Em luto por Joca e à espera do fim do transporte de pets nos porões dos aviões

A notícia que ninguém queria dar: a lamentável história do tutor que recebeu seu Golden morto após embarcar como carga para o destino errado

Meu Amigo É o Bicho!

Juliana Finardi é jornalista e é mãe de pet. Já escreveu para o UOL e jornais impressos como Agora SP, Diário do Grande ABC e outros tantos entre reportagem e edição. Ainda acredita na humanidade, mas acha que pet é melhor que muita gente

Melhor amigo e amor da vida, Joca foi suporte emocional de João em um momento de depressão
Melhor amigo e amor da vida, Joca foi suporte emocional de João em um momento de depressão
Arquivo pessoal/Redes Sociais

Empatia é a capacidade que temos (ou não) de nos colocarmos no lugar do outro.

“Imagine o desespero do bichinho!”, diz uma amiga com quem compartilho o amor e respeito pelos animais.

Com calor, medo, enjaulado. Meu Deus! Incalculável a dor desse tutor. Digo que quase não consigo olhar o semblante de profunda tristeza do moço João Fantazzini, o tutor do Golden Joca, que com os olhos marejados e voz embargada fala indignado, chateado, enlutado pelo doguinho simpático (qual Golden não é?) que foi seu companheiro e fiel amigo durante a curta, curtíssima passagem de cinco anos pela Terra.

Você já deve saber do que estou falando, mas não custa lembrar: Joca se mudaria com João para a cidade de Sorriso, no Mato Grosso. Ao invés de chegar ao seu destino, o aeroporto de Sinop, porém, o cãozinho viajou para Fortaleza, no Ceará. Em resumo, um percurso que duraria apenas duas horas e meia virou um pesadelo de oito horas com a lamentável morte do Joca antes de chegar aos braços do tutor. Ele viajou em uma caixa de transporte no porão de uma aeronave da Gol Linhas Aéreas.

Ao voltar para a capital paulista em um voo oferecido pela companhia aérea, João esperou pela aeronave que voltava de Fortaleza com Joca. O moço, porém, recebeu o melhor amigo já sem vida, dentro da caixa de transporte.

Morte besta, totalmente evitável, uma sucessão de erros inadmissíveis, uma vida desrespeitada, um animalzinho que jamais deveria ter sido tratado como carga, humanos incompetentes, empresa irresponsável, triste fim, acontecimento trágico.

Como é que ninguém, exatamente ninguém, teve a capacidade (a empatia) de se colocar no lugar desse doguinho? Enjaulado, desesperado, sem saber onde estava nem o que havia acontecido com o tutor, seu porto seguro. Aquele calor, o medo, a situação aterrorizante!

Quem não assistiu mil vezes à imagem do funcionário oferecendo água para o Joca sem ao menos abrir aquela portinha! Quem não tira da cabeça que naquele momento a morte poderia ter sido evitada. Por que não tiraram o doguinho da caixa, por que não avisaram o tutor? Por que não deram a ele a chance de decidir sobre o cãozinho?

Simplesmente embarcaram o Joca de volta a São Paulo como uma carga, uma mala extraviada.

Consegue agora imaginar o tamanho da dor do João?

O Joca foi o suporte emocional do João durante a pandemia, quando o moço teve de lidar com uma depressão. Eram os melhores amigos, os amores da vida um do outro.

Agora, tem muita gente fina, elegante e sincera segurando a mão do João e lutando por Justiça, já que não tem como recuperar a vida do Joca. Esta colunista espera sinceramente que seja o fim do transporte de animais nos porões. Que existam voos pet friendly ou exclusivos para pets e tutores nas cabines.  

No gerenciamento da crise, a companhia aérea suspendeu temporariamente (entre 24 de abril e 23 de maio) o serviço de transporte de cães e gatos no porão das aeronaves e diz que vai usar o período para investigar o que chamou de “incidente”.

Recebi hoje um desses emails de mala direta da Gol me oferecendo um tal programa de fidelidade. Sem pensar nem meia vez, cliquei da opção ‘descadastre-se’. “É uma pena que vamos aumentar a distância entre nós”, me responde a Gol, ou mais especificamente o protocolo que eles têm para lidar com os problemas. Logo em seguida, pedem: “conte para a gente o motivo do seu descadastramento”. Tem lá seis alternativas para servirem de explicação. Cliquei na última: ‘outros’. E expliquei: “Vocês mataram o Joca!”

Espero que o João possa algum dia ter essa dor minimizada. Meus mais profundos sentimentos à família. Que o Joca siga um caminho de muita luz lá no céu dos doguinhos e que a Justiça seja feita.