Biden diz que é preciso "passar a tocha" para nova geração

Em primeiro pronunciamento após desistir de candidatura, presidente democrata de 81 anos disse que "salvar a democracia" é mais importante que "ambição pessoal". Biden ainda reforçou endosso a Kamala Harris.

Por Deutsche Welle

Em seu primeiro pronunciamento apósdesistir de concorrer novamente à Presidência dos EUA, Joe Biden afirmou na noite de quarta-feira (24/07) que "nada", nem mesmo "ambição pessoal", deve ser um obstáculo quando se trata de "salvar a democracia", e que era hora de "passar a tocha" para "vozes mais jovens".

"Acredito que meu histórico como presidente, minha liderança no mundo e minha visão para o futuro dos Estados Unidos mereciam um segundo mandato, mas nada - nada - pode ser obstáculo para salvar nossa democracia. Isso inclui a ambição pessoal", disse Biden, de 81 anos, em pronunciamento transmitido a parir do Salão Oval, na Casa Branca.

"Portanto, decidi que o melhor caminho a seguir é passar a tocha para uma nova geração. É a melhor maneira de unir nossa nação. Sabe, há um tempo e um lugar para longos anos de experiência na vida pública. Há também um tempo e um lugar para novas vozes, vozes frescas - sim, vozes mais jovens. E essa hora e esse lugar são agora", completou Biden, no pronunciamento que se estendeu por dez minutos.

No último domingo, quando oficializou sua desistência, Biden havia se limitado a divulgar um breve comunicado nas redes sociais e em seguida divulgar uma mensagem de endosso à sua vice, Kamala Harris, de 59 anos, como substituta na cabeça da chapa democrata.

Pressão para desistir

Nas últimas semanas, Biden sofreu intensa pressão para desistir por parte de lideranças do seu partido, na esteira de preocupações crescentes sobre sua capacidade cognitiva aos 81 anos e força para vencer o republicano Donald Trump na eleição presidencial de novembro. Embora discussões sobre a saúde do presidente já estivessem no ar há alguns meses, o gatilho para crise em relação à continuidade candidatura ocorreu após um desastroso desempenho de Biden no debate televisivo contra Trump, no final de junho.

O presidente tentou inicialmente se agarrar à candidatura e assegurar que tinha capacidade para continuar, mas gafes em eventos posteriores e fuga de doadores de campanha aumentaram a pressão.

Mas a desistência e o endosso a Kamala acabaram por proporcionar uma cobertura positiva para a campanha democrata, afastando a crise. A saída de Biden até mesmo acabou por obscurecer o atentado que seu rival, Donald Trump, havia sofrido uma semana antes. A desistência de Biden também deve provocar uma reformulação da campanha de Trump, que anteriormente vinha se concentrando em pintar o democrata como mentalmente "inapto". Agora é Trump, de 78 anos, que se tornou o candidato mais velho da história dos EUA a disputar a Presidência por um grande partido.

Antes de Biden, o último presidente no exercício do cargo a desistir da reeleição havia sido o democrata Lyndon Baines Johnson, conhecido como LBJ, em 1968. À época, a decisão de LBJ e profundas divisões entre democratas precipitaram o partido para uma crise, com vários novos candidatos travando uma disputa feroz pela vaga. É um cenário que os democratas querem evitar se repetir. Nos últimos dias, a esmagadora maioria das lideranças do partido seguiu o exemplo de Biden de declarar apoio a Kamala como subsituta, afastando a possibilidade de uma nova disputa pela candidatura.

Em seu pronunciamento na quarta-feira, Biden também fez elogios à sua vice. "Ela é experiente, durona, capaz. Ela tem sido uma parceira incrível para mim e líder do nosso país."", afirmou Biden durante seu quarto - e provavelmente último - pronunciamento à nação em cadeia nacional.

Defesa do seu legado e agradecimento

Após a desistência, vários republicanos alinhados com Trump defenderam que Biden também renuncie à Presidência. A Casa Branca, no entanto, rechaçou a ideia. Biden também deixou claro em seu pronunciamento que pretende concluir o mandato, que expira em 20 de janeiro de 2025.

"Nos próximos seis meses, estarei concentrado em fazer meu trabalho como presidente", disse. "Isso significa que continuarei a reduzir os custos para as famílias que trabalham duro [e] aumentar nossa economia. Continuarei defendendo nossas liberdades pessoais e nossos direitos civis - desde o direito de votar até o direito de escolher", completou, fazendo no último caso uma referência em defesa do direito ao acesso aos cuidados de aborto, uma pauta que vem sendo ferozmente atacada pelos republicanos.

O presidente ainda mencionou temas externos, prometendo "continuar trabalhando para acabar com a guerra em Gaza, trazer de volta todos os reféns e trazer paz e segurança ao Oriente Médio". Horas antes do pronunciamento de Biden, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, em visita a Washington, fez um discurso beligerante no Congresso dos EUA, no qual defendeu uma "vitória total" na guerra.

Biden ainda reiterou seu apoio à Ucrânia no conflito e disse que a assistência fornecida ao país para enfrentar a guerra de agressão contra a Rússia é uma de suas realizações que mais lhe trouxe orgulho. Biden ainda lembrou mencionou projetos aprovados no seu governo para enfrentar a crise climática, reduzir a violência e expandir o acesso à saúde.

Biden ainda relembrou o dia da sua posse, em janeiro de 2021, pouco depois da invasão do Capitólio (sede do Congresso dos EUA) por uma turba de extremistas trumpistas e ainda no meio da pandemia. "Estávamos no meio da pior pandemia do século, da pior crise econômica desde a Grande Depressão, do pior ataque à nossa democracia desde a Guerra Civil, mas nos unimos como americanos e superamos tudo isso. Saímos mais fortes, mais prósperos e mais seguros", disse.

Por fim, Biden agradeceu o povo americano e fez uma advertência contra o extremismo.

"Somos uma nação de promessas e possibilidades, de sonhadores e realizadores, de americanos comuns fazendo coisas extraordinárias. Dei meu coração e minha alma à nossa nação, como tantos outros. Em troca, fui abençoado um milhão de vezes com o amor e o apoio do povo americano. Espero que tenham uma ideia do quanto sou grato a todos vocês", disse.

"O melhor dos Estados Unidos é que aqui não são os reis e os ditadores que governam, mas o povo. A história está em suas mãos. O poder está em suas mãos. A ideia dos Estados Unidos está em suas mãos. Só precisamos manter a fé, manter a fé e lembrar quem somos. Somos os Estados Unidos da América e simplesmente não há nada, nada além de nossa capacidade quando fazemos isso juntos."

jps (ots)

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