Zamora mandou o Brasil de volta e parou o time de Mussolini na Copa de 1934

Espanhol foi responsável pela eliminação precoce da Seleção e fechou o gol contra a Itália, levando a disputa para um jogo extra

Paulo Guilherme Guri

A Copa do Mundo de 1934 foi sediada na Itália, organizada pela Itália e planejada para ser a consagração do fascismo de Benito Mussolini aos olhos do mundo. O ditador italiano fez os dirigentes montar o melhor time do mundo caçando jogadores de origem italiana ao redor do mundo. A Itália pegou quatro argentinos, Attilio Demaria, Enrico Guaita, Luis Monti e Raimundo Orsi; um francês, Felipe Borel, um croata, Mario Varglien, e até um brasileiro, Anphilóquio Guarisi, o Filó. Perder a Copa não era uma opção.

Aquela Copa já começava nas oitavas-de-final com mata-mata. A Itália mostrou toda a sua força na estreia goleando os Estados Unidos por 7 a 1. A Espanha pegou o Brasil na estreia e venceu por 3 a 1 com uma atuação impecável do seu goleiro Ricardo Zamora.

Para o Brasil, o mundial de 1934 foi a “Copa de um jogo só”. Também pudera, pensa em uma preparação toda errada: dirigentes brigando pelo poder, uma briga entre paulistas e cariocas que deixou vários craques de São Paulo de fora, jogadores viajando escondidos, uma jornada cansativa de 12 dias de navio até a Europa e, pasmem, nenhum amistoso preparatório.

O navio Conte Biancamano, que partiu do Rio de Janeiro, parou em Barcelona e pegou os jogadores da Espanha, que foram juntos com os brasileiros até Gênova, na Itália. Os times confraternizaram, bateram bola no convés, e quando o Brasil foi treinar, Zamora pegou sua boina e foi assistir o meia Waldermar de Brito treinando cobranças de pênalti no goleiro brasileiro Roberto Gomes Pedrosa.

Pedrosa viria a ser um grande dirigente do nosso futebol, mas como goleiro do Botafogo, em 1934, era muito juvenil. Tinha 19 anos e foi facilmente batido pelos espanhois logo no primeiro tempo do jogo. A Espanha fez 3 a 0 no primeiro tempo. O Brasil conseguiu melhorar no segundo tempo. Leônidas da Silva fez um gol, Armandinho teve um gol anulado e ainda a Seleção teve um pênalti a seu favor. 

Waldermar de Brito cobrou do mesmo jeito que treinou e Zamora, que tinha visto tudo no treino, pulou no canto certo.

Paredão espanhol

Itália e Espanha foram para as quartas de final e o espanhol virou um gigante em campo. A Espanha saiu na frente com um gol de Corso e Zamora só foi batido porque o italiano Giuseppe Meazza obstruiu sua passagem na tentativa de deter a bola, e o atacante Ferrari marcou o gol que decretou o empate por 1 a 1. Zamora se machucou no lance. O jogo terminou empatado e foi para a prorrogação.

Até os torcedores italianos presentes naquele jogo, em Florença, ficaram assombrados com uma defesa que o goleiro espanhol praticou já no tempo extra. O lance começou com um chute do italiano Schiavo no canto esquerdo. Zamora se esticou e, quando a bola já estava prestes a entrar, conseguiu detê-la com o punho. Guaita chegou para aproveitar o rebote e o espanhol saltou em direção ao atacante para abafar o tiro. 

A bola dividida acabou subindo. Foi quando surgiu Giuseppe Meazza, de olhos abertos, pronto para marcar o gol da vitória italiana. Mas Zamora não estava batido: “O Meazza cabeceou para o arco e até hoje não sei dizer como eu, caído como estava, achei jeito e força para subir ao espaço, como se estivesse acionado por molas invisíveis, e colocar, com as pontas dos dedos, a pelota por sobre o travessão”, declarou Zamora em entrevista anos mais tarde.

Como não tinha disputa por pênaltis naquela época, foi marcada uma nova partida no dia seguinte. O joelho de Zamora estava do tamanho de uma bola e ele não pôde atuar. O reserva Juan Nogues foi a campo e novamente os italianos usaram de artimanhas para atrapalhar ele de defender as bolas. A Itália venceu por 1 a 0 e seguiu seu caminho rumo ao título.

Zamora foi considerado o melhor goleiro da Copa. O primeiro grande goleiro de um Mundial. E, até hoje, é referência para a posição. Ele dá o nome ao Troféu Zamora, criado pelo jornal espanhol “Marca” e entregue ao melhor goleiro do Campeonato Espanhol até hoje.

A viagem furada da Seleção

E o Brasil, depois do fiasco de jogar só uma partida na Copa do Mundo, teve de fazer vários amistosos na Europa para não perder a viagem. Depois de perder para a Espanha, o time foi para a Iugoslávia e perdeu de 8 a 4 um amistoso contra a seleção local. Empatou por 0 a 0 com o Gradjanski, de Zagreb. Foi para a Espanha e jogou duas vezes contra a seleção da Catalunha (derrota por 2 a 1 e empate por 2 a 2), empatou com o Barcelona (4 a 4), e, em Portugal, venceu o Benfica (4 a 2), Sporting (6 a 1) e empatou com o Porto (0 a 0).

Copa do Mundo de 1934

  • Período: 27 de maio a 10 de junho de 1934
  • País-sede: Itália
  • Campeão: Itália
  • Vice-campeão: Checoslováquia
  • 3º lugar: Alemanha
  • 4º lugar: Áustria
  • Artilheiro: Nejedly (Checoslováquia), 5 gols
  • Participação do Brasil: eliminado na primeira fase após perder para a Espanha por 3 a 1. O time era Pedrosa; Sylvio Hoffman e Luiz Luz; Tinoco, Martim e Canalli; Luizinho, Waldemar de Britto, Armandinho, Leônidas e Patesko. O técnico era Luiz Vinhaes.
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Final: Itália 2 x 1 Checoslováquia

  • Gols: Puc (CHE) aos 31 e Orsi (ITA) aos 36 minutos do 2º tempo; Schiavo (ITA) aos 5 minutos do 1º tempo da prorrogação.
  • Itália: Combi; Monzeglio, Allemandi; Ferraris 4º, Monti, Bertolini; Guaita, Meazza, Schiavio, Ferrari, Orsi. Técnico: Vittorio Pozzo
  • Checoslováquia: Planicka; Zenisek, Ctyroky; Kostalek, Cambal, Krcil; Junek, Svoboda, Sobotka, Nejedly, Puc. Técnico : Karel Petru
  • Árbitro: Ivan Eklind (SUE)
  • Público: 50.000 pessoas
  • Local: Estádio Nazionale PNF, em Roma

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