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Kiss: Família de jovem que salvou 14 pessoas luta para combater a impunidade

Julgamento da tragédia que matou 242 pessoas entra no segundo dia em Porto Alegre

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O julgamento do caso da Boate Kiss, o maior da história em número de vítimas da Justiça brasileira, chega ao segundo dia nesta quinta-feira (02) e deve contar com o depoimento de cinco sobreviventes e uma testemunha de acusação.

Em entrevista à BandNews FM, Ogier Rosado, pai de Vinicius Rosado, morto na tragédia, e Jéssica Montardo Rosado, sobrevivente que deve prestar depoimento nesta quinta, disse não ter muita esperança no julgamento, mas luta por justiça e para manter viva a memória do filho.

"Queria eu que meu filho fosse herói? Não. Eu queria hoje estar abraçando ele, mas eu não tenho dúvidas de que ele tinha uma missão nesse mundo e essa missão foi cumprida. Saudade dói, mas eu me inspiro na história dele".

Ogier também criticou a morosidade do Judiciário. O incêndio que matou 242 pessoas aconteceu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013 e ainda se arrasta nos tribunais.

"Por mais que nós tenhamos tentado ser resilientes nesse período, agora, nessa semana que o julgamento se aproximou, o coração aperta. A justiça tardia nesse país gera impunidade e, passados nove anos, ela gera essa sensação. Ela só seria eficaz se fosse rápida".

Ogier Rosado falou também sobre o legado que Vínicius deixou e relembrou a conversa que teve com a filha, ainda em frente ao local da tragédia, enquanto o resgate acontecia.

"Eu me cobrava muito por não ter achado meu filho e a Jéssica me dizia assim: 'Pai, se você encontrasse ele, duas coisas iriam acontecer. Ou ele ia te empurrar e continuar ajudando as pessoas ou vocês dois teriam entrado juntos'. Ela disse ainda que 'se o Vinicius tivesse sobrevivido à tragédia, nós teríamos o corpo dele em casa, mas a alma e o coração teriam ficado na boate', porque ele não se perdoaria de ter deixado os amigos dele lá", e completou: "Eu não teria direito de ser covarde porque o meu filho não foi".

Ogier criou uma associação para lutar contra a impunidade - a "Ah Muleke" -, instituição que também leva em frente o legado do filho com campanhas de doação de alimentos e de sangue, por exemplo.

"A partir de então, sabendo que a Justiça seria demorada, eu não quis ficar esperando. Eu prometi fazer tudo que era possível para ajudar pessoas como o Vinicius ajudou e para trabalhar a prevenção, coisa que esse país não trabalhou. Para que pais não voltassem a sentir o que nós sentimos naquela madrugada", disse Ogier.

Ogier foi entrevistado na BandNews FM pelos apresentadores Luiz Megale, Sheila Magalhães, Carla Bigatto e Maiara Bastianello, que fez a cobertura da tragédia da Boate Kiss em Santa Maria, em 2013, pela BandNews FM.

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