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Racismo: Jovens são impedidos de deixar evento no Centro do Rio

Em Resende, alunos são investigados por criarem um grupo com frases racistas

Felipe de Moura*

Alunos de um colégio em Resende criaram um grupo no WhatsApp com comentários racistas
Alunos de um colégio em Resende criaram um grupo no WhatsApp com comentários racistas
Reprodução

Uma denúncia de caso de racismo contra três jovens negros que foram impedidos de deixar uma festa no Centro do Rio está sendo investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Os seguranças do “Baile Urucum”, que aconteceu no último dia 23, no Núcleo de Ativação Urbana (NAU), obrigaram os jovens a desbloquearem os telefones para provar que não eram roubados. A organização da festa alegou que o pedido era feito para todas as pessoas que saíam da festa. Entretanto, os jovens disseram que a abordagem no caso deles foi diferente, de forma truculenta.

A confusão aconteceu por volta das 23h30, quando a festa ainda estava no início. Como os três jovens acharam as bebidas muito caras, eles decidiram sair cedo. Na saída, o trio se recusou a desbloquear os aparelhos por considerarem uma atitude ilegal. Com isso, segundo um dos jovens, um segurança ameaçou os três dizendo que eles só sairiam na viatura da polícia.

“Não era uma abordagem respeitosa, amistosa, foi uma abordagem extremamente agressiva. Chegou a um ponto que ele (segurança) falou que se a gente não desbloqueasse o celular, a gente só ia sair da festa com um camburão. Passou muito do limite”, disse Alayê Brito, um dos jovens que acusa os seguranças da festa de racismo.

Alayê é de Belo Horizonte, em Minas Gerais, e estava no Rio para passar o carnaval.

“Raramente a forma de abordagem com qualquer tipo de autoridade com a gente é amistosa. Raramente ela é feita com um formato de perguntar antes de alegar. Eles trazem conclusões antes mesmo de fazer qualquer tipo de pergunta”, afirmou Alayê.

Alayê também falou que um dos seguranças veio falar com ele em um lugar mais reservado e disse que o grupo poderia sair por uma saída pelos fundos. Porém, o jovem de 29 anos disse que eles não sairiam pelos fundos porque estavam sendo vítimas de racismo.

“Eu não queria estar falando sobre um caso de racismo que eu passei por conta da cor da minha pele. Poxa, eu tenho uma história por trás. Eu me formei, estudei quatro anos nos Estados Unidos e voltei para o Brasil por uma opção. Isso é muito duro, muito duro mesmo”, finalizou ele.

Em nota, o NAU disse que “a revista e a solicitação de desbloqueio de celulares é um procedimento adotado a fim de inibir a ação de ladrões que vêm agindo dentro dos shows e espetáculos, furtando pertences e principalmente os aparelhos celulares dos participantes”.

A organização ainda afirmou que “além do relato dos envolvidos não citar qualquer truculência, várias outras testemunhas presentes no local poderão comprovar a correta atuação dos profissionais ali presentes".

A Polícia Civil informou que a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) instaurou inquérito para apurar o crime de racismo e que testemunhas estão sendo ouvidas e diligências estão sendo feitas para esclarecer os fatos.

RACISMO EM RESENDE

Um caso de disseminação de mensagens racistas de alunos do colégio particular Santa Ângela, por meio de um grupo de WhatsApp, está sendo investigado pela Polícia Civil de Resende, no sul Fluminense.

Registrado nesta terça-feira (3) na 89ª DP, o caso aconteceu no último fim de semana. A delegacia vai chamar todos os envolvidos, a maioria adolescentes, para prestar depoimentos.

Durante o fim de semana, os alunos criaram um grupo na plataforma de mensagens chamado "pretolandia da pas de ja". No espaço, os adolescentes começaram a postar termos e frases racistas como: "odeio preto escravizado", "preto é sujo, branco limpo” e “crioula mulher empregada”.

Em nota, a DRD Advogados, que entrou com um processo contra o Colégio Santa Ângela, disse que “o Colégio Santa Ângela será regularmente notificado para apurar o ocorrido e a responsabilidade administrativa dos envolvidos. Além disso, agendamos reuniões para representar contra os adolescentes já identificados pelos atos infracionais praticados, bem como para ajuizarmos a ação de responsabilidade civil em face dos seus pais”.

Também em nota, o Colégio Santa Ângela falou: “deixamos o nosso pedido de desculpas e um abraço fraterno a todos que se sentiram prejudicados com essa situação e que as bênçãos do nosso Deus e nossa padroeira Nossa Senhora da Conceição recaiam sobre nós nesse momento tão difícil”. O Colégio ainda disse que tomaram conhecimento dos fatos para que pudessem tomar “as devidas providências”.

*Estagiário sob supervisão de Natashi Franco