temos base científica e clínica para lutar contra essa resolução”, falou Bruna Fernanda Dias Lima.

*Sob supervisão de Natashi Franco