Moradores da comunidade da Torre, em Queimados, na Baixada Fluminense, acusam policiais militares de serem os autores dos disparos que mataram um menino de seis anos e feriram outras duas meninas na tarde desta quinta-feira (6). Desde a noite de ontem, dois ônibus foram incendiados como forma de protesto pela morte dos menores.
O garoto Kevin Lucas dos Santos, de seis anos, foi atingido no peito. Ele chegou a ser socorrido, mas, infelizmente, não resistiu ao ferimento. O enterro aconteceu na tarde desta sexta-feira (7), no cemitério Carlos Sampaio, em Nova Iguaçu.
“Uma criança tão saudável. Tão esperta, tão inteligente. E agora? O que que eu vou fazer? Eu só quero justiça”, desabafou Ana Cláudia, mãe de Kevin.
Uma jovem de 13 anos, identificada apenas como Gabriela, e Ludmila Vilela, de 9 anos, também foram baleadas. O quadro de saúde delas é estável. De acordo com os parentes, as crianças estavam brincando embaixo de uma lona quando os PMs chegaram atirando.
“Ela e mais cinco ou seis crianças estavam todas ajudando o rapaz a fazer a mudança. Eles (policiais) não viram quem estava debaixo da lona, dispararam achando que tinha bandido lá, só que não tinha ninguém”, relatou o pai de Ludmila, Wilson Vilela.
O local foi periciado pela Polícia Civil que também ouviu testemunhas. Os agentes que participaram da ação tiveram as armas apreendidas e prestaram depoimento.
A Polícia Militar afirmou, através de nota, que durante um patrulhamento em um dos acessos à comunidade, as equipes foram atacadas por criminosos. A corporação disse que os policiais não fizeram disparos.
Segundo um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, esses foram os primeiros casos de menores vítimas de bala perdida no Rio em 2022. Dados da ONG Rio de Paz também revelaram que já são mais de 20 crianças mortas por bala perdida no Estado, nos últimos dois anos.
“Essas mortes são do conhecimento todos, mas nada muda na política de segurança pública do Estado. Repete-se o padrão de sempre. Os que morrem são meninos e meninas pobres, vítimas de tiroteio entre os próprios bandidos, entre bandidos e policiais. As famílias não recebem nenhum apoio do governo e a autoria do crime não é elucidada”, afirmou o fundador da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa.
RIO TEM OUTROS CASOS DE BALAS PERDIDAS
A morte de Nair Gama Vieira, de 59 anos, outra vítima de bala perdida, durante um confronto entre policiais militares e bandidos, na última terça-feira (4), em Duque de Caxias, também é investigada pela Polícia Civil. Os agentes envolvidos foram afastados preventivamente.
Além de Nair, um homem identificado como Gilson de Souza, de 50 anos, foi mais um atingido durante confronto entre policiais e bandidos. O caso aconteceu na quinta-feira (6), no morro do Fubá, em Cascadura, na Zona Norte do Rio. Ele foi socorrido e deixou o hospital por conta própria.