Um programa da Petrobras pretende tornar insumos essenciais mais acessíveis para famílias em situação de insegurança alimentar. O investimento no projeto deve chegar a casa dos R$ 300 milhões. O mercado de investidores não recebeu muito bem a iniciativa.
O botijão de gás de cozinha, que já ultrapassa os R$100,00, virou um inimigo dentro dos lares brasileiros. O produto está entre os insumos definidos pela Petrobras como essencial. Na casa de Rachel Cachopa, moradora da favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, a família está tentando achar opções que substituam o botijão.
"Aqui onde eu moro o gás está R$123,50, com as sete pessoas que moram na casa, o botijão dura entre 25 e 28 dias. Às vezes, quando acaba, eu pego a churrasqueira e peço para as crianças buscarem madeira para mim e vou nos vizinhos pedir carvão emprestado. É a forma que tem para fazer a comida", comentou Rachel, que está desempregada.
Com uma das filhas fazendo hemodiálise, Rachel Cachopa precisou redirecionar os gastos de casa para fechar o mês. O botijão cedeu espaço para as medicações do tratamento de saúde da pequena.
"Ficamos 32 dias sem ter o botijão de gás em casa, fiquei pedindo ajuda paras todas as pessoas que podia. Eu nem pedia dinheiro, só pedia carvão mesmo... foi aí que um amigo conseguiu comprar o gás para mim", desabafou a mãe de três crianças.
Com a aprovação dos gastos para o projeto pelo Conselho de Administração da Petrobras, a iniciativa pretende durar 15 meses e amenizar os impactos econômicos da pandemia. Um levantamento da Organização para Agricultura e Alimentação, da ONU, estima que cerca de 23,5% da população brasileira esteja sofrendo com a insegurança alimentar, ou seja, não sabe se terá refeição no outro dia.
O programa da empresa estatal pretende auxiliar famílias de baixa renda para superar esse cenário. Mesmo sem ter data para entrar em vigor, o mercado financeiro já mostrou que a ação da Petrobras não agradou os investidores.
"Com a iniciativa, a Petrobras sinaliza para o mercado que é uma empresa do governo e não dos acionistas, ela sinaliza mal e introduz risco para as ações da estatal. A inflação não vai diminuir, o que a empresa faz é tentar compensar os impactos disso transferindo renda para as pessoas mais pobres. De fato, a inflação está alta, três pontos mais alta que a média, mas é preciso que a boa intenção não se transforme em má ação", comentou o economista da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Neri.