Os malefícios econômicos de uma sociedade preconceituosa

Todos ganham com uma sociedade inclusiva

Os Nós da Mente

Neste espaço você irá ter um conteúdo onde vamos discutir temas que têm tudo a ver com a sua angústia. O divã será o blog e o psicanalista é o grupo de autores que vão escrever os artigos que irão abordar filmes, livros, músicas e o cotidiano, mas tudo ligado à saúde mental. Você irá perceber que não está sozinho. Vamos dar as mãos para caminharmos na jornada do autoconhecimento. Isso porque esse é um blog de psicanálise para você!

Parada Gay contra o preconceito
Parada Gay contra o preconceito
Divulgação/Agência Brasil

Ricardo Zalcberg Angulo, escritor (@ricardozangulo)

O que torna um indivíduo diferente? Evidentemente, há um padrão estabelecido, uma norma, uma regra que separa os típicos dos atípicos, quem pode de quem não pode, o normal do patológico. Observa-se que, como sociedade, antes de demonstrar qualquer humanidade, o “indivíduo coletivo” está disposto a quebrar vínculos com o tido como diferente em uma espécie de negligência quanto às heterogeneidades encontradas mundo afora. Mas, resta a questão, o que há por trás dessa imaginação coletiva que é tão rápida no ato de segregar?

Quando se observa o indivíduo em seu meio, é possível identificar uma série de forças que condicionam seu comportamento. Dentre elas, há forças de distanciamento entre as pessoas, que podem ser representadas por rótulos ou preconceitos. Preconceitos que não necessariamente descrevem condutas típicas dos indivíduos rotulados, mas aglutinam fenômenos de efeitos múltiplos para se resumir um humano sob um nome. Por exemplo, não é incomum ouvir frases como: “Fulano faz isso porque é X” ou “Beltrano é Y, claramente”; isolando as condutas com uma série de nomes que satisfazem superficialmente o desejo classificatório do humano em compreender seus arredores por modelos simplificados e unidimensionais. Estes nomes, como bem se sabe, podem ir desde rótulos políticos, como um indivíduo de “direita” e de “esquerda”, ou, mesmo, na forma classificações menos dicotômicas mas igualmente maléficas à convivência, como as classificações relacionadas à saúde mental, os diagnósticos, a aparência física, a etnia, a orientação sexual, a religião, a nacionalidade, a classe social… Entende-se que essas classificações são ferramentas que permitem discernimento entre as pessoas, mas por que são tão intrínsecas e são causadoras de tanta dor? 

É necessário dar mais um passo para trás. Qual é o mecanismo do preconceito? É uma pergunta complexa, de facetas múltiplas e raízes profundas. Mas é possível pensar que os preconceitos ou classificações têm algumas características em comum que predispõe a atitude negativa em relação ao “diferente”: (i) são criações do humano e não fenômenos naturais, (ii) são imposições externas ao indivíduo e não deliberações pessoais e (iii) só fazem sentido em sociedade; melhor, só fazem sentido nessa sociedade. E, para que se perceba isso de forma clara, é necessário que seja feito um exercício simples de abstração. Imagine uma sociedade isolada, unicamente composta por indivíduos caracterizados como “diferentes”. Por exemplo, uma sociedade composta somente por pessoas com algum tipo de deformidade. Para o imaginário deles, quem seria encarado com medo e hostilidade seria o “normal” na sociedade externa. Ou seja, essa relativização importa e mostra que o preconceito supera o substrato biológico e o instinto animal — por isso há uma certa pureza na interação entre crianças. 

O argumento de se ter uma ampliação de políticas públicas que visariam equiparar as possibilidades de todos os cidadãos é o mais intuitivo e as pessoas parecem aceitá-lo. No entanto, parecem também se contentar em manter a solução no mundo da imaginação, quando se trata de uma causa meramente humanitária e equitativa. 

Por mais que seja difícil imaginar um indivíduo que não acredite que a inclusão é o mais benéfico para todos, há o argumento econômico. Uma sociedade excludente é uma que perde o potencial de cada um dos seus indivíduos, pois quando se batalha contra os ostracismos, dificilmente se tem tempo para inovação e criatividade e, portanto, maior produtividade e competitividade. 

Um contexto inclusivo expande o leque de possibilidades de todos os habitantes, bem como as opções do coletivo, por ter indivíduos mais qualificados e que esgotam suas oportunidades. O mais significativo, no entanto, é a redução dos custos: uma sociedade inclusiva não precisa lidar com milhares de processos jurídicos embasados em preconceito e, existindo mais possibilidades ao indivíduo, as tentações de seguir uma carreira criminosa também diminuem. 

Uma sociedade sem preconceitos é uma sociedade menos propensa à desconfiança e ao ódio sem fundamentos, ou com fundamentos discriminatórios. Se existe a busca pela prosperidade estabilidade, deve começar pela inclusão de indivíduos marginalizados.