Beatificação de família mobiliza habitantes da vila polonesa de Markova

A beatificação deverá atrair mais peregrinos no ano que vem, quando o massacre na cidade vai completar 80 anos

Por Moises Rabinovici

Muitos dos habitantes da vila polonesa de Markova limparam suas ruas, cortaram a grama da igreja e enfeitaram de flores o cemitério para a rara beatificação de uma inteira família, a dos Ulma, massacrada por soldados nazistas, por ter escondido oito judeus, que também foram assassinados. Vinte mil pessoas são esperadas para a cerimônia, neste domingo.

O dia 24 de março de 1944 acabou com 17 mortos, contado um nascituro que estava no sétimo mês de gestação, encontrado parcialmente fora do ventre da mãe, quando a família foi exumada. Ele recebeu o "batismo de sangue". 

O Papa comentou ao receber peregrinos poloneses: “Esta numerosa família de Servos de Deus, que aguarda a beatificação, deve ser para todos nós um exemplo de fidelidade a Deus e aos Seus mandamentos, de amor ao próximo e de respeito à dignidade humana”.

Markowa tinha cerca de 4 mil habitantes, 121 judeus, dos quais só 20 sobreviveram, e pelo menos um espião, o que denunciou Jozef, 44, e Wiktoria, 32, e seus oito filhos — o mais velho com oito anos e o caçula, 1,5 ano. Os nazistas mataram primeiro os judeus, com tiros na nuca. Eles foram retirados de um pequeno sótão, dissimulado entre o feno estocado. O segredo que todos conheciam foi guardado por ano e meio. O soldado Josef Kokott, que matou quatro das crianças, foi preso em 1957, na Checoslováquia, e extraditado para a Polônia, onde o condenaram à morte, a sentença reduzida para prisão perpétua, depois para 25 anos.

Markowa erigiu um museu para os Ulma, com recursos próprios. Ele foi projetado como um esconderijo, agora a atração da cidade. Do lado de fora, num monumento, está gravado: “Possa seu sacrifício ser um apelo ao respeito e ao amor a todos. Eram filhos desta terra e permanecem nos nossos corações”. Israel também os homenageou: viraram árvores no bosque dos "Justos entre as Nações", plantado em reconhecimento a todos os não judeus que salvaram vidas de judeus perseguidos pelos nazistas.

As cinzas retiradas da sepultura dos Ulma já estão num sarcófago, diante de um altar na igreja de Markowa. A beatificação deverá atrair mais peregrinos no ano que vem, quando o massacre na cidade vai completar 80 anos.

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