Nas passadas rápidas e nem sempre tão notadas, o paulistano Danilo das Neves Pinheiro, nascido em Guaianases, zona leste da cidade, foi construindo sua trajetória no futebol.
Tchê Tchê era um entre tantos meninos que sonhavam em jogar profissionalmente nos grandes clubes do país.
O "motorzinho" nas pernas o fez conseguir. Operário futebolístico por auto definição, nunca ligou para a fama. Em 2016, porém, tornou famoso o Tchê Tchê, ao eliminar o Corinthians na semifinal do Paulista e se tornar vice-campeão estadual pelo Audax.
Daí pra frente, o "carregador de piano" viu na obra de sua silenciosa música em campo, o reflexo das conquistas. Com destaque, conquistaria o título brasileiro de 2016 pelo Palmeiras - feito que repetiria em 2021 pelo Atlético-MG - e cairia nas graças da torcida.
Europa não é sinônimo de felicidade para todos os jogadores
Do sonho de se tornar um vencedor à concretização de estar no futebol europeu. Vendido ao Dínamo de Kiev, da Ucrânia, viu que nem sempre estar no velho continente é sinônimo de realização.
O frio, uma lesão e a distância de amigos e familiares minaram o estado psicológico de Danilo. E o Tchê Tchê, mais do que ninguém, precisava dele.
Em 2019, voltou ao São Paulo e percebeu que as coisas haviam saído do controle.
Começou com uma dor de estômago. Uma gastrite nervosa. Na sequência uma tristeza esquisita, meio fora de hora e lugar. Eu me sentia pra baixo, mas, como não tinha motivo, deixava pra lá achando que logo ia melhorar, revelou em entrevista ao The Players Tribune, especializado em relatos de atletas.
Reservado, Tchê Tchê resolveu guardar para si a dificuldade de explicar a falta de vontade de fazer o que tanto sonhou, o que mais amava.
O sofá e o colchão me sugavam como se fossem areia movediça. Eu só afundava e chorava, revelou o atleta na mesma entrevista.
A importância do relato do Tchê Tchê é um alento social para uma doença que atinge mais de 5% da população brasileira, segundo a Organização Mundial de Saúde. E que está inerente ao ser humano, independente de cifras milionárias, fama, sucesso profissional, e todo o universo do futebol.
Na dificuldade, o Danilo talvez tenha feito sua jogada mais magistral na vida. O Tchê Tchê, que hoje é feliz novamente dentro de campo, só existe porque o ser humano venceu a si mesmo.
Saúde mental é mais importante
Hoje, aos 30 anos, no Botafogo-RJ, é parte da espinha dorsal do técnico Luís Castro. Encontra a cada escolha no jogo o que aprendeu a buscar na vida. Mais do que os resultados em campo, Tchê Tchê será pra sempre a história de um heroi de si próprio, humano e vencedor como ele só.
Me importo em sair feliz, meu filho contente depois que ligo pra ele. Encontrei minha felicidade plena aqui no Botafogo, estou muito contente no Rio, revelou Tchê Tchê ao BandSports, após a vitória do Botafogo diante do Resende, no último domingo.
Importante: se você se identifica com os relatos ou conhece alguém que sofre de depressão, ligue para o Centro de Valorização da Vida. O número é 188. O serviço é gratuito e promove apoio emocional de forma voluntária, sob sigilo.