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Os óvnis que marcaram o interior de SP nos anos 1960 (e até Amaury Jr. viu)

Relato de colunista ganhou destaque em primeira página em jornal; caso foi filmado, mas vídeo se perdeu

Por Emanuel Colombari Emanuele Braga

Ao longo do primeiro semestre de 1969, os jornais de São José do Rio Preto documentaram pelo menos três aparições de objetos voadores não-identificados na cidade e em municípios próximos.

O primeiro registro foi publicado pelo Diário da Região em 29 de janeiro daquele ano, embora o caso tenha acontecido em dezembro de 1968. Na ocasião, os lavradores Diogo Lopes e Francisco Segura passeavam por Ponta Linda (então distrito da cidade de Jales, emancipado em 1991), quando avistaram “um estranho objeto de forma cilíndrica, muito semelhante aos chamados discos voadores”. A dupla relatou ter visto os ocupantes do objeto, descritos como homens comuns, de 1,50m de altura, que vestiam roupas brancas e tinham as cabeças descobertas.

O último caso foi publicado em 12 de junho, também pelo Diário da Região, e cita um episódio acontecido dois dias antes. Testemunhas afirmaram terem visto “um objeto voador”, do qual “emanavam luzes de grande intensidade, nas cores azul e alaranjada”.

“Era do tamanho de um avião, desses pequenos, e depois de sobrevoar a cidade, fazendo evoluções, parou, de repente a uma altura de mais do menos 300 metros. E, subitamente, desenvolvendo uma velocidade incrível, sumiu”, descreveu o jornal, que afirmou ter recebido cerca de 50 telefonemas de pessoas que alegaram terem visto a cena – entre eles, um funcionário do gabinete do então prefeito de São José do Rio Preto, Adail Vettorazzo.

Entre os dois incidentes, um registro chama especial atenção. No fim da tarde de 31 de maio, “estranhos objetos voadores, emitindo luz forte, cor alaranjada” foram vistos novamente no céu de São José do Rio Preto. “Não era estrela, satélite, avião. Só podia ser esses objetos que eles chamam de discos voadores”, afirmou um funcionário de um estacionamento, que não teve o nome divulgado, em entrevista ao Diário da Região do dia 1º de junho.

A publicação ainda registrou o testemunho do jornalista Amaury Júnior, então colunista social do próprio jornal. Naquele dia, Amaury estava no estacionamento para buscar seu carro, um Willys Interlagos, quando também viu as misteriosas luzes no céu. E, com uma câmera que estava dentro do automóvel, conseguiu filmar o que viu.

O filme perdido de Amaury Júnior

Passadas algumas décadas daquele fim de tarde, Amaury Júnior ainda se lembra do que viu no estacionamento da Casa de Chá Luar de Agosto. E conta como, na hora, decidiu filmar as luzes - uma iniciativa rara, já que as câmeras de vídeo eram raras à época na cidade.

“Eram pontos bem maiores do que uma estrela - não dava para confundir com uma estrela. Eram pontos luminosos, bem visíveis, circunferências. Duas ou três que andavam quase que em paralelo, depois elas se dispersaram, depois elas se juntaram. Foi uma coisa de cinco minutos que durou essa visibilidade, o suficiente para eu correr no meu carro, que minha câmera estava lá e fiquei tentando acompanhar até desaparecerem”, descreve o jornalista ao Band.com.br.

“Não sei se era disco voador, mas eram objetos estranhos que apareceram no ar. Não fui só eu quem viu, a cidade inteira viu. Eu estava em um lugar que era o ponto de encontro do pessoal em Rio Preto, a Casa de Chá Luar de Agosto (...), e eu tinha uma câmera 8mm que eu sempre mantinha no meu carro. Eu fiquei aficionado quando saiu essa história de filmes em 8mm. Quando eu vi aquilo, todo mundo vendo, eu gravei, eu filmei esses objetos todos - que depois apareceram nos arredores de Rio Preto, todo mundo viu, e foi notícia no jornal”, conta também.

Mas se você imagina que aquela gravação resistiu ao tempo, é bom não se animar. Na verdade, a (falta de) tecnologia na época impediu que a filmagem de Amaury Júnior fosse preservada.

“Nessa época, você tinha que pegar o filme que você filmava e mandar pra São Paulo. Demorava um mês para voltar. O filme era revelado em São Paulo. Como era uma notícia regional, não houve um interesse de mais ninguém, e eu mandei para São Paulo. O filme demorou dois meses para voltar, e quando voltou, já estava todo passado, esmaecido. Eu botei no projetor e não dava para ver mais nada. Por mais que eu falasse, ninguém ia dar credibilidade”, afirma o colunista.

Na época, o assunto tinha grande repercussão na região, e outras cidades também tinham relatos do tipo. Em pouco tempo, porém, os relatos perderam força e caíram no esquecimento.

“Como eu tinha uma coluna diária, e a gente tinha sempre que mudar de assuntos, nem na minha coluna eu acabei abordando isso. O público da região foi o que fez (repercutir). Todo mundo na cidade acabou vendo aqueles pontos luminosos. Nas cidades por perto, como Tanabi, Mirassol, Fernandópolis e Jales, todos viram. Os objetos cobriram aquela região inteira. Pode ter sido uma ilusão de ótica, pode ter sido qualquer energia que a gente não conheça, ou pode ter sido o que a gente gostaria que fosse: um objeto voador identificado, como sendo um objeto de outro planeta. Todo mundo quer ter o privilégio de ter visto algo real”, relata Amaury.

“Na época, teve uma repercussão forte, haja vista que foi primeira página do Diário da Região, que sempre foi o principal jornal da cidade. Teve aquela repercussão. Mas nada que em dois meses não passasse ao esquecimento, como tudo acontece no Brasil.”

O próprio Amaury Júnior pouco tocou no assunto desde então. Em uma rara exceção, gravou um programa com depoimentos de personalidades que, assim como ele, afirmam terem vivenciado experiências de diferentes tipos com objetos voadores não-identificados. Entre eles, Maurício de Sousa, Fábio Júnior, Frei Betto e Daniela Albuquerque, acima de qualquer suspeita.

“O Maurício não vai precisar de um subterfúgio de falar que quase foi abduzido para chamar a atenção da mídia”, alegou.

Vários registros, mas poucas informações

Os três casos descritos ali pelo jornal foram apenas um recorte de uma lista maior de fenômenos registrados na época em todo o interior de São Paulo. Segundo o ufólogo Edison Boaventura, outros episódios foram descritos em várias outras cidades do estado.

“Naquela época, ocorreu uma onda de aparições muito grande, principalmente no interior de São Paulo. Tanto é que a Aeronáutica, por conta dessa quantidade grande de aparições, resolveu criar um órgão para investigar. Isso começou com um caso de Bauru. Foi o primeiro caso que a Aeronáutica investigou em 1968. Depois, tiveram vários casos”, contou.

“Toda essa região aí foi assolada por vários objetos que apareciam, por vezes pousavam deixando marcas. Também em alguns casos foram observados tripulantes. Nesse caso de Jales aí de 1968, conta até que os lavradores foram no local no dia seguinte e observaram uma depressão de meio metro. Era um local, assim, meio que afundado, onde o objeto pousou e as árvores em volta estavam chamuscadas”, descreveu.

Entre os registros do período, os casos aos quais Boaventura teve mais acesso aconteceram em Jales, cidade a cerca de 150 km de São José do Rio Preto. Em um primeiro incidente, um objeto redondo com aparatos semelhantes a hélices foi avistado nos arredores de uma rodovia. Uma testemunha descreveu o que viu à Aeronáutica, que reproduziu o óvni em um desenho.

Em outra ocasião, um objeto luminoso com um passou sobre uma casa, desceu até perto do chão, a cerca de 800 metros do endereço. Em determinado momento, o óvni de “miolo verde” e borda azul soltou um facho de luz avermelhada, que se apagou para dar início a uma sequência de outras luzes redondas. As testemunhas estavam no Esporte Clube dos Bancários de Jales.

Relatórios da época apontam ainda para incidentes registrados em cidades como Presidente Prudente, Araraquara, Olímpia, Catanduva, Pirassununga e Ibiúna, entre outras, mas nem sempre os detalhes se tornam públicos. Ainda que várias testemunhas tenham identificado fenômenos e que diversos materiais tenham sido recolhidos, as informações são escassas.

“As coisas da Aeronáutica, quando tem algum tipo de evidência, geralmente eles classificam como secreto ou ultrassecreto. E aí acaba indo para algum outro tipo de arquivo”, explica Edison Boaventura, que acredita na existência de informações em outros países.

“Esses casos do interior de São Paulo, a maioria deles envolvendo pouso e avistamento de seres, eram transcritos em inglês e eram encaminhados para os Estados Unidos.”

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