RACISMO: mulheres filmam entrega de macaco de pelúcia e banana a crianças negras

Influenciadoras negam crime, mas advogada acusa "racismo recreativo".

*Ana Clara Prevedello, Mariana Albuquerque e Amanda Martins.

RACISMO: mulheres filmam entrega de macaco de pelúcia e banana a crianças negras
Polícia Civil vai investigar o caso.
Reprodução | Vídeo

As influenciadoras digitais Kérollen Cunha e Nancy Gonçalves são acusadas de racismo após darem uma banana e um macaco de pelúcia a crianças negras.

Elas gravaram o momento e postaram nas redes sociais, em um perfil com mais de 13 milhões de seguidores.

No vídeo, Kérollen oferece para crianças que estão nas ruas da cidade a opção de escolher entre “dinheiro ou presente”.

Um menino negro escolhe o presente, e se depara com uma banana embrulhada. Em outras imagens, uma menina, também negra, segue escolhendo a opção do presente, e recebe um macaco de pelúcia.

Após a publicação, a advogada Fayda Belo, especialista em crimes de gênero e direito antidiscriminatório, acusou as influenciadoras.

“O nome disso é racismo recreativo. Usar da discriminação contra pessoas negras com o intuito de diversão, de descontração, de recreação, agora é crime, anjo. E você pode receber uma pena de até quase oito anos de cadeia, que é o que eu espero que aconteça”, explica Fayda.

O Ministério Público já recebeu quase 700 denúncias sobre o caso, e a Polícia Civil instaurou um procedimento para analisar a denúncia da advogada. Ela ainda chama a atenção para o Estatuto da Criança e Adolescente, que proíbe o uso da imagem de menores de idade nas redes sociais.

“É bom lembrar que o Artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente diz que é inviolável a integridade moral do menor, bem como sua imagem deve ser preservada. Não pode sair por aí usando imagem de criança, não. Embaixo, o 18 diz que é proibido expor menores de idade a constrangimento, vexame, humilhação e ridicularização em público”, disse.

Na internet, um amigo e parceiro de trabalho de Kérollen e Nancy, Gabriel Tuff, acusa a advogada de selecionar apenas um trecho do vídeo, descontextualizando a brincadeira.

“O vídeo da banana em si não foi pensado para gravar com negro, com branco, com moreno, com gordinho, com magro, nada disso. Ela embalou a banana em uma caixa e saiu na rua, vendo se achava alguém que parecesse engraçado para o vídeo render”, conta.

Ele também fala que o menino que recebeu a banana de presente é conhecido das duas, e que ele quis participar da ‘brincadeira’.

“Elas já gravaram várias vezes com ele. Ele sempre está vendendo bala, e quando ela passa por lá, no Centro, ela ajuda ele, compra a bala dele e tudo mais. E ele deu um abraço nela e pediu para gravar com ela”.

Em nota à imprensa, a assessoria jurídica das influenciadoras afirma que elas "estão consternadas com as alegações que foram feitas e repudiam veementemente qualquer forma de discriminação racial", e que reforçam "o compromisso em promover a inclusão, diversidade e igualdade em suas plataformas".

No pronunciamento, a assessoria ainda ressalta que ”não havia intenção de fazer qualquer referência a temáticas raciais ou a discriminações de minorias”.

O local onde os vídeos foram gravados é desconhecido, mas as influenciadoras são do Rio de Janeiro. Após a repercussão negativa, a publicação foi apagada, e comentários em outras postagens limitados.

A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância analisa os vídeos e tenta identificar todos os envolvidos no caso, para esclarecer o acontecimento.

*Sob supervisão de Christiano Pinho.