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Senna já foi campeão do Carnaval com Sonic, carro empurrado e sem Galisteu

Unidos da Tijuca levou o título de 2014 com homenagem ao tricampeão de Fórmula 1

Da Redação

Réplica da McLaren de Senna no desfile da Tijuca de 2014
Réplica da McLaren de Senna no desfile da Tijuca de 2014
Fernando Maia/Riotur

Tricampeão de Fórmula 1, Ayrton Senna tem pelo menos um título fora das pistas. Mais precisamente na avenida, uma das mais famosas do Brasil: a Marquês de Sapucaí, no Carnaval, e com uma escola que coincidentemente tem duas das três cores da bandeira brasileira, que o piloto tantas vezes exibiu com orgulho, a Unidos da Tijuca.

A conquista foi em 2014, nos 20 anos da morte de Senna. Na época, a Tijuca desfrutava uma hegemonia rara na sua história, numa sequência de dois desfiles campeões e bons resultados, sempre disputando na ponta - uma trajetória semelhante à do piloto, pelo menos entre 1988 e 1994.

Por trás da ascensão da agremiação amarela e azul estava um “projetista” com fama de mago: o carnavalesco Paulo Barros. Depois de despontar na própria escola tijucana em 2004, Barros perseguia o primeiro título desde então. Os elogiados trabalhos não resultaram em conquistas, o que só aconteceu em 2010 - ano do enredo “Segredo” e da célebre comissão de frente em que componentes trocavam de roupa várias vezes na pista.

A escola anunciou o enredo sobre Senna em 2013, batizado como “Acelera, Tijuca”. Antes, a ideia circulou por outras escolas. A União da Ilha, por exemplo, recusou. Até que a Tijuca topou a homenagem.

"Sempre acompanhei a Fórmula 1 e era fã do Ayrton Senna. Já era um desejo antigo fazer essa homenagem”, declarou o presidente da Tijuca, Fernando Horta.

Coube à Tijuca fechar o Carnaval daquele ano, como a última a se apresentar na segunda-feira - na prática, quase manhã de terça. E pisou na pista como favorita.

Bolt e Corrida Maluca

Como já havia anunciado no pré-Carnaval, Barros entregou um desfile menos biográfico, mais pautado na vida profissional do piloto, no “mito, no herói”, conforme disse. “Ayrton é símbolo de heroísmo, de arrepio, emoção, paixão”, afirmou o carnavalesco.

Além disso, numa daquelas “viagens” permitidas no Carnaval, Barros relacionou a velocidade de Senna nas pistas com a de outros esportistas, animais e personagens de cinema, quadrinhos, desenho animado, video game e personalidades da vida real.

Na comissão de frente, assinada pelos premiados coreógrafos Priscilla Motta e Rodrigo Négri, os bailarinos representaram figuras famosas do imaginário infantil, como Sonic, Speed Racer, The Flash e a turma da Corrida Maluca, como Dick Vigarista e Rabugento - todos de patins. Até o recordista mundial dos 100m rasos, Usain Bolt, foi representado.

No ápice da coreografia, surgia Senna, vivido pelo piloto Alexandre Doretto, em uma réplica da McLaren. O carro, porém, não funcionou, e precisou ser empurrado em cada apresentação. Depois, na parte da dança da comissão, quem assumia o papel de Senna era o bailarino Fabrício Negri, que interagia com o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Julinho e Rute, com uma bandeira do Brasil.

Um dos carros alegóricos tinha uma pista de kart. Uma alegoria viva, marca de Barros, levou componentes se movendo como pilotos em um carro de F1. A promessa era simular uma curva - especificamente a Eau Rouge, de Spa Francorchamps, do GP de Bélgica. O resultado, porém, ficou aquém do esperado. Pelo menos para os padrões de Barros.

A bateria desfilou de macacão de mecânico. Nas alas, mais Sonics e Papa-Léguas, enquanto as baianas levaram bandeiras na fantasia tradicional. Teve também, é claro, uma ala só de Seninhas.

Galisteu vetada?

A irmã de Senna, Viviane, e o sobrinho, Bruno, também piloto, desfilaram pela escola. Uma ausência, porém, foi sentida: Adriane Galisteu. Ex-rainha de bateria da Tijuca e namorada de Senna quando o piloto morreu, a modelo não desfilou.

Ainda no lançamento do enredo, questionada se teria vetado a participação de Galisteu, Viviane desconversou: “Não convidei nem desconvidei ninguém. Não entendo nada de Carnaval. Quem pode decidir sobre isso sobre isso são o presidente e o carnavalesco”, declarou a irmã do tricampeão no lançamento do enredo.

“Não saí do Carnaval, saíram comigo, essa que é a verdade”, disse Galisteu à revista “Quem” na ocasião.

Na Quarta-Feira de Cinzas, os jurados confirmaram o favoritismo da Tijuca e deram à escola seu quarto título. Mas foi na “última volta”: a escola só assumiu a ponta da apuração no oitavo de 10 quesitos.

Logo após a conquista, Barros trocou a Tijuca pela Mocidade. E em 2015, o carnavalesco, ao rebater críticas feito por Horta ao desfile da Mocidade, publicou um post em uma rede social detonando até o casal de coreógrafos responsáveis pela comissão de frente. Tudo por causa da réplica do carro de F1.

“Por que acha que deixei a Unidos da Tijuca? Quando os coreógrafos Priscilla e Rodrigo, nas minhas costas, decidiram usar aquele Fórmula 1 (made in Paraguay) lhe avisei que o carro não iria funcionar, que teria que ser empurrado caso ele parasse”, disse na época. Já em paz, Barros voltou à Tijuca em 2020.

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