Erika Hilton celebra eleição ao Congresso como mulher trans: 'Virar a chave'

Política de 29 anos é a primeira mulher preta e trans eleita como deputada federal por São Paulo

Da redação com BandNews TV

Erika Hilton (PSOL), de 29 anos, se tornou a primeira mulher preta e trans a ser eleita deputada federal por São Paulo. Ela recebeu mais de 256 mil votos e ficou entre os 10 deputados mais votados do estado. 

A deputada eleita faz história ao quebrar barreiras na política brasileira, mesmo tendo que lutar contra o preconceito diariamente e ameaças. 

“Eu acho que esse é um momento de virarmos uma chave. O Brasil sempre foi um país muito violento, as minorias, a população negra, as pessoas trans e travestis, a comunidade LGBTQIA+, é o primeiro país do mundo que mata essa população. Então, nós estamos em momento de resgate dessas humanidades, de construção da cidadania e escancarar as portas da democracia a partir da representação no Congresso Nacional”, diz Erika. 

Ela ainda diz que o Congresso não tem na sua composição toda a diversidade da sociedade, então não pode ser chamado de democrático. 

Para a população trans, a eleição da Erika Hilton é representativa. Segundo dados divulgados pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), a cada 10 assassinatos de pessoas trans no mundo, quatro delas ocorrem no Brasil, índice que faz com que o país ocupe o primeiro lugar no ranking dos países que mais matam travestis e transexuais no mundo, a posição é ocupada pelo país há 13 anos. Em 2021, foram registradas 125 mortes. 

Em comparação com as eleições 2018, a candidatura de pessoas trans cresceu 44% nas eleições gerais deste ano, informou a Antra. 

Erika acredita que esse é o momento de mudança do cenário em relação às mortes e a violência, de abjeção, de negação dos direitos, de construção de uma cidadania e de um sistema de sociedade que seja bom para toda a população. “A nossa luta não beneficia apenas as mulheres trans ou a comunidade LGBTQIA+. Uma sociedade sem violência e sem desigualdade é automaticamente boa para todos os indivíduos”. 

Desafios no Congresso Nacional 

Erika Hilton diz que a polarização no Congresso Nacional, sobretudo com os novos deputados eleitos, é importante e que vai tentar o diálogo com os políticos que respeitam e entendam o estado democrático de direito, mesmo que tenham pensamentos e/ou partidos diferentes. 

“Nós não conseguiremos ter uma sociedade melhor, nós não conseguiremos enfrentar os obstáculos que temos na nossa frente enquanto tiver milhares de brasileiros passando fome, revirando os lixos, comendo carcaças. É preciso enfrentar a fome e o desemprego com seriedade”, relata Erika. 

Outros pontos que Erika Hilton aborda, é criminalizar a LGBTfobia como legislação e não apenas como decisão do Supremo Tribunal Federal. Além disso, pretende levar a âmbito nacional a transcidadania e empregabilidade, além de programa de moradia.  

Quem é Erika Hilton? 

Erika Hilton ingressou na política em 2015, quando uma empresa de ônibus se recusou a imprimir uma passagem de transporte com seu nome social. Ela criou petições na internet que buscava e defendia o direito de pessoas trans escolherem seus próprios nomes. A causa ganhou repercussão e com o engajamento que obteve, conquistou o objetivo. 

Com a repercussão do caso, Erika passou a receber convites para dar palestras em universidades, já que ficou conhecida como defensora do direito trans. Mas, foi em 2016, que ela ingressou na política, filiou-se ao PSOL e no mesmo ano candidatou-se ao cargo de vereadora pela cidade de Itu, no interior de São Paulo, mas não foi eleita. 

Em 2018, Erika fez parte da bancada ativista na Assembleia Legislativa de São Paulo por meio de uma chapa coletiva, que foi eleita com quase 150 mil votos. Ela deixou a Alesp em 2020 para concorrer ao cargo de vereadora da cidade de São Paulo, foi eleita com pouco mais de 50 mil votos, tornando-se a vereadora mais votada do país e a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na câmara de São Paulo. 

O cargo na câmara dos vereadores deu visibilidade à Erika, que presidiu a Comissão Extraordinária dos Direitos Humanos e Cidadania. Com a repercussão, decidiu tentar a cadeira da Câmara dos Deputados e foi eleita. Erika Hilton se tornou a primeira mulher trans de São Paulo a ocupar o cargo de deputada federal.