O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou dois dias na embaixada da Hungria em Brasília em 12 de fevereiro deste ano. O jornal New York Times divulgou vídeos que mostram o político entrando e saindo do local.
O episódio é analisado pela Justiça se foi ou não uma tentativa de obter refúgio e controlar uma ordem de prisão. Quatro dias antes, Bolsonaro teve o passaporte confiscado pela Polícia Federal (PF), por conta de operação que investiga tentativa de golpe de estado depois de perder as eleições de 2022.
Os locais de missões diplomáticas são considerados invioláveis, de acordo com a Convenção de Viena. Portanto, autoridades não poderiam entrar no prédio para prender o ex-presidente, se fosse o caso.
A defesa de Bolsonaro alega que a ida à embaixada foi para "manter contatos com autoridades do país amigo”. O político tem laços com o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, líder de partido de extrema-direita do país, o Fidezs.
Segundo o New York Times, a ida do ex-presidente brasileiro ao local diplomático também sugere tentativa de solicitar asilo político ao país europeu, caso a prisão fosse decretada.
O político tem até essa quarta-feira (27) para explicar ao Supremo Tribunal Federal a permanência por dois dias na representação húngara.
Relação duradoura
Ideologicamente próximos, Bolsonaro e Orbán mantêm um relacionamento há anos. Ainda antes de tomar posse, em 2018, o brasileiro conversou por telefone com Orbán sobre a possibilidade de firmar parcerias entre os dois países.
Na ocasião, Bolsonaro disse que a Hungria “sofreu muito com o comunismo no passado”. No ano seguinte, o húngaro foi um dos dez chefes de estado que esteve na posse do brasileiro.
Em visita à Hungria em fevereiro de 2022, Bolsonaro chamou o aliado de "irmão". Foi nessa ocasião que o nome do premiê teve o maior interesse dos brasileiros desde 2007, de acordo com dados do Google Trends.
A ferramenta mede o volume de buscas realizadas no decorrer do tempo. Com o episódio da estadia do ex-presidente na embaixada, o interesse pelo húngaro tem o seu segundo mais alto pico de atenção, segundo números preliminares de março de 2024 (veja o gráfico abaixo).
Durante as eleições de 2022, Orbán gravou um vídeo dirigindo-se ao povo brasileiro para pedir a reeleição do então candidato.
“Estamos falando de um presidente que, apesar de toda a esquerda atual e o globalismo, foi corajoso o suficiente para colocar o Brasil em primeiro e Deus acima de tudo”, disse o primeiro-ministro, em vídeo reproduzido nas redes sociais de Bolsonaro.
Em dezembro do ano passado, a dupla voltou a se reunir em Buenos Aires durante a posse do novo presidente da Argentina, o ultraliberal Javier Milei.