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Como é disputar uma medalha olímpica em plena guerra da Ucrânia

Guerra na Ucrânia dificultou a preparação de atletas para os Jogos Olímpicos de Paris. Ginasta Igor Radivilov, que treinou longe da família, em Cottbus, Alemanha, demonstra a resiliência e vontade de vencer de seu país.

Por Deutsche Welle

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O ucraniano Igor Radivilov, 31, acorda todos os dias com dor nos ombros. Os anos de treino nas argolas, uma de suas modalidades favoritas, cobram seu preço.

Apesar disso, ele segue determinado sua rotina de ginasta e tenta esquecer a dor, porque sabe que seus ombros carregam a esperança da Ucrânia nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 – uma nação que já entrou em seu terceiro ano de guerra.

"É claro que sinto orgulho de levantar nossa bandeira enquanto participo de uma competição de alto nível como essa. Estou orgulhoso de representar meu país", afirma o atleta que, até a terça-feira (30/07), havia participado de uma competição em equipe, levando o quinto lugar.

Atletas ucranianos foram forçados a treinar no exterior

Como muitos atletas da elite ucranianos, Radivilov foi forçado a treinar no exterior desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro de 2022. Enquanto ele se encontra em Cottbus, no leste da Alemanha, seus colegas de equipe estão espalhados por toda a Europa. Illia Kovtun, por exemplo, atleta do ano da Ucrânia e uma das esperanças para o ouro, treina atualmente na Croácia.

"Todo mundo corre atrás dos seus objetivos", diz Radivilov. "Competir em equipe depende de uma boa performance individual. Treinar aqui é bem conveniente para mim. Os outros estão treinando em outros lugares. Nós nos juntamos e não temos problemas em nos apresentar juntos."

Mas ele ressalta que os que não puderam sair da Ucrânia estão sob "constante pressão e estresse incessante": "É muito difícil mentalmente. Mísseis, explosões, blackouts, sirenes de alerta e tudo mais. Os atletas tiveram que se adaptar e trabalhar sob essas condições."

Radivilov foi um deles no começo: preso no país entre uma competição internacional e outra e com idade para servir o Exército, acabou passando os primeiros dois meses da guerra em Kiev.

"Estávamos em choque. Não sabíamos o que fazer. Nem pensar em algum tipo de esporte ou treino para competições. A guerra começou e tudo foi fechado. Esses foram os momentos mais difíceis."

"Tenho que me preparar para os Jogos"

Igor Radivilov conhece bem alguns dos maiores ginastas da Alemanha. Tendo competido desde 2014 na liga masculina do SC Cottbus, ele voltou a treinar ao lado deles no centro olímpico regional: seis horas por dia, nas argolas e na mesa. A cidade no estado de Brandemburgo é para ele uma casa longe de casa, em vários sentidos. Sua mulher e o filho de três meses, porém, estão em Kiev.

"Tenho que me preparar para os Jogos Olímpicos", explica. "Essa decisão de treinar aqui na Alemanha não é só minha, é algo que decidimos em uma reunião de família. Tenho total apoio. Minha mulher também está tendo toda a ajuda de que precisa. E é por isso que estou aqui. Minha família está segura, então está tudo bem."

Só que não foi sempre assim para Radivilov: pouco depois de partir para a Alemanha, ele perdeu dois avós, mortos por mísseis russos em sua cidade natal, Mariupol. Foi a eles que o atleta dedicou a medalha de bronze conquistada no Campeonato Europeu de 2022, em Munique.

Segundo o Ministério dos Esportes da Ucrânia, mais de 470 atletas e treinadores foram mortos na guerra, e mais de 500 instalações esportivas foram danificadas ou destruídas.

A questão de uma eventual culpa por estar longe de toda a morte e destruição da guerra, não tem uma resposta simples para Radivilov: "Precisamos sobreviver a isso. Há gente com uma vida muito pior. Eu estou no lugar em que preciso estar neste momento."

Ucrânia quer chamar a atenção do mundo em Paris

Com vários atletas da Rússia e de Belarus barrados da competição em Paris, a Ucrânia acabou desistindo da ideia inicial de boicotar os Jogos. Em maio, o ministro dos Esportes, Matviy Bidnyi, disse à DW que era importante a Ucrânia marcar presença no evento e "atrair a atenção de todo o mundo".

"Nosso entendimento é que não podemos perder essa plataforma para enfatizar mais uma vez a posição ucraniana, sua resiliência e vontade de vencer."

Radivilov não é nenhum calouro dos Jogos Olímpicos: Paris a quarta edição para ele, e a chance de conquistar uma nova medalha, depois do bronze na mesa de saltos em 2012.

Mas a experiência olímpica prévia não tem grande relevância, assegura: "Não importa se você vai a um, cinco, seis ou quatro [Jogos Olímpicos]". Estou totalmente focado em mostrar e provar a mim mesmo que sou capaz de conseguir. E, enquanto tiver força suficiente, tenho que dar o meu máximo."

Autor: Jonathan Crane

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