O Brasil teve 36% da população com risco de fome em 2021. É o pior índice desde a criação da série histórica em 2006. O estudo ''Insegurança Alimentar no Brasil'' é da FGV Social. Em 2014, quando o país saiu do Mapa da Fome, a marca era de 17% na época.
Durante a pandemia de Covid-19, o Brasil superou a média mundial de aumento de insegurança alimentar com crescimento porcentual quatro vezes maior dos outros países.
A pesquisa também aponta a desigualdade quando se trata de fome no país. Se por um lado, os 20% mais pobres registraram aumento de 22 pontos porcentuais, os 20% mais ricos tiveram queda de três pontos porcentuais.
O diretor da FGV Social, Marcelo Neri, comentou sobre a desigualdade da insegurança alimentar no Brasil e disse que o índice que já era ruim, ficou pior durante a pandemia.
“Mais do que um aumento na insegurança alimentar média foi onde ela aumentou. A desigualdade na insegurança alimentar já era uma marca brasileira, só que ela foi muito agravada. O salto entre os 20% mais pobres é de 36% em 2014 para 53% em 2019 e 75% em 2021", compara.
"Então, ¾ dos pobres brasileiros estão em situação de insegurança alimentar, enquanto a gente pega os 20% mais ricos, não só insegurança alimentar cedeu um pouco como esse nível de 7% é muito próximo dos países do mundo que têm menos insegurança alimentar. O problema foi que aumentou muito entre quem já era muito vulnerável. O que já era ruim ficou pior", lamenta Neri.
Mobilização social
Com o aumento da insegurança alimentar, cada vez mais a sociedade civil, empresas e ONGs se movimentam para diminuir os impactos da fome.
A Ação Cidadania foi fundada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza e distribuiu, entre 2017 e 2022, quase 20 mil toneladas de alimentos em todo o Brasil.
O diretor executivo da iniciativa Rodrigo Afonso comentou sobre a atuação durante a pandemia de Covid-19.
“A gente enviou mais de 15 mil toneladas de alimentos para todos os estados do Brasil, beneficiando mais de 2 milhões de pessoas. Mas também com foco muito grande nas comunidades mais isoladas. As comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas, refugiados, LGBTQIA+, que também sofreram muito durante esse período da pandemia”, aponta.
Mulheres em risco
O estudo da FGV indica que há um cenário de feminilização da fome entre 2019 e 2021. O número de homens teve queda de 1 ponto porcentual entre a população em situação de insegurança alimentar, enquanto as mulheres registraram aumento de 14 pontos no período.
Segundo a pesquisa, a justificativa seria o impacto maior da pandemia às mulheres pela responsabilidade imposta pela sociedade de cuidado com os filhos da família.
Além disso, 52% dos brasileiros com apenas ensino fundamental estiveram com insegurança alimentar em 2021. Por outro lado, 8% dos que possuem ensino superior foram afetados. A faixa etária de 30 a 49 anos foi a mais atingida.