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Não foram só lavouras: enchentes destruíram maquinários e silos no campo

Além da perda de grãos, como soja e arroz, prejuízos se estenderam ao maquinário, inviabilizando não só a colheita como também o plantio e o planejamento para as próximas safras

Da Redação

Não foram só lavouras: enchentes destruíram maquinários e silos no campo
Emater/RS

O Rio Grande do Sul é um dos estados mais importantes do agronegócio brasileiro e as enchentes que atingiram o estado deixaram um rastro de destruição no campo. O agro gaúcho tem destaque em culturas como arroz, soja, trigo, tabaco, uvas e carnes e estes serão os principais produtos impactados pelas enchentes, embora a safra de verão já estivesse quase finalizada quando as chuvas atingiram a região:  70% das lavouras de soja e 80% das lavouras de arroz já haviam sido colhidas. Mas o agronegócio ainda deve contabilizar outros prejuízos além das lavouras, como a perda de rebanhos. O Rio Grande do Sul é responsável por aproximadamente 11% e 17% da produção nacional de frango e suínos, respectivamente.

Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, o prejuízo no setor de agricultura no Rio Grande do Sul, vitimado pelas inundações, passa de R$ 1,3 bilhão. As enchentes no Rio Grande do Sul devastaram lavouras de arroz, soja, produtos hortigranjeiros e ainda, as estruturas das propriedades como armazéns, estufas, currais e granjas e ainda, máquinas agrícolas, como tratores, colheitadeiras, plantadeiras. 

A professora do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP, Giovana Ribas, explica quais foram as consequências do desastre naquele Estado. Ela afirma que “o prejuízo, principalmente nas lavouras de grãos, foi muito grande”. Giovana ainda aponta consequências estruturais e faz projeções de como as consequências do desastre serão sentidas no futuro da agricultura.

Base alimentar do brasileiro, o arroz foi um dos pontos de preocupação inicial. O Rio Grande do Sul produz cerca de 70% do grão no País, e a maior parte se concentra no sul do Estado, justamente a parte mais afetada pela enchente. Mas a especialista traz dados mais tranquilizadores nesse ponto. “A Federarroz (Associações de Arrozeiros Regionais) afirma que não vai faltar arroz para o brasileiro.” Segundo ela, 84% da área de produção do grão já havia sido colhida, então apenas 16% da produção ainda está na lavoura.

Além disso, a Federarroz afirma que vem trabalhando com iniciativas de importar arroz, principalmente do Mercosul. A intenção é garantir a oferta e evitar o aumento do preço desse produto para o consumidor final. 

O mais preocupante, para Giovana, é o cenário da soja. As expectativas para o ano eram positivas: “O Rio Grande do Sul, até então, estava como terceiro colocado em produção. Essa safra de 2024 vinha para atingir a segunda posição como maior produtor de soja”. Mas logo a perspectiva virou do avesso: ela estima que 40% a 50% da soja não havia sido colhida quando a enchente chegou.

Impactos nas futuras safras

Fora o impacto dos grãos perdidos, a água prejudicou a agricultura também de um ponto de vista estrutural. “Além da soja, se perdeu muito maquinário, e isso inviabiliza não só a colheita, mas também inviabiliza provavelmente o plantio e o planejamento desses produtores para as próximas safras”, afirma Giovana.

As consequências disso serão sentidas a longo prazo e os prejuízos são imensos, apesar de ainda ser difícil de mensurar com precisão. A agricultura familiar foi afetada, em particular devido à sua vulnerabilidade. A especialista afirma que será preciso “uma união de todos para ajudar essas famílias a se reorganizarem”, tanto para a assegurar da cadeia produtiva do País quanto para garantir o sustento delas.

Mesmo a produção que foi colhida não está completamente a salvo. A enchente chegou a atingir alguns armazéns e silos e, segundo Giovana, “se esses silos ficarem por muitas horas embaixo d’água, isso pode comprometer [os grãos], trazer problema com umidade”. Além disso, com muitos caminhos interditados, o transporte será outro empecilho. Os caminhões terão que fazer rotas alternativas e, por vezes, o acesso será complexo. Isso, para ela, é mais um fator que afetará profundamente a economia agrícola do Rio Grande do Sul nos meses que virão.

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