Fórmula E

Brasileira questionou próprias habilidades antes de ser contratada na Fórmula E

Laís Campelo trabalha há quatro anos como engenheira de software e dados da Jaguar na F-E

Por Emanuel Colombari

O Brasil tem dois pilotos titulares na temporada 2023/2024 da Fórmula E: Lucas di Grassi, na ABT Cupra, e Sérgio Sette Câmara, na ERT. Mas a dupla divide a atenção do público do país no fim de semana do E-Prix de São Paulo com uma outra representante local.

Laís Campelo é natural de Salvador e mora no exterior desde a juventude. Formada em física, logo passou a procurar empregos no meio automotivo. Há quatro anos, entrou na Jaguar como engenheira de software e dados da equipe da Fórmula E.

“Eu saí do Brasil em 2007, tinha uns 12 anos de idade, e aí fui estudar no exterior – minha mãe conseguiu uma vaga de estudo na Nova Zelândia, depois um emprego no Reino Unido, e eu fui atrás. Era pequena, né? Fiz meus estudos por lá, fiz a Universidade de Manchester, estudei física. De lá, eu meio que só entendi que gostava de ciência e tecnologia, e queria procurar um emprego nessa área. Aí eu encontrei que a JLR (Jaguar Land Rover) tinha várias vagas para graduados e eu me candidatei”, contou Laís ao Band.com.br.

Depois de uma primeira vaga na área de pesquisa da JLR e de “vários miniestágios dentro da empresa”, a engenheira aproveitou o desenvolvimento das habilidades técnicas para se candidatar uma vaga dentro da equipe da Fórmula E. Mas admite que a insegurança veio forte antes da contratação.

“Estava meio que numa posição ótima para me candidatar para a Jaguar TCS Racing. Aí surgiu uma vaga também, uma maravilha. Apareceu, e é claro que eu não vou perder essa oportunidade. Estava até com medo se eu tinha habilidade suficiente, se eu sabia tudo... Mas é melhor tentar do que não tentar, né? Aí consegui”, explicou. “Já tenho um tempinho (na Fórmula E). Vi os carros mudarem, da segunda geração até a terceira geração, foi um desafio grande.”

Na função atual, Laís trabalha como uma ponte entre os dados coletados pelos pilotos nas pistas e o trabalho dos engenheiros. O objetivo é facilitar esse fluxo de informações, de forma a torna-lo mais automático e ágil.

“Agora meu dia a dia é conversando com os engenheiros, perguntando o que eu posso fazer em termos de programa de software, o que vai facilitar a vida deles aqui, entender o que está acontecendo com o carro. Eles sabem o que eles querem do carro em termos de análise, aí eu só vou facilitar, para que fique automática essa informação para eles, só para facilitar a vida deles”, explicou.

“Para você conseguir melhorar o carro, você vai ter o feedback do piloto. O piloto vai dizer ‘nessa curva está difícil de virar’, ou ‘está virando demais’. Aí o engenheiro vai ter que olhar todos os dados e entender exatamente o que é que está acontecendo com o carro para conseguir fazer uma mudança. Então tem esse lado de como é que a gente vai mudar o carro, para que o carro fique melhor para o piloto, para ele ter mais confiança no carro quando ele vai virar.”

Para o E-Prix de São Paulo de 2024, os engenheiros da Jaguar terão algumas questões sobre as quais trabalhar. Uma delas é o calor previsto para o fim de semana – que, segundo Laís, não chega a ser uma novidade diante de outras etapas. A outra é o traçado, caracterizado por três longas retas e curvas de baixa e média velocidades.

“Os engenheiros vão lá analisar todos os dados, vão olhar o que aconteceu na temporada passada. É claro que não vai ser igual. Está quente, no ano passado também estava quente, mas todos os nossos competidores também já avançaram bastante, e a gente também já aprendeu bastante, já avançou bastante. Não tenha dúvida de que a equipe toda vai se preparando do mesmo jeito que em qualquer outra etapa, fazendo tudo o que pode fazer para entender bastante o carro, entender o que vai funcionar nessa pista”, explicou Laís. 

“Você vê que são várias retas, vai ser uma velocidade superalta, e aí as curvas são um pouco devagar. Tem um freio muito grande, e o piloto tem que ter essa confiança de que o carro vai virar. E também outro desafio dessa pista é que a gente está no Sambódromo, e eu nem sei o que é o piso do Sambódromo, mas é alguma coisa que não é rua normal. Os carros vão passar por aí, depois vão para uma pista normal, e tem essa diferença de grip, de nível de aderência, que faz uma grande diferença para os pilotos”, concluiu.

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