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MPF acusa Eletronuclear de esconder vazamento de água contaminada em Angra 1

O acidente aconteceu em setembro do ano passado, mas os órgãos de fiscalização só foram comunicados 21 dias depois

Por Pedro Dobal

Usina Angra 1, em Angra dos Reis
Usina Angra 1, em Angra dos Reis
Divulgação/Eletronuclear

A Justiça Federal deu um prazo de 30 dias para a Eletronuclear realizar uma avaliação completa dos possíveis danos causados pelo vazamento de água contaminada da usina Angra 1 no mar de Angra dos Reis, na Costa Verde Fluminense.

O acidente aconteceu em setembro do ano passado, mas os órgãos de fiscalização só foram comunicados 21 dias depois. A liminar foi concedida na quarta-feira (22) após o Ministério Público Federal ajuizar uma ação civil pública sobre o caso e acusar a empresa de tentar esconder o vazamento. Para o MPF, a Eletronuclear deve ser responsabilizada e compensar os eventuais danos causados ao meio ambiente e à saúde pública.

A decisão determina que seja feita uma análise completa da possível contaminação de água, solo e ar, além de eventuais impactos na saúde humana. A Eletronuclear também deverá prestar, em 30 dias, todas as informações necessárias sobre o vazamento.

No fim de fevereiro, a Eletronuclear foi multada pelo Ibama em R$ 2 milhões pelo descarte irregular de substância radioativa e em R$ 101 mil por não ter comunicado o acidente ambiental imediatamente. Relatórios apresentados pela empresa e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear confirmaram que o problema teria sido provocado pela corrosão do sistema de contenção de vazamentos, mas não houve dano à saúde da população no entorno da usina. O Ibama afirma que medidas adicionais podem ser adotadas para evitar que episódios semelhantes voltem a ocorrer.

Na avaliação do engenheiro Moacyr Duarte, do Grupo de Analise de Risco Tecnológico e Ambiental, não há necessidade de alarde, mas é preciso mais transparência em situações como essa. "O que fica de passivo de aprendizado e que deve ser observado com mais rigor é a questão do protocolo de comunicação do acidente. Deve ser feita imediatamente a comunicação. Essa transparência que dá tranquilidade à sociedade", explicou.

O caso começou a ser investigado pelos órgãos responsáveis após uma denúncia anônima recebida pelo Instituto Estadual do Ambiente no fim de setembro, à qual a BandNews FM teve acesso em primeira mão. Segundo o relato, a água teria entrado em contato direto com o meio ambiente, já que parte dela escorreu para ralos de águas pluviais que têm o mar como destino final.

O Inea afirma que, assim que a denúncia foi recebida, notificou o Ibama e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão responsável pelo controle e supervisão das instalações nucleares brasileiras. As inspeções realizadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear comprovaram que, durante uma operação de rotina, uma válvula de isolamento apresentou falha e cerca de 90 litros de água foram liberados para o canal de descarga da usina. Amostras foram coletadas e foi detectada radiação somente no ponto onde ocorreu a liberação. O órgão ainda notificou a empresa para que eventos dessa natureza sejam sempre prontamente reportados.

Em setembro, a BandNews FM procurou a Eletronuclear, mas a empresa disse que a denúncia não era verídica. Na época, a companhia afirmou que o problema era oriundo de água empoçada em um ralo, prontamente drenada, e que não foi necessária a notificação dos órgãos ambientais e da Prefeitura de Angra dos Reis porque o evento não se caracterizou como acidente ambiental.

Agora, a empresa admitiu que fez uma liberação não programada de um pequeno volume de água contendo substâncias radioativas, mas o caso foi tratado como incidente operacional porque os valores estavam abaixo dos limites da legislação que caracterizam a ocorrência de um acidente. A Eletronuclear afirma que intensificou a monitoração radiológica no local de despejo das águas fluviais e não encontrou nenhum resultado significativo. A empresa também ressaltou que vai recorrer da autuação emitida pelo Ibama.

A usina nuclear Angra 1 foi a primeira a entrar em operação comercial no Brasil, em 1985. Ela opera com um reator de água pressurizada e gera energia suficiente para suprir uma cidade de 1 milhão de habitantes.

Em nota, a CNEN disse notificou a operadora que eventos dessa natureza devem sempre ser “prontamente reportados à Instituição e permanece acompanhando a situação”. 

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