O primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, afirmou nesta terça-feira (19/09) que o Azerbaijão iniciou uma ofensiva terrestre na região de Nagorno-Karabakh e para tentar assumir o controle de todas as cidades do território, separatista, habitado majoritariamente por membros da etnia armênia. O governo do Azerbaijão confirmou a ofensiva, classificando a ação como uma "operação antiterrorista" e declarou que não pretende parar até a rendição dos separatistas e das forças da Armênia no território.
"As Forças Armadas do Azerbaijão começaram a bombardear Nagorno-Karabakh quase em todo o território e mais tarde iniciaram uma operação para romper a linha de contato e tomar o controle de posições e localidades karabakhs", disse Pashinyan em um discurso à nação.
Os combates desta terça-feira deixaram até o momento pelo menos 25 mortos do lado armênio, incluindo dois civis, e, nas fileiras do Azerbaijão, há informação de um civil falecido, conforme relatos de ambos os lados.
A presidência do Azerbaijão pediu às forças separatistas armênias que deponham as armas e "ergam a bandeira branca", antes de se sentarem para negociar "com os representantes da população armênia de Karabakh", em Yevlax, uma cidade azerbaijana.
Antes desta exigência de capitulação, as autoridades regionais do enclave em disputa haviam pedido um cessar-fogo imediato e negociações.
As autoridades separatistas de Nagorno-Karabakh indicaram que várias cidades do enclave, incluindo a capital regional, Stepanakert, são alvo de "disparos intensos" contra infraestruturas civis.
O governo do Azerbaijão justificou suas ações como uma resposta à morte de quatro policiais e dois civis azerbaijanos na explosão de minas onde estava sendo construído um túnel, entre Shusha e Fizuli, duas cidades de Nagorno-Karabakh sob seu controle.
A tensão neste enclave separatista no Azerbaijão de maioria armênia vem crescendo há meses. A região já esteve no centro de duas guerras, sendo a última em 2020, que foi interrompida por um frágil cessar-fogo, interrompido nesta terça-feira.
Em 2020, a Armênia perdeu o controle de dois terços do território da região de Karabakh, incluindo parte da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh, mas não a capital, Stepanakert.
Segundo o primeiro-ministro armênio, trata-se de uma "operação terrestre de limpeza étnica" dos armênios de Nagorno-Karabakh.
Pashinyan também afirmou que espera que as forças de paz russas destacadas na região contribuam para a "estabilização da situação" em virtude do mandato que lhes foi concedido após a guerra entre Armênia e Azerbaijão em 2020.
Protestos
Várias centenas de manifestantes armênios que protestam contra a operação do Azerbaijão na região de Nagorno-Karabakh protagonizaram violentos confrontos com a polícia nas proximidades da sede do governo.
Alguns manifestantes tentaram romper o cordão policial e entrar no edifício governamental no centro da capital armênia, Yerevan.
A polícia teve de recorrer a granadas de efeito moral para dispersar os insatisfeitos com o que está acontecendo em Karabakh, um enclave habitado por armênios, mas pertencente ao Azerbaijão.
Nas imagens disponibilizadas pela televisão local é possível perceber o momento em que um dos manifestantes perde a consciência.
Os manifestantes acusam de inação o chefe do governo. Pashinyan já foi fortemente criticado após a vitória do Azerbaijão na guerra de 2020, na qual o Azerbaijão recuperou grande parte dos territórios perdidos na guerra de 1992-1994.
Também ocorreram confrontos nas proximidades da embaixada da Rússia, país que Yerevan acusa de não cumprir o seu papel de garantidor da segurança no Cáucaso sul.
"Rússia inimiga!", gritaram alguns manifestantes. A Rússia tem uma força de manutenção da paz em Karabakh, que a Armênia instou a parar a "agressão" do Azerbaijão.
jps (EFE, AFP, Reuters)