Já imaginou narrar uma partida de futebol ou uma luta no judô completamente às cegas? O jornalista, locutor e comentarista esportivo Álvaro José, o "Senhor Olimpíada", teve a experiência, e contou ao Conexão Paris de quando narrou uma luta do campeão olímpico Rogério Sampaio. Na ocasião, o judoca enfrentou o português Joaquim de Almeida, no trajeto até o ouro em Barcelona em 1992, na categoria meio-leve (até 65 kg). 

Álvaro contou que na época se utilizavam as réguas de transmissão para as narrações remotas das emissoras. Do Estádio Olímpico de Montjuïc, o narrador, que estava cobrindo provas do atletismo, conseguiu acessar a outras competições no momento, exceto a luta do brasileiro. No visor, ele só possuía as imagens do tatame A, enquanto que Rogério lutaria no tatame B. 

"Não tem nada disso, quem vai lutar é um alemão e um francês. Aqui não tem o tatame B. Eu vou ter que fazer sem ver a luta?", relembrou ele. A partir daí, o narrador confiou na ajuda do árbitro brasileiro, Rogério Carneireiro, que estava na quadra, na hora da luta do judoca, e guiou Álvaro a partir de descrições do que acontecia no tatame. 

Ele teve que tapar os olhos, para não ser interferido pelas provas do atletismo que aconteciam simultaneamente no local em que estava, e passou a imaginar o embate. "Ele no meu ouvido: estão testando a pegada. E eu falava: aí, você repara na força da pegada de Rogério, o brasileiro está melhor!" 

Ele conta que, ao final, Rogério levou a melhor, e que gritou quando o brasileiro venceu aquela que seria a primeira luta da trajetória dele nos Jogos Olímpicos até o ouro. Até terem o sinal, Álvaro ainda teve que narrar uma segunda luta de Rogério às cegas, desta vez contra o sul-coreano Sang-Moon Kim. Com apenas algumas dessincronias entre imagem e a fala, Álvaro conseguiu entregar a narração.