Jornal da Band

Conheça a mais brutal, longa e sangrenta batalha da guerra na Ucrânia

Jornal da Band foi a Chasiv Yar e Bakhmut, onde milhares de pessoas já morreram em quase um ano de combate

Por Yan Boechat

Os tanques e blindados não param nunca. Cruzam a rua principal dessa cidadezinha a caminho da mais brutal, longa e sangrenta batalha desta guerra. Há quase um ano russos e ucranianos estão combatendo pelo controle de Bakhmut, uma cidade de aparente pouca importância estratégica, mas que já deixou dezenas de milhares de mortos.

As tropas russas, com o apoio massivo dos mercenários do Grupo Wagner, têm avançado semana a semana nos últimos meses. Sob forte resistência ucraniana, ainda não conseguiram conquistar a pequena cidade de 70 mil habitantes que hoje se transformou em um amontoado de ruínas.

Em Chasiv Yar está tudo destruído. As forças russas estão muito próximas de tomar Bakhmut e o próximo objetivo será exatamente esta cidade. 

As tropas russas que tentam cercar Bakhmut estão a menos de 5 quilômetros. O som da artilharia é permanente. Ainda assim, mais de mil pessoas seguem vivendo aqui. Nesse abrigo, o último ainda aberto em Chasiv Yar, aqueles que ficaram buscam comida, energia para carregar os celulares e aquecimento nesse início de uma primavera fria.

"Da ultima vez em que estivemos aqui as coisas estavam bem, mas agora está tudo destruído", diz Alexandr Cverkovich. Ele é um dos muitos voluntários que prestam ajuda aos civis que decidem ficar nas linhas de frente aqui na Ucrânia. Ele diz que Chasiv Yar agora se parece com Bakhmut um mês atrás, quando as forças ucranianas fecharam o acesso à cidade para voluntários e jornalistas.

"Esta tudo destruído, mas nos nos juntamos, cobrimos as janelas com plástico e madeira, vamos fazendo o que podemos, a vida precisa seguir".

Sasha foi um dos que ficou. Ele diz não ter para onde ir e se sente útil aqui ajudando os que, como ele, continuam em Chasiv Yar.  

Quem decide partir tem vaga em alojamentos nas cidades vizinhas, mais distantes das linhas de combate. Esse foi montado em jardim de infância na cidade de Konstantinivka. Mas aqui há pouca gente de Chasiv Yar. Quase todos são moradores empedernidos de Bakhmut que só decidiram abandonar a cidade quando a morte lhes tocou a porta. Como aconteceu com Natasha.

"Anteontem uma bomba caiu no nosso porão. Meu cunhado e meu sobrinho ainda estão lá, mortos. Eles achavam que estavam mais seguros lá, mas meu marido eh doente e decidimos ficar na casa ao lado", diz Natasha. 

Ela conseguiu fugir de Bakhmut no dia anterior em que a encontrei. Em meio aos combates ferozes, com os parentes mortos no quintal, foi para a estrada que passa em frente a sua casa. Conseguiu parar um blindado ucraniano que transportava soldados feridos.

"Sobrevivemos esses dias com a água da neve que eu tinha acumulado e alguma comida. Se não fosse a neve acho que não teríamos conseguido".

Em choque, ela decidiu sair do Donbass. Vai para um outro abrigo distante das linhas de frente, na cidade de Dnipro. Segue em direção ao oeste apenas com a vida.

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