Se há um tempo atrás os brechós eram vistos com certo preconceito, como lugares de baixa qualidade e itens de “segunda-mão”, hoje em dia eles voltaram à moda. As constantes mudanças do mundo da moda e o resgate de tendências são alguns dos motivos que fazem do brechó um empreendimento atrativo para lojistas e consumidores.
Além disso, esse tipo de estabelecimento pode atrair um público diversificado, entre jovens, adultos e idosos, atendendo a todas as classes sociais, com interesses que variam desde a procura por marcas famosas até a economia na aquisição de produtos.
“Tiraram um pouco do preconceito que tinha de roupa usada, de ”energia da roupa", que brechó só tem roupa velha, roupa antiga. O brechó também traz essa conscientização pras pessoas do mercado de segunda mão, do consumo consciente", considera Rachel Simões, dona de um brechó no Rio de Janeiro.
Uma das hipóteses para essa volta dos brechós é o impacto ambiental causado pela chamada fast fashion, tendência pela qual grandes empresas produzem roupas em larga escala e preço reduzido, renovando a coleção a cada nova estação e, consequentemente, produzindo grandes quantidades de lixo.
Segundo dados da Aliança da ONU Pela Moda Sustentável, a indústria da moda é responsável por 2 a 8% dos gases de efeito-estufa emitidos no planeta. Além disso, resíduos têxteis correspondem a 9% do microplástico presente nos oceanos.
O “cemitério de roupas” existente no deserto do Atacama, no Chile, já pode ser visto do espaço. Além dos diversos danos produzidos pela indústria nos arredores dos locais onde se localizam, e a exploração da mão-de-obra que produz as peças. Toda essa cadeia de produção é extremamente prejudicial e cada vez mais tem chamado a atenção dos consumidores.
“Esse tipo de consumo tende a aumentar (…) até por conta dessa preocupação maior com os impactos climáticos”, afirma a pesquisadora da Firjan Nathalia Coelho.
De acordo com um levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (Sebrae), no Brasil, entre os primeiros semestres de 2020 e 2021, houve um crescimento de 48,5% na abertura de estabelecimentos que comercializam mercadorias já usadas. Apenas nos primeiros seis meses de 2021, foram inauguradas 2104 empresas desse segmento. Já no primeiro semestre de 2020, esse número foi de 1416.
Outro fator é a questão econômica. As grandes marcas de fast fashion já não produzem itens tão em conta assim. A inflação do setor da moda é a maior desde 1995. Isso é um reflexo do aumento do custo de produção do setor durante a pandemia.
O resultado é o surgimento de mais brechós e uma procura maior por parte do público. Aos poucos, os consumidores criam uma nova relação com a moda: enquanto a fast fashion propõe uma experiência de consumo a partir da padronização (pessoas consumindo a coleção do momento), os brechós possibilitam que o cliente adquira peças únicas.
E engana-se quem pensa que os brechós são todos iguais. Com o crescimento do setor, surgem também diferentes segmentos: brechós online, de luxo, e até mesmo voltados para marcas específicas. As próprias redes de fast fashion parecem estar se adequando à moda circular.
A Renner, por exemplo, adquiriu o “Repassa”: uma plataforma para revenda de roupas usadas em bom estado de conservação.
Precursor dos brechós online, o site Enjoei foi uma das primeiras plataformas onde cada usuário pode criar sua própria loja e vender, além de roupas de marcas conceituadas no mundo da moda, acessórios, objetos e até mesmo móveis.
Já no segmento de luxo, se destaca o “Gringa”, site criado pela atriz Fiorella Mattheis com peças a partir de 200 reais.
“Eu chegando com peças mais diferenciadas no meu ciclo de amigos, todo mundo me perguntava de onde eram as pessoas e eu falava ‘10 reais num brechó’. Eu consegui juntar duas paixões, a moda e a sustentabilidade”, revela a influenciadora Lohanne Tavares, que mostra nas redes sociais os “melhores garimpos” nos brechós da cidade.
*Sob supervisão de Christiano Pinho.