Uma mulher morreu baleada com um tiro na cabeça nesta sexta-feira (22), no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, um dia depois da ação policial que deixou 18 mortes na quinta (21), no conjunto de 11 favelas. A nova vítima, Solange Mendes, foi levada ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas não resistiu.
Moradores afirmam que ela foi baleada no momento em que policiais atuavam para remover um muro de concreto erguido por traficantes. Um policial teria atirado após se assustar quando a mulher passou em um beco.
Já a PM afirma que a vítima foi encontrada baleada depois de um confronto que teve início após um ataque à base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade Nova Brasília.
Moradores de parte do Complexo do Alemão relataram a ocorrência de mais tiros na região, na manhã desta sexta-feira, com novos tiroteios desde às 7h50.
O policiamento está reforçado nos acessos ao conjunto de favelas, no dia seguinte à operação policial que agora é a terceira mais letal na história do Rio de Janeiro.
Entre os mortos também está Letícia Marinho Sales, de 50 anos. Ela foi baleada e morta por policiais dentro do carro em que estava, chegou a ser encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento da região, mas não resistiu.
Segundo familiares à ONG Voz da Comunidade, os tiros foram disparados propositalmente em direção ao carro. “Atiraram para matar, não foi bala perdida”, disse um familiar em entrevista. Letícia era moradora do Recreio dos Bandeirantes e estava na Rua Itararé, em direção à Penha, quando foi baleada.
Testemunhas contaram que, no momento em que o PM atirou, havia no carro ao lado de Letícia uma policial civil, que colocou uma arma e um distintivo no teto do veículo para se identificar. Letícia deixa três filhos.
Um policial militar também morreu, de acordo com a PM, após traficantes atacarem a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Nova Brasília. O cabo Bruno de Paula Costa, de 38 anos, chegou a ser socorrido ao Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.
Ele deixa esposa e dois filhos, portadores do transtorno do espectro autista.
Os outros dezesseis mortos são tratados como suspeitos. As identidades deles, no entanto, não foram divulgadas pela polícia.
Pelo menos quatro pessoas baleadas por policiais seguem internadas em hospitais.
Mais de 400 policiais participaram da ação que teve como objetivo prender foragidos da Justiça, desarticular quadrilhas de assaltantes e impedir invasões contra favelas onde atuam traficantes rivais.
Operações mais letais
Três das quatro operações mais letais de toda a história do Rio de Janeiro foram registradas nos últimos 14 meses, durante o governo de Claudio Castro (PL).
Setenta e uma pessoas morreram nessas operações policiais.
A mais letal entre todas as ações policiais ocorreu em Jacarezinho, na Zona Norte, em maio de 2021, quando 28 pessoas morreram. Um ano depois, em maio de 2022, 25 pessoas foram mortas durante uma operação policial na Vila Cruzeiro, também na Zona Norte.
Nesta quinta-feira (21), a ação com policiais militares e civis resultou em mais 18 mortos durante a incursão no Complexo do Alemão.
- Jacarezinho (maio de 2021) - 28 mortos;
- Vila Cruzeiro (maio de 2022) - 25 mortos;
- Complexo do Alemão (julho de 2022) - 19 mortos;
- Complexo do Alemão (junho de 2007) - 19 mortos;
- Senador Camará (janeiro de 2003) - 15 mortos;
- Fallet/Fogueteiro (fevereiro de 2019) - 15 mortos;
- Complexo do Alemão (julho de 1994) - 14 mortos;
- Complexo do Alemão (maio de 1995) - 13 mortos;
- Morro do Vidigal (julho de 2006) - 13 mortos;
- Catumbi (abril de 2007) - 13 mortos