Saúde

Além do olfato e paladar, covid-19 também pode impactar visão e audição

Zumbido no ouvido e conjuntivite são queixas comuns após recuperação da doença

Priscila Carvalho, da Agência Einstein

Evitar o contágio pelo coronavírus, no entanto, é uma medida necessária
Evitar o contágio pelo coronavírus, no entanto, é uma medida necessária
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Dos cinco sentidos com os quais percebemos o mundo, pelo menos quatro podem ser prejudicados pela covid-19. A perda do olfato e paladar vinha sendo relatada desde o início da pandemia, mas pesquisas recentes soam o alerta para consequências à visão e à audição também.  

Uma revisão de estudos conduzida por pesquisadores no Canadá demonstrou que a taxa de perda de audição entre pacientes com covid-19 era 3,1%. De zumbido, 4,5% e cerca de 12,2% dos diagnosticados apresentavam também tontura. Os resultados foram publicados no periódico científico Canadian Journal of Neurological Sciences.

Outra revisão estima que 11% dos pacientes tenham manifestações oculares após a doença. As mais comuns foram: sensação de olho seco ou de um corpo estranho no olho (16%); vermelhidão (13,3%); lacrimejamento (12,8%); coceira (12,6%); dores (9,6%) e secreção ocular (8.8%).  

Ainda, entre as doenças oculares mais destacadas por pessoas com Covid-19, 88,8% relatam a conjuntivite. Esses dados foram analisados por pesquisadores do Irã e Canadá, e os resultados publicados na revista científica Journal of Ophthalmic and Vision Research.  

Em ambas as publicações, porém, os autores destacam que os achados devem ser interpretados com cautela, visto que os estudos ainda são recentes, com um número limitado de casos e não há evidências suficientes para uma associação direta entre a covid-19 e esses sintomas.  

Relatos no consultório do oftalmologista

As condições observadas nos estudos também são percebidas no dia a dia dos consultórios. “Nós temos uma série de relatos que mostram que a covid-19 também incide nos olhos. Quando as manifestações oculares são frequentes, incidem em mais ou menos 30% dos casos”, afirma Rui Barroso Schimiti, oftalmologista e professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).  

Segundo o especialista, essas consequências se manifestam de forma leve, com conjuntivites e inflamações no nervo óptico, ou mais grave, com a paralisia do globo ocular. Também foram constatados casos de estrabismo.  

Pacientes que ficaram muito tempo deitados em posição de prona – de barriga para baixo – no ambiente hospitalar podem ter problemas relacionados à disposição ocular, de acordo com Schimiti.  

Como ainda não há um consenso sobre a permanência desses sintomas, os especialistas reforçam que é cedo para falar em prevenção ocular. Evitar o contágio pelo coronavírus, no entanto, é uma medida necessária, bem como avaliar a saúde ocular após a recuperação da covid-19.

No caso de pacientes internados e que seguem acamados, proteger os olhos com pomadas de vaselina ajudam em uma menor alteração na superfície ocular. “Temos observado um tempo maior para recuperação e equilíbrio da superfície ocular. Ainda há um grau de sequela que é desconhecido”, afirma oftalmologista.

Danos auditivos

O zumbido após a covid-19 ocorre tanto em casos leves quanto graves da doença. Neste último, os riscos podem aumentar pelo uso de remédios durante o tratamento, os quais teriam uma toxicidade maior para a audição.  

Outras consequências observadas pelos especialistas estão o incômodo para escutar e a tontura. De acordo com Luiz Fernando Manzoni Lourençone, otorrinolaringologista e professor do curso de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), esses sintomas são observados em outras infecções respiratórias também e, no caso da covid-19, aparecem tanto no momento de recuperação do paciente quanto depois.  

“Fica difícil saber se os sintomas foram causados pela doença ou pelo tratamento. Ainda é muito incerto”, diz. No geral, estes prejuízos são reversíveis e duram menos tempo.  

Como os efeitos colaterais interferem diretamente na vida do paciente, é fundamental relatar o incômodo aos médicos para que seja feito um tratamento individualizado. As terapias indicadas, em geral, tentam amplificar ou devolver a audição ao paciente.  

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