Jornal da Band

Contra cloroquina, acelerar vacinas e união: as posições e desafios do novo ministro da Saúde

Desafios para o quarto ministro da Saúde

Da Redação, com Jornal da Band

Na saída da primeira reunião com Eduardo Pazuello, nesta terça-feira (16), o futuro ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, evitou polemicas. Ele defendeu a ciência, as medidas de proteção contra a covid-19 e pediu união para enfrentar a pandemia. 

Na primeira visita à Saúde para iniciar a transição, o novo ministro deixou claro que o presidente Jair Bolsonaro é quem determina o que vai ser feito. 

“A política de governo é de Jair Bolsonaro, não é do Ministro da Saúde. O ministro da saúde executa a política do governo”, disse. 

Queiroga é velho conhecido de Bolsonaro. Votou no presidente, fez parte da equipe de transição depois da eleição e é próximo do filho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro.

Desde 2019, o ministro comanda a Sociedade Brasileira de Cardiologia, onde recomendou ações contrárias a bandeiras do Planalto: em abril do ano passado, uma nota da entidade reforçou a necessidade de isolamento social e não endossou o uso da cloroquina, que não tem eficácia comprovada contra a covid. 

Queiroga é um defensor da vacina e foi imunizado há dois meses. Na saída da reunião com Pazuello, reforçou a importância da ciência. 

“Já conversei com a equipe do Ministério da Saúde para que possamos reforçar as medidas que já estão sendo colocadas em prática em todo o Brasil e trazer novas contribuições sempre baseado nas evidencias científicas”, afirmou. 

Eduardo Pazuello deve ser remanejado para a assessoria especial da presidência, uma tentativa de mostrar que ele continua com a confiança de Bolsonaro. 

Com a mudança no ministério, o Planalto acha que afasta o fantasma de uma CPI no Congresso e tenta diminuir a crise. A avaliação é de que era preciso um novo nome para tocar a parte seguinte do combate à pandemia: acelerar a vacinação. 

“Temos que unir esforços com os secretários municipais de saúde. Aos secretários estaduais de saúde, aos órgãos representativos, como Conass, Conasemps. O Ministério da Saúde está muito empenhado em trabalhar de maneira harmônica, em parceria, para melhorar a condição de assistência”, destacou. 

Governadores, no entanto, cobraram rapidez. 

Sobre lockdown, o novo ministro disse ao presidente que considera a "última medida a ser tomada". Em entrevista, defendeu medidas de proteção para acelerar a retomada da economia. 

“Conclamar a população que utilize máscaras. São medidas simples de bloqueio ao vírus. E lave as mãos. São medidas simples, mas que são importantes, que a gente pode com essas medidas evitar ter que parar uma economia de um país. É preciso unir os esforços do enfrentamento da pandemia com a preservação da atividade econômica”, alertou Queiroga.

Grande desafio 

Marcelo Queiroga é o quarto ministro da Saúde de Bolsonaro. há um ano, o titular era Luiz Henrique Mandetta, que deixou o cargo por divergências com o presidente. O substituto também foi um médico. Mas Nelson Teich não ficou um mês no cargo por pensar diferente de Bolsonaro sobre a cloroquina. O escolhido, então, foi o general Eduardo Pazuello, que ao chegar logo definiu um protocolo para o uso do medicamento, mesmo sem eficácia comprovada, como queria o presidente. Quando pensou diferente, foi desautorizado, como o cancelamento da compra da CoronaVac anunciada pelo ministro. 

Quando Pazuello chegou, a média móvel de mortes estava em 692, com total de 15.633 óbitos. Ao sair, a média pulou para 1.841, com mais de 280 mil mortos. 

Os números espelham o tamanho do desafio aceito pelo novo ministro. Marcelo Queiroga vai precisar atuar em duas frentes: aumentar o ritmo de vacinação e, ao mesmo tempo, frear o avanço do coronavirus. Isso, sem divergir do presidente. 

A dúvida é se Queiroga vai ter autonomia para definir as ações do ministério, incluindo a montagem de sua equipe. Com Pazuello, cerca de 20 militares substituíram especialistas em cargos estratégicos. Além disso, o governo sofre pressão política do “Centrão” para que avance com a vacinação e tire o foco dos governadores, que cobram um comando no enfrentamento a covid.