Ex-morador de rua lança segundo livro na Bienal do Livro no Rio

Leo Motta ainda fundou projeto para acolher moradores de rua

Beatriz Duncan (sob supervisão)

Livros estão à venda na página do escritor nas redes sociais @leomottaescritor Beatriz Duncan/Band Rio
Livros estão à venda na página do escritor nas redes sociais @leomottaescritor
Beatriz Duncan/Band Rio

Leo Motta. Para muitos, apenas um nome. Para o escritor, um símbolo de pertencimento na sociedade. Ex-morador de rua, Leo lança o segundo livro "Há vida depois das marquises - Sonhos", na 20ª Bienal Internacional do Livro do Rio, que acontece até o próximo dia 12. Nesta sequência, ele relata os momentos depois de sair das ruas e vencer a longa batalha contra as drogas, que começou aos 14 anos. Ele conta a chegada do amor na sua vida, através da noiva e da filha, e do encontro com o pai, que conheceu depois de 38 anos.

Os problemas que Leo enfrentou foram muitos. Desde a dependência química à perda de um filho. Tudo isso o levou a ficar em situação de rua. Durante a conversa com a equipe da Band Rio, ele contou sobre o sentimento de se sentir invisível aos olhos do mundo enquanto morava na rua.

"O mais difícil foi me ver em situação de rua. Porque a situação de rua feriu a minha alma. Eu não nasci na rua, não cresci na rua. Ali eu não tinha nome nem sobrenome. Ali eu era chamado de vergonha e derrota. Então o que eu passei ali vai ficar marcado para sempre na minha vida. Existia um sentimento de exclusão, solidão, medo, mas também de esperança. Hoje diversas pessoas me acompanham nas minhas redes sociais e a maioria delas são parentes de pessoas que estão mergulhadas nas drogas, que estão em situação de rua, essas pessoas veem minha vida como esperança", completa o escritor.

Há quase cinco anos, o escritor é um novo homem. Prestes à casar e com filhos, ele diz estar realizado.

"No meu dedo esquerdo, a aliança de casamento. Dentro do bolso da calça, uma chave com endereço para voltar no fim do dia, lá onde tem um abraço me esperando. Estar participando hoje de uma Bienal Internacional, trazendo a voz de pessoas que estão ali fora, é uma realização. Meu livro fala de sonhos, mas o sonho de pessoas que estão nas calçadas e também dos meus sonhos. Meus filhos não tem mais vergonha de mim , minha mãe não chora mais todos os dias e meu pai, que conheci depois de 38 anos sente orgulho de mim", conta o escritor.

Leo Motta aceitou receber ajuda ao perceber os problemas que enfrentava. Passou por uma instituição de acolhimento, em 2019, que, como ele mesmo diz, o devolveu para a sociedade. Para ajudar aqueles que ainda se encontram nas ruas, o escritor fundou o projeto "A Rua é Casa de Muitos e Não Deveria Ser de Ninguém", que atende cerca de 200 pessoas, no Centro do Rio. A iniciativa busca trazer mais dignidade à vida dessas pessoas através de centros de acolhimento.

"A minha fé é que todos aceitem ser ajudados. Do outro lado tem alguém que quer ajudar mas se você não aceitar essa ajuda, não tem como mudar o quadro, dar a volta por cima. O que eu quero transmitir à elas (pessoas em situação de rua) é essa fé que elas tem que ter nelas mesmas. A rua maltrata tanto que elas pensam que o final pode ser ali quando, na verdade, existe uma porta", completa ele.