A polícia deixou uma viatura para escoltar a casa, que fica em Higienópolis, bairro nobre na região central de São Paulo. Com o tumulto causado pela ação policial que cumpria um mandado da última quarta-feira (20), existe o receio de uma invasão e possível depredação do imóvel.
Mas nem mesmo o policiamento impediu que curiosos passassem pela casa. Uns fotografam, outros observam. Uma idosa até levou os netos para conhecer o local.
A Vigilância Sanitária da prefeitura de São Paulo retornou à mansão de Margarida Bonetti na manhã desta quinta-feira (21), mas os agentes não conseguiram entrar. Segundo a advogada da senhora de 63 anos, ela estava se sentindo indisposta.
Na ação da polícia na casa de Margarida, pode-se observar bastante entulho acumulado pelos cômodos da casa, além de forte odor. um filhote de cachorro foi resgatado do local pela equipe da ativista Luísa Mell.
Uma das delegadas falou em pedir exames médicos para atestar o estado de saúde da moradora, mas uma irmã e sua advogada garantem que ela não tem nenhum problema de natureza psicológica ou física.
De acordo com a Polícia Civil, atualmente Margarida vive em condições sanitárias precárias, mas quer permanecer na mansão. Imagens do interior do imóvel mostram as péssimas condições da área externa e principalmente da área interna da casa. Mesmo assim ela se recusa a deixar seu lar. A Polícia Civil aguarda os laudos periciais do imóvel e médico da proprietária para saber se ela ainda tem condições de morar ali.
Segundo a Polícia Civil, Margarida tem apenas duas irmãs de familiares ainda vivas. Uma delas, Rosa que mora em Campinas já foi ouvida pelos agentes. A outra irmã que está em briga judicial com a família pela herança do pai ainda vai ser acionada para prestar depoimento.
Quem é Margarida Bonetti
A história de Margarida Bonetti, de 63 anos, herdeira de uma família rica de São Paulo e casada com o engenheiro Renê Bonetti, tem chamado atenção nas últimas semanas. Ela esteve na lista de procurados pelo FBI acusada de cometer crimes nos Estados Unidos, como trabalho análogo à escravidão e agressão contra sua ex-empregada doméstica. O casal foi denunciado à polícia americana no ano 2000.
Renê chegou a ser julgado, condenado e preso nos Estados Unidos, onde cumpriu pena, e foi solto. À época do julgamento, Margarida fugiu para o Brasil, onde vive até hoje, na mansão em Higienópolis. O crime prescreveu, como explicou a Delegada Elisabete Sato ao vivo no programa Brasil Urgente.
A história da mulher e do casarão voltou a ganhar interesse após ser tema do podcast “A Mulher da Casa Abandonada”, do jornalista Chico Felitti, na Folha de S.Paulo, e viralizar nas redes sociais.
Imóvel avaliado em R$ 10 milhões
A “casa abandonada” tem mais ou menos 500 m². São 10 m de largura e 50 m de comprimento. Mesmo com toda história por trás da moradora, o imóvel ainda é avaliado com um valor alto. Corretores estimam cerca de R$ 10 milhões.
No processo de inventário da casa, em 2019, havia uma dívida de mais de 10 anos sem pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Segundo a Procuradoria-Geral do Município, atualmente, o imóvel não tem dívida ativa.
Disputa por herança
Além das questões tributárias, há uma briga judicial em curso. Outros herdeiros acusam Margarida de trocar a fechadura do portão e não dar a chave a mais ninguém. A casa está no nome do pai da acusada de escravizar a empregada doméstica.
Em documentos obtidos pela Band, há informações de um possível leilão do imóvel e também existem três processos relacionados ao inventário da casa, pois duas irmãs estão pedindo o direito a residência.
Uma das páginas do processo revela a fortuna que o pai da margarida, Geraldo Vicente de Azevedo, deixou para os familiares. Ele tinha mais de US$ 5 milhões em moedas de ouro e prata além de barras de ouro no cofre, joias, obras de arte e pratarias.
Além da casa da Rua Piauí, em Higienópolis, a família deixou para trás uma fazenda na cidade de Delfim Moreira, em Minas Gerais. Mas essa herança acabou gerando uma disputa entre as filhas de Geraldo. Margarida, Rosa e Maria de Lourdes Vicente. A última brigada com as duas outras irmãs.
