Tunche: Uma linda aventura pela Amazônia peruana, mas com percalços

Desenvolvido por um estúdio peruano jogo foi lançado no inicio de novembro

Eddy Venino - Equipe BANDx

Divulgação Leap Game Studios
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Leap Game Studios

Beat’ em up é um gênero que ficou consagrado na era 16 bits, com jogos como Street of Rage, Cadillac and Dinosaur, Final Fight, entre outros. Já o roguelike é um subgênero que ganhou força nos últimos anos e muitos jogos o adotaram para manter o fator replay ou o desafio de seus games maiores. Mas será que a combinação dos dois funciona?

Tunche, jogo desenvolvido pelo estúdio peruano Leap Game Studios e financiado pelo Kickstarter, se arrisca e combina o Beat’ em up com roguelike. Mas a proposta vai além disso! Com belíssimas artes - o ponto alto do jogo - o game conta a história de um pequeno grupo de indígenas, que resolveram adentrar a Amazônia peruana atrás do Tunche, um Ser com poderes ancestrais que está atrapalhando o equilíbrio da natureza, transformando animais em monstros e causando destruição nas aldeias locais. 

Temos cinco personagens à disposição, sendo quatro deles baseados nos povos originários da América do Sul e a quinta é a Hat Kid, do jogo A Hat in Time. Cada um deles tem características próprias de combate e uma árvore de habilidades para progredir e deixar seu personagem mais forte. Além disso, existem orbes que você pode coletar em cada run que melhoram sua performance, seja te curando, dando mais velocidade ou dano. E você também pode jogar em modo cooperativo com mais três amigos, localmente - o que eu recomendo fortemente.

E como eu disse um pouco acima, a arte de Tunche é encantadora e além de quadros de diálogos entre os personagens, também podemos acompanhar a jornada de cada um deles através de cutscenes em formato de história em quadrinhos. Então, para saber a motivação de todos os personagens, você terá que jogar com cada um deles. De certa forma, isso é algo muito bom pro fator replay do jogo, principalmente dentro do gênero beat’ em up, onde dificilmente a história de cada um dos personagens é tratada individualmente e a motivação do grupo é geralmente a mesma.

Mas eu tive um pequeno problema com Tunche: o roguelike.

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Jogamos parte do game em live, assim que ele foi lançado, no dia 2 de novembro, lá no NOIZ e isso foi bom por causa da interação com o público. Ver a percepção e o comentário nos chat me fez refletir sobre certos aspectos de se lançar um jogo como uma desenvolvedora independente longe dos holofotes estadunidenses e orientais - coisa que os estúdios do Brasil sabem muito bem como é. A Lead Game Studios não teve games de grande expressão até o momento, ou pelo menos algum que trouxesse uma assinatura mais significativa deles. Com o lançamento de Tunche, pudemos enxergar um pouco mais sobre a personalidade desses desenvolvedores peruanos e sua identidade expressa no jogo. Os outros games lançados pelo estúdio não traziam nada marcante ou eram feitos para terceiros. Isso não é demérito algum, mas ver um jogo feito a partir da idealização deles, com controle total da desenvolvedora é outra história. Assim podemos pesar quais são as reais qualidades daquilo que estamos jogando. 

Outro ponto que vale ressaltar é que essa é a primeira campanha de um jogo peruano a ser financiada através do Kickstarter, que é uma grande plataforma de crowdfunding (vaquinha online).

E, ao trazer aspectos de sua própria cultura para o jogo, vemos a tentativa de exportar através do entretenimento, um pouco das crenças e conhecimentos locais. No jogo há um compêndio onde, além de guardar a história dos personagens, também fala sobre os monstros, espíritos e se aprofunda em lendas relacionadas ao Tunche. Nos diálogos entre os personagens também há citações de localidades reais da selva Amazônica, muitas vezes adaptada para esse produto de entretenimento.

E aqui eu volto ao que disse anteriormente: o roguelike foi meu maior problema com o jogo.

Isso se deve - acredito eu - a uma demanda de mercado. E aqui não estou isentando a desenvolvedora da decisão de adotar esse subgênero, eles poderiam ter ido por outros caminhos. Mas, como o roguelike está em alta, e isso dá uma vida útil maior ao game, a escolha deles parecia óbvia. Tem quem goste, tem que odeie o subgênero. Pra mim, cada jogo tem uma maneira de tratar isso que pode ou não funcionar. Não acho Tunche muito diferente de Hades, nesse quesito. Entretanto, combinado com as mecânicas e proposta de um beat’ em up, o jogo acabou me frustrando.

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Acredito que Tunche é um primeiro passo grandioso para um estúdio da América do Sul. Ter projeção no mercado mundial para jogos daqui é muito mais difícil, principalmente sem o aporte de uma grande publisher. E decisões que atendam expectativas para tentar uma inserção mais fácil nesse mercado podem gerar resultados como esse.

É um jogo a ser experienciado, com certeza. Mas se você não gosta de roguelike, provavelmente acabará abandonando a jogatina.

Tunche está disponível para PC via Steam, Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series S|X e Nintendo Switch.

[ twitter @eddyvenino ]

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