Band Rio

Médico responsável por hidrolipo em paciente entrega passaporte para a Polícia

Novas vítimas prestam queixa em delegacia contra médico

Beatriz Duncan

A família de Maria acusa o médico de negligência. O advogado do médico nega as acusações.
A família de Maria acusa o médico de negligência. O advogado do médico nega as acusações.
Divulgação/Redes Sociais

Depois da abertura da investigação sobre a morte de uma diarista após realizar um procedimento estético no último dia 17, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte do Rio, o médico colombiano Brad Alberto Castrillon SanMiguel entregou o passaporte para a Polícia Civil nesta terça-feira (21). A investigação escuta ainda funcionários do prédio onde fica a clínica de Brad.

Um bombeiro, que trabalha no estabelecimento, afirmou em depoimento ter sido acionado por volta de 13h20 por um porteiro, afirmando que uma mulher estaria passando mal. Segundo ele, quando chegou ao encontro da vítima, médicos de uma UPA tentavam reanimar Maria Jandimar Rodrigues. O processo teria durado cerca de 40 minutos, tendo sido usado também o procedimento com desfibrilador além de massagens de ressuscitamento, mas todas sem sucesso. De acordo com informações prestadas à polícia, o bombeiro afirma ter visto o médico responsável pela cirurgia na frente do prédio onde estava a paciente.

Uma agente administrativa do local também prestou depoimento. Segundo ela, às 13h20, mesmo horário que o bombeiro foi acionado, ela recebeu uma ligação via ramal informando sobre o estado de Maria. Ela traz uma mesma versão sobre o socorro à vítima. Ainda de acordo com a declaração, por volta das 14h uma mulher buscava informações sobre a diarista que fazia o procedimento no estabelecimento. Em seguida, foi informada pelo SAMU que a mulher socorrida no local era a mãe dela.

A morte de Maria Jandimar Rodrigues acendeu um alerta para outras pacientes que realizaram o mesmo procedimento estético com o médico colombiano Brad Alberto Castrillon SanMiguel. Outras quatro vítimas já vieram à tona com relatos. Todas passaram pela cirurgia há pelo menos um mês.

“O material dele não estaria esterilizado de forma correta. Por isso eu tive uma infecção generalizada. Eu fui parar nesta clínica através de indicações de pessoas no WhatsApp, no grupo mesmo. (Hoje) ele não se explica, não comenta sobre o caso. Ele se faz de maluco”, conta uma paciente que preferiu não se identificar. O grupo ao qual ela se refere é um espaço que reúne clientes da clínica de Brad Alberto.

Esta outra vítima também foi à delegacia e conversou com a imprensa. Mas também não quis revelar sua identidade.

“Eu estou com duas marcas de queimadura, uma no superior e outra no abdômen inferior. Ele não se justificou, não deu muita importância, não explicou o porquê. Simplesmente ignorou o fato. Devido a morte da Maria, eu acho que a gente tem que se manifestar para que isso não ocorra novamente”, relata.

Uma terceira mulher também conversou com a nossa equipe de forma anônima.

“Ele me prometeu mundos e fundos (depois do procedimento). Disse que ia tirar toda a fibrose e que eu não iria ter que pagar mais com esteticista. E eu bati o pé e disse que não queria passar por tudo aquilo de novo. Estou cheia de fibrose, minha cicatriz está horrível. Agora só mesmo uma abdominoplastia para melhorar. Eu às vezes tenho até pesadelo. A clínica (no pós operatório) também não dá nenhuma assistência. A gente desce sozinha do 16º andar”, explica. Ela conta também que sentia bastante dor por conta da demora na aplicação da anestesia.

Segundo esta última vítima, o suposto consultório era composto apenas por uma maca e os instrumentos para a realização das operações.

Desde o início da semana, a Polícia colhe depoimentos de testemunhas e vítimas. O médico já prestou depoimento na 27ªDP, na Vila da Penha. Segundo a investigação, Brad Alberto não seguiu as normas da medicina ao realizar as hidrolipos nas pacientes. A investigação deve entregar o inquérito concluído ainda este ano.

“O Dr. Brad disse que, dentro da avaliação dele, ela (a Maria) poderia ter tido uma intercorrência em virtude, das palavras dele, de uma patologia anterior a qual não teria sido dita para ele (pela paciente) no momento do atendimento”, declara o delegado Renato Carvalho.

O laudo feito pelo IML não apontou a causa da morte da diarista. Por isso, a Polícia pediu um laudo complementar que pode ficar pronto em até 10 dias.

A família de Maria acusa o médico de negligência. O advogado do médico nega as acusações.