Adotar um cachorro é passo importante para uma vida mais ativa

Na literatura médica, estudos atestam que os passeios regulares na companhia de um animal contribuem de forma sensível com a melhora da saúde física

Carolina Kirchner Furquim, da Agência Einstein

Quem adota um cachorro precisa levá-lo para caminhar Pexels
Quem adota um cachorro precisa levá-lo para caminhar
Pexels

Em meio a rotinas atribuladas, nem sempre é fácil encontrar tempo e disposição para se exercitar. Mas a forma que talvez seja a mais fácil, e mais aprazível, de incluir os exercícios físicos na vida cotidiana passe longe das academias, mas perto dos petshops: adotar um animal de estimação. 

Esta é uma medida oportuna e decisiva para se mexer porque, quem adota um cachorro, inevitavelmente vai precisar levá-lo para caminhar todos os dias (a não ser que more em uma casa com grande espaço livre) e esse pode ser o primeiro passo para uma vida fisicamente mais ativa. O benefício é, inclusive, descrito em evidências científicas.

O médico especialista em Medicina do Exercício e do Esporte, Marcelo Bichels Leitão, cita um estudo publicado em 2019 no periódico científico Scientific Reports, da Nature, que demonstrou que ter um cachorro em casa pode realmente ajudar a combater o sedentarismo.

“Foi feito um levantamento no Reino Unido e mostrou que donos de animais realizam de duas a quatro vezes mais atividade física em comparação com quem não tem um cachorro”, detalha o médico, que também é diretor científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda de 150 a 300 minutos semanais de atividade física de baixa a moderada intensidade e, segundo a publicação, os participantes do estudo que já tinham um cão em casa atingiram essa recomendação sem precisar de atividades adicionais. 

“O que notamos, ainda, é que o compromisso de levar um cachorro para passear melhora a questão das desculpas dadas para não se exercitar. Mesmo que os passeios aconteçam de forma fragmentada, em pequenos pacotes de caminhada, sabemos que isso funciona”, explica Leitão. O médico lembra ainda que, por mais que a pessoa não faça exercícios mais vigorosos, o pouco que ela consiga se mexer já contribui no combate ao sedentarismo. 

Além disso, no plano de ação global da OMS contra o sedentarismo, lançado em 2018, destaca-se a importância de agir em várias frentes — inclusive levando o animal de estimação para dar uma volta pelo bairro. 

Benefícios para a saúde

A aptidão cardiorrespiratória, um dos maiores indicadores de saúde de um indivíduo, é uma das primeiras beneficiadas pela nova rotina de movimentação física. 

“Temos uma pessoa com condicionamento maior e melhoria nos aspectos metabólico e osteomuscular, com menos risco para osteoporose e câncer, e com mais controle da pressão e de marcadores como glicemia, colesterol e triglicerídeos, que respondem muito bem a exercícios de baixa e moderada intensidade feitos de forma regular”, elenca Marcelo.

Entre quatro e oito semanas após o início das caminhadas com um cachorro, o indivíduo pode esperar redução na pressão e nos níveis de açúcar no sangue, o que é especialmente importante para pacientes diabéticos. 

“Nem sempre esse ganho é suficiente para curar condições prévias, mas sempre falo para os pacientes da importância de se intervir em fatores como colesterol, pressão e triglicerídeos. Os ganhos são marcantes”, diz o médico, que ainda lembra de outro ponto importante na decisão: o de adotar um animal. 

“Falando especialmente da adoção, não podemos deixar de citar o ato de solidariedade e os ganhos para um animal que estava sozinho. Esse é outro aspecto benéfico adicional dentro desse contexto.”

Para começar

Caminhadas, em geral de baixa intensidade, feitas por quem não tem nenhuma manifestação de doença, histórico e dado clínico que sugira alguma condição especial, podem ser feitas sem maiores avaliações. “Contudo, se houver o plano de correr com o animal, é preciso um pouco mais de cuidado, uma vez que exercícios de intensidade elevada em alguém que, eventualmente, tenha algum fator de risco, podem deflagrar algumas situações”, diz o especialista.

Segundo Leitão, pessoas com idades acima de 40-45 anos e com fator de risco para problemas cardiovasculares devem procurar um médico de confiança, de preferência com experiência em exercício, para uma orientação individualizada.

Emagrecer é possível?

Sim, segundo o especialista. Caminhadas feitas de forma frequente aumentam o gasto energético diário. O que não se pode, entretanto, é aumentar a ingestão calórica como recompensa pela atividade realizada. “Quem tem o desejo de perder peso precisa aliar a caminhada à alimentação para ter o resultado esperado”.

Pandemia de covid-19 e o sedentarismo

Na realidade do consultório médico, Leitão comenta que boa parte dos pacientes acompanhados relatou redução da atividade física durante a pandemia da covid-19. “Pacientes muitas vezes com pressão e colesterol altos, além de diabéticos, que vinham relativamente bem controlados com tratamento medicamentoso e atividade física, tiveram a necessidade de ajuste medicamentoso”, explica. 

Segundo ele, mesmo as pessoas que anteriormente alegavam estar paradas por falta de tempo, ainda que a pandemia tenha trazido mais tempo (em função do home office e da diminuição na necessidade de deslocamento), continuavam a usar essa justificativa.

“Para muitos, infelizmente, a atividade física ainda é vista como algo não essencial e foi preocupante o fato de que, talvez, as mensagens dadas na fase inicial da pandemia tenham sido inadequadas, contribuindo ainda mais para isso. Sabemos que caminhar grandes distâncias ao ar livre, longe de outros e com uso de máscara, não oferecem risco para doenças infecciosas. Vimos que houve o aproveitamento de uma informação pouco apropriada como justificativa para não se exercitar. Claro que é mais fácil fazer esse tipo de crítica com análise retrospectiva, mas a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte sempre orientou o respeito a todas as regras para minimizar as chances de disseminação da doença. Estamos frente a uma pandemia, mas a pandemia do sedentarismo, que também mata, existe há algumas décadas no mundo”, finaliza.