‘Uma tentativa de matar Marielle permanentemente’ diz Freixo sobre investigações

Cinco anos depois, assassinato de Marielle Franco continua sem respostas

Júlia Zanon*

‘Uma tentativa de matar Marielle permanentemente’ diz Freixo sobre investigações
Cinco anos após assassinato, caso Marielle Franco segue indefinido
Reprodução/Bernardo Guerreiro

Nesta terça-feira (14) faz cinco anos do assassinato de Marielle Franco e do motorista, Anderson Gomes. Nesse período, o processo para desvendar o responsável e os motivos do crime continua lento. Homenagens para a vereadora se espalharam pelo Rio de Janeiro, como forma de recordar quem foi Marielle e cobrar respostas.

A família da vereadora inaugurou uma estátua no Museu de Arte do Rio, na Praça Mauá, concedida pelo artista Pablo Nazareth. A estrutura tem 11 metros de altura e ficará exposta até o fim do mês. Também na Praça Mauá, a Anistia Internacional montou uma linha do tempo e painéis com fotos de Marielle.

No outro extremo do Centro do Rio, na Cinelândia, cartazes foram expostos cobrando justiça na escadaria da Câmara dos Vereadores.

Às 10h de hoje, na Igreja Nossa Senhora do Carmo, perto do Buraco do Lume, aconteceu uma missa em homenagem à Marielle Franco e Anderson Gomes.

“São cinco anos, quase meia década”, começou Aniele Franco, irmã da vereadora, em sua fala sobre o tempo de espera por respostas do crime.

Nesse longo período de investigação três presidentes da República já passaram pelo cargo, cinco delegados estiveram à frente do processo, além de dez promotores do Ministério Publico do Rio. Mas, até hoje, o crime não foi esclarecido.

“Para o mundo, é muito terrível ver que cinco anos depois o Brasil ainda não conseguiu resolver as questões que todos esperam. A gente continua fazendo as mesmas perguntas desde o início. Nada mudou”, contou a diretora da Anistia Internacional, Jurema Werneck.

No início das investigações, o delegado Rivaldo Barbosa afirmou que “a Polícia Civil teria capacidade para resolver esse caso e que fariam "de tudo para dar uma resposta a esse crime bárbaro. Não vai ficar impune”. Mas, cinco anos depois, pouco foi resolvido

“O tempo ajuda a ressignificar algumas coisas, acomodar determinados sentimentos, mas não tem uma definição nesse lugar que seja uma definição positiva. Ao passo que eu faço o luto da viúva, de uma mulher que perdeu sua companheira, eu não consigo fazer esse luto de forma plena, porque diariamente eu preciso relembrar da Marielle. Não só em um lugar de saudade, em um lugar das boas lembranças, mas em um lugar de dor, da dor de ela ter sido assassinada, desse crime não ter sido solucionado, do Estado não ter respondido quem mandou matar Marielle e o porquê”, desabafou Monica Benicio, viúva de Marielle. Ela lembrou ainda que, no dia 14 de março de 2018, esperava pela amada para jantar, mas ela nunca mais apareceu.

Desde o início das investigações, apenas duas pessoas foram presas, de forma preventiva: Ronnie Lessa – que foi expulso da Polícia Militar – e Élcio Queiroz, policial militar reformado. O segundo dirigia o veículo que seguia o carro da vereadora para que o primeiro pudesse atirar.

No ano passado, em 2022, o Supremo Tribunal Federal determinou que Élcio Queiroz e Ronnie Lessa fossem a júri popular. Mas a data do julgamento nunca chegou a ser marcada.

A polícia seguiu uma pista falsa durante quase um ano. De acordo com as informações, uma testemunha falsa foi implantada alegando que o vereador Marcelo Siciliano, do PHS, e o ex-policial militar Orlando Araújo, atualmente preso acusado de ser chefe de milícia, queria Marielle Franco morta. Em uma conversa presenciada pela testemunha, que seria segurança do ex-PM, o vereador Marcelo Siciliano teria dito a Orlando que Marielle estava o atrapalhando e que eles precisavam resolver isso logo. A ordem da execução teria partido do ex-PM, mesmo preso. Marielle Franco foi assessora de Marcelo Freixo por 10 anos. O então deputado foi responsável por implantar a CPI das milícias.

“A investigação em relação ao caso da Marielle representa um dos maiores absurdos que nós já vimos. O caso da Marielle é muito singular. Eu nunca vi uma vereadora, uma mulher negra, tão importante, ser brutalmente assassinada”, disse o ex-deputado Marcelo Freixo.

“É uma tentativa de se matar Marielle permanentemente. A primeira fake news sobre Marielle, o corpo dela estava dentro do carro. Eu nunca vi nada igual. Eu nunca vi nenhum caso assim no mundo. A gente sabia que tinha sido uma execução de profissional. Quem atirou não saiu do carro, atirou com o carro em movimento. Tem uma pessoa presa, que é um profissional. Mas quem pagou, quem quis e planejou essa morte? Quem no Rio de Janeiro faz política dessa maneira? Isso é muito grave. Eu estou falando do assassinato de uma vereadora, planejado durante uma intervenção militar no Rio, às vésperas de uma eleição presidencial. E ninguém conseguiu quem mandou matar? As investigações foram investigações lamentáveis. Trocaram sucessivamente os delegados, não colheram as câmeras dos locais adequadamente, cometeram os erros primários que eu tenho dificuldade de achar que eram erros. Quem está sendo protegido para não ser descoberto? Porque? Porque essa morte da Marielle? Qual era a ameaça que ela representava? O que aconteceu no Rio de Janeiro, o que aconteceu no Brasil nesse momento? Por que se disputar a memória dela fazendo fake news quando ela tinha acabado de ser assassinada?” questionou Freixo.

Contra o carro das vítimas, foram disparados 13 tiros. Cinco acertaram a cabeça de Marielle e três, as costas de Anderson Gomes. Os dois morreram na hora. Fernanda Chaves, assessora da vereadora, também estava no carro e foi a única sobrevivente do crime.

QUEM FOI MARIELLE FRANCO

“Eu sou Marielle Franco. Mulher, negra, mãe, da favela”. Essa era a forma como ela se apresentava. Foi a quarta vereadora mais votada no Rio de Janeiro, com mais de 46 mil votos.

“Marielle como companheira e como esposa era uma aventura e um desafio. Porque a mulher forte que era colocada para a sociedade, ela tinha um outro lugar dentro da relação. De se permitir ser frágil, de fazer vozinha, de cuidado”, contou Monica Benicio, viúva de Marielle.

No dia seguinte do assassinato, as ruas do país inteiro foram tomadas por multidões que exigiam respostas. Hoje, a pergunta se mantém: “Quem mandou matar Marielle?”

*Sob supervisão de Natashi Franco