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Bob Burnquist revela que temeu pelo skate na Olimpíada e exalta Mega Rampa na Band

Ícone mundial skate diz que sentiu orgulho após a Olimpíada de Tóquio

Rodrigo Lima

Bob Burnquist
Bob Burnquist
Divulgação

Visto como rebelde, o skate virou esporte olímpico e surpreendeu a todos que não o acompanham pelo seu espírito. Bob Burnquist, ícone mundial do skate e referência pela Mega Rampa, revelou que o skate é uma grande família e que temia que a Olimpíada acabasse com isso.

“A minha preocupação maior era que isso não mudasse no skate. Minha carreira inteira eu disputei campeonatos e sempre foi assim, a gente torce um para o outro, a gente curte, é muito próximo. Ai eu estava com medo de chegar na Olimpíada e isso mudar”, disse Bob em entrevista exclusiva ao Band.com.br.

“Ainda bem, não foi isso que aconteceu. A gente mostrou a imagem real do skate, dessa união e dessa energia boa”, vibrou. “A Olimpíada deixou claro que o skate é diferente”, completou.

A Band vai exibir a Mega Rampa no dia 10 de outubro, dia do aniversário de Bob Burnquist, e o skatista destacou que quem vai receber o presente são os fãs do esporte. 

Além da Mega Rampa, a Band também exibe aos domingos, dentro do Show do Esporte, a série “Skate Overall”, idealizada e apresentada por Bob Burnquist, para mostrar a cultura do skate para novos praticantes do esporte.

Confira a entrevista completa abaixo:

Como foi ver o crescimento do skate após a Olimpíada de Tóquio e a recepção do público?

O skate já era popular, já tinha um acompanhamento pelas grandes emissoras, tinha uma identidade, uma exposição, um corpo.

O que aconteceu com a Olimpíada é que, dividindo com os outros esportes, a gente criou uma grande família e nessa família enxergaram o irmão skate de uma maneira diferente.

Por mais que as competições estejam na televisão, às vezes, um evento olímpico, que é um evento enorme, traz a atenção das pessoas que estão ali para ver seu esporte favorito e acaba vendo o skate, acaba introduzindo aquela pessoa que não tem acesso ou que normalmente não procuraria pelo skate. 

Aí, quando você vê um evento com uma Rayssa, que tem 13, 14 anos, inicialmente você pode pensar 'nossa, mas são tão novos' e vendo a competição fala 'gente, estão se divertindo, dançando'. Você vê que não tem pressão nenhuma ali, a pressão é andar de skate como eles andariam todo dia e em qualquer lugar.

E os skatistas mais consagrados, essa galera que a gente viu, de uma maneira geral, foi um skate solidário, unido. Acho que isso fez com que crescesse e o meu orgulho está mais nisso.

O que o skate acrescentou para a Olimpíada?

Olimpíada é uma atividade antiga e, se não se reinventar, morre. Na nova geração, adicionar skate, surf, atividades diferentes, é justamente para não perder.

Não é só pelo skate, é constantemente olhar e construir as atividades que o ser humano evoluiu. Lá no começo, na Grécia antiga, não tinha skate, não existia.

Então, acho que é uma questão de reinvenção, mostrar novos caminhos e trazer uma nova geração e uma audiência nova, para não perder a galera para outros eventos.

O skate recuperou o espírito olímpico?

A Olimpíada deixou claro que o skate é diferente. A preocupação maior era de que continuasse esse legado e continuou.

As pessoas viram uma união entre os países, que estamos precisando muito nesse mundo, e o espírito do skate lembrou o espírito olímpico, o skate sempre foi assim.

A gente fala muito do espírito olímpico, mas quando se vê as outras modalidades, os atletas não se falam, não se olham, todo mundo sério, é um negócio sério e eu acho que é possível ganhar a medalha, competir, sendo feliz, sendo parceiro do seu competidor e foi isso que o skate mostrou.

A mega-rampa pode chegar a fazer parte das Olimpíadas?

A mega-rampa tem uma particularidade, ela é muito específica e muito elite. São poucas pessoas que fazem no mundo e não tem mulher que anda, é raro, tem uma ou outra que está começando.

Para virar uma atividade olímpica, acredito que precisa ter o feminino e precisa ter mais mega-rampas pelo mundo, que no caso tem a minha no meu quintal e as dos eventos. 

Antes de entrar uma mega-rampa, acredito que tenha a possibilidade do vert. O vert é uma modalidade que eu acho interessantíssima para as Olimpíadas. Não acredito que entre em Paris, mas eu acredito em uma movimentação para adicionar outras modalidades. O skate não é apenas park ou street. 

A mega-rampa está mais para frente, um pouco, mas não deixa de ser um grande evento e aí vai depender da Olimpíada. Mas vejo o vert mais próximo de adicionar como modalidade olímpica.

Como é ter a Mega Rampa transmitida pela Band?

Eu acho legal a gente poder mostrar mais uma vez, na maneira Band de ser, de uma maneira diferente, e mostrar esse skate poderoso que é a mega-rampa.

Mega-rampa é um skate de alto risco, com potência, explosão, velocidade e técnica. A mega-rampa mistura as modalidades. Tem corrimão, tem step-up, tem rip, tem uma mistura total e quem assistir vai ver que é uma edição multitalento, é uma edição overall de skate.

É um desafio overall da mega-rampa e que vai ser bem legal nesta data, especificamente. Vai ser na data do meu aniversário.

Colocar a mega no dia do meu aniversário é um presente. Sou eu quem faz aniversário, só que o presente é para o Brasil, que vai acompanhar esse grande evento.

É um campeonato diferenciado, é diferente de todos os eventos de mega-rampa que tem no mundo. Inclusive, bem diferente do que tem nos X-Games, desde formato, desenho de rampa até a qualidade técnica. 

A Band também está transmitindo aos domingos, dentro do Show do Esporte, série “Skate Overall”, que foi uma ideia sua. De onde surgiu essa ideia de fazer a série?

Eu sabia que ia ter muita gente nova após a Olimpíada. Tivemos um boom pós-olímpico. Na semana após a Olimpíada, cresceu em 30% as vendas de skate. Então, 30% do que era, é um grande engajamento e um monte de skatistas novos.

Ai eu senti que precisava de algo para poder injetar a cultura. Algo como 'legal, vocês chegaram pela Olimpíada e agora vocês começaram a andar de skate. Vamos explicar aqui o que é o skate e quais as modalidades'.

Foi uma forma de a gente poder trazer uma informação diferente para quem acabou de entrar no skate, poder entender outros aspectos, outras áreas.

Eu quis mostrar os diferentes aspectos, as visões diferentes do skate conversando com skatistas, fazendo visitas, mostrando pistas diferentes, propostas diferentes, ideias diferentes daquela que a gente viu na Olimpíada e mostrando um pouco mais.

A ideia surgiu para mostrar o skate de uma maneira geral, para o público que está chegando agora.

Em entrevista para a Rádio Bandeirantes, Kelvin Hoefler disse que treinou nos Estados Unidos por falta de pistas e estrutura no Brasil, concorda com ele?

Eu não sei se eu concordo com o Kelvin. Acho que quando eu comecei a andar de skate, eu poderia falar isso.

A gente começou lá atrás e tinha uma pista aqui e outra ali. Hoje, são diversas pistas com boa qualidade. A galera está aí e cada vez mais expandindo, inaugurando pista sem parar e com qualidade.

De repente, o que ele quis dizer, é sobre uma pista privada e ele não tem essa pista aqui no Brasil e ele tem nos Estados Unidos. 

Não é que ele foi porque ele precisava ir para lá. Se ele quisesse ficar aqui e andar, ele andaria. Mas, de repente, ele estaria fora do círculo da rotina dele, indo para um outro estado, um outro lugar. Mas a gente está muito bem de pista, crescendo cada vez mais.

O Brasil ainda tem como melhorar e ter estruturas como nos Estados Unidos?

Óbvio que tem sempre como melhorar. Mas a gente está em um momento de skate que tem pista pra caramba.

Mas tem uma coisa que é importante. Agora, com o interesse alto no skate, vamos acabar vendo construções de pista horríveis, dinheiro público jogado fora e temos que prestar atenção.

Eu me orgulho de fazer parte disso, de poder ter ajudado a construir isso. Agora eu quero ver essa galera que está aproveitando e utilizando essa estrutura toda, pegar e ajudar, ser parceiro, estar junto. Tentar, de alguma maneira, somar e não apontar o dedo apenas. Apontar o dedo é fácil.

Estamos vivendo um momento de transição, de crescimento e maturidade. Desde o skatistas, ao skate institucional, ao mercado. Temos que nos unir como uma grande família e solucionar essas coisas todas.

O skate cresceu, e muito, também como negócio. Como você enxerga isso?

O skate é um grande negócio a muito tempo. Mas, hoje, tem um interesse maior. Você começa a ter cada vez mais e mais grandes patrocinadores e patrocinadores que não são do meio do skate, que acho que esse é o grande lance.

Muitos skatistas de ponta são patrocinados por marcas que não são do skate. Então, isso vem quando o skate cresce e isso acontece há alguns anos, desde 99 e 2000, no Brasil.

E hoje, com a Olimpíada, isso toma uma forma. Primeiro, porque o skate institucional começa a ter recurso para poder fazer, montar essa seleção brasileira, criar produtos, ajudar a defender o skate.

Esse investimento já vinha acontecendo e só tem a crescer. Isso tem sido nítido, nós temos visto o interesse das grandes marcas no pós-olímpico com a publicidade com os skatistas que competiram na Olimpíada.

O skate já foi proibido em muitas cidades no Brasil e agora é um esporte olímpico, qual a sensação de ver essa mudança?

O skate proibido é legal também, até porque ele ainda existe. Se eu pular uma cerca para andar em uma piscina que está vazia do vizinho, isso aí não é legal, é proibido. Não é legal no sentido, é ilegal. Porque legal é. 

Como a galera pular no meu quintal para andar nas minhas rampas quando eu não estou lá e eu não tenho nem que ficar bravo, porque eu fazia a mesma coisa e faço ainda.

Ou então, se a Rayssa ou a galera quiser andar em um corrimão na rua ou em um lugar que é proibido, não foi feito para andar ali. Tem pistas, lógico, mas por isso que eu digo que o skate nunca vai perder essa rebeldia, porque o skate acontece na rua. O skate é arte, o skate é cultura, o skate é rua. 

Você ainda vai ver muitos correndo da polícia, medalhistas olímpicos correndo na rua

Então, quando você vai andar em uma guia, em um corrimão, em um lugar que você está vendo e enxergando como um lugar para andar, aquilo ainda é proibido. E você ainda vai ver muitos correndo da polícia, medalhistas olímpicos correndo na rua, porque o skate  tem essa identidade. 

O skate te aceita de qualquer maneira que você quiser e ele supre, independente de você ganhar medalha em campeonato ou não. É legal saber que ainda podemos existir todos juntos. O olímpico e o não olímpico, o prédio, onde for. Quem tem dinheiro, quem não tem e isso é legal no skate.

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