Caso Flordelis: julgamento chega ao segundo dia

Apenas três pessoas, das 26 relacionadas para depor, foram ouvidas ontem

Karol Neves*

Flordelis chega ao Fórum para o segundo dia de julgamento.  Reprodução
Flordelis chega ao Fórum para o segundo dia de julgamento.
Reprodução

O julgamento da ex-deputada federal Flordelis chega ao segundo dia nesta terça-feira (8) no Fórum de Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ela é acusada de mandar matar o marido, o pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, e pode responder por homicídio triplamente qualificado. Outros familiares de Flordelis também são acusados de envolvimento no assassinato e serão julgadas pelo Tribunal do Júri.

Na segunda-feira (07), apenas três das 26 pessoas relacionadas para depor foram ouvidas. A primeira a falar foi a delegada Bárbara Lomba, que iniciou as investigações do caso. A delegada prestou depoimento por mais de cinco horas. Em seguida, o delegado Allan Duarte, que indiciou Flordelis, falou. Regiane Ramos, que foi patroa de Lucas, filho da ex-deputada, foi a última a depor.

A defesa de Flordelis tem como estratégia levar ao júri acusações de violências físicas e sexuais supostamente cometidas por Anderson do Carmo. Em um vídeo, que foi gravado no Complexo Penitenciário de Gericinó, onde Flordelis está presa, a acusada detalha os episódios.

"Ele fazia comigo. Não sabia que fazia com meus filhos. Achei que ele ia parar, mas ele me batia. Ele ficou um tempo tranquilo sem me judiar. Não sei o que deu na cabeça dele que ele começou a me judiar na hora de relação sexual. Eu pedia a Deus...que ele estivesse muito cansado quando eu chegasse em casa. Ele pegou uma mania...Ele só conseguia ter orgasmo se me judiasse, me machucasse. Tinha mania de me enforcar...uma vez até eu desmaiar", relatou ela.

Durante o depoimento ontem no tribunal do júri, o delegado Allan Duarte, que finalizou o inquérito contra a ex-deputada federal, afirmou que chegou a investigar essas denúncias.

"Com relação as questões sexuais que foram ventiladas no curso do inquérito e do processo, essas questões foram analisadas, foram levadas em consideração, mas com relação a motivação do crime, a gente acredita que tenha sido financeira. Eles ventilam essa tese pra poder mascarar a motivação real, que é a motivação financeira, essa foi a conclusão do nosso inquérito", disse o delegado Allan Duarte.

Na época, ele afirma que não encontraram nem mesmo provas que levassem a polícia a analisar esse possóvel crime.

"Ninguém procurou uma delegacia de polícia pra relatar a violência sexual. Essa violência sexual foi citada, em breves relatos, durante a investigação. Não houve oportunidade de se apurar isso por carência de vestígios, essas investigações deveriam ter sido feitas à época do fato. Acusaram uma pessoa, que já estava morta, de violência sexual", disse o delegado.

O assistente de acusação, advogado Ângelo Máximo, disse no primeiro dia de julgamento que em nenhum momento Flordelis falou sobre esses abusos desde que a investigação começou.

"Ela foi ouvida em cinco oportunidades e nunca narrou isso. Muito pelo contrário, ela sempre vangloriou o Anderson, que era o 'meu tudo', que era o Deus dela, aí agora a defesa vem com esse vídeo", disse o advogado.

Durante a sessão de ontem (07), a ex-parlamentar passou a maior parte do tempo com a cabeça abaixada e chorando. Familiares, amigos, a mãe e o namorado de Flordelis acompanharam o júri para prestar apoio.

Por conta do número de réus (cinco no total) e de testemunhas (26) a prestarem depoimento, a expectativa é que o julgamento se estenda por mais dias.

Outras seis pessoas já foram condenadas por participação no crime. Flavio dos Santos, filho biológico de Flordelis, foi condenado como o autor dos disparos que provocaram a morte do pai. Lucas, que também é filho do casal, foi acusado de comprar a arma do crime.

A ex-deputada federal é acusada de homicídio triplamente qualificado, tentativa de homicídio, falsidade ideológica e associação criminosa.

RELEMBRE O CASO

O pastor Anderson do Carmo foi morto com mais de 30 tiros em junho de 2019, na porta da casa da família, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Logo após o crime, Flordelis disse que tinha sido vítima de uma tentativa de assalto.

A ex-deputada federal foi presa pela Polícia Civil do Rio em agosto de 2021, 48 horas depois de ter o mandato cassado pela Câmara dos Deputados, em Brasília. Mesmo presa, ela negou as acusações e pediu orações.

*Sob supervisão de Natashi Franco