Dezenove paraguaios foram resgatados em situação análoga à escravidão no Rio

As vítimas foram levadas para a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Os criminosos podem responder pelo crime de tráfico de pessoas

Júlia Zanon*

Dezenove paraguaios foram resgatados em situação análoga à escravidão no Rio
Maquinário da fábrica
Reprodução

O Ministério Público do Trabalho e a Polícia Federal buscam os criminosos que mantiveram dezenove paraguaios em em situação análoga à escravidão em uma fábrica clandestina de cigarros em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Eles foram resgatados na tarde desta segunda-feira (20).

"A investigação está apurando. Não somente o tráfico, mas outros crimes também", disse o delegado Felipe Monte. Ainda de acordo com ele, o grupo era responsável pelo fornecimento de cigarros falsificados em todo o estado do Rio e o estabelecimento era grande e tinha muita capacidade de armazenamento.

Segundo a investigação, os trabalhadores foram trazidos com os olhos vendados do Paraguai. Para eles, foi pago um valor simbólico no país de origem por aceitarem o emprego. Também foi feita a promessa de que trabalhariam em uma fábrica de roupas em São Paulo e garantiriam uma vida com tranquilidade. Entretanto, a realidade foi outra. As vítimas dormiam na própria fábrica com resíduos de cigarros e trabalhavam sete dias por semana por 12 horas sem as mínimas condições de higiene e esgoto a céu aberto.

"Eram dois turnos e trabalhavam, inclusive, de madrugada e sem salário. Eles se sentiram ameaçados, eram rotineiramente pessoas que iam lá, fazer ameaça [...] Sequer poderiam sair dali com o celular para se comunicar com parentes. Pegaram os celulares. Então, como uma pessoa nessa situação vai fugir? Sequer tem capacidade de fugir, de se comunicar - a língua também é um impedimento", disse o outro delegado responsável pelo caso, Luiz Carlos Silva Junior.

As dezenove vítimas afirmaram que não sabiam o endereço da fábrica. Resgatados pela Operação Libertatis, eles afirmaram que tinham contato apenas com uma pessoa, responsável por levar mantimentos. Mas ela entrava com uma máscara no rosto e com uma arma de fogo fazendo ameaças.

Os estrangeiros foram levados para a Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, na Zona Portuária da capital fluminense.

Durante a ação, um cachorro também foi resgatado. O cãozinho já foi adotado por uma funcionária do Consulado do Paraguai, que esteve no local para prestar os primeiros atendimentos aos estrangeiros. Ele recebeu o nome de "Libertatis", mesmo nome da operação.

Os responsáveis podem responder pelos crimes de tráfico de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, fraude no comércio, sonegação por falta de fornecimento de nota fiscal e delito contra as relações de consumo.

O Ministério Público do Trabalho e a Receita Federal cumpriram ainda quatro mandados de busca e apreensão em endereços ligados à quadrilha.

*Sob supervisão de Helena Vieira