Jornal da Band

CPI vai marcar acareação para esclarecer versão de Dominguetti

Vendedor reafirmou denúncia de propina em negócio com Ministério da Saúde e polemizou com áudio de Luis Miranda

Caiã Messina, do Jornal da Band

A CPI da Pandemia vai marcar uma acareação para tentar esclarecer a versão do policial militar que revende vacinas. Ouvido nesta quinta-feira (1) pela comissão, Luiz Dominguetti voltou a falar do suposto esquema de corrupção no Ministério da Saúde envolvendo a negociação de doses da vacina AstraZeneca.

Dominguetti confirmou à CPI o principal motivo pelo qual foi convocado: a denúncia de um pedido de propina para a compra de 400 milhões de doses em uma negociata de mais de R$ 2 bilhões.

“A conversa começou assim: ‘Olha, nós temos que melhorar esse valor’. Aí, eu disse: ‘Mas eu tenho que tentar um desconto, eu não tenho’. ‘Não, mas não é... É para cima, é para mais’. E aí se pediu, porque se tinha que compor dentro do ministério, e se pediu o acréscimo de US$ 1 por dose. Já de imediato já disse que não teria como”, relatou.

Segundo ele, o suborno foi pedido pelo agora ex-diretor de logística do Ministério da Saúde. Roberto Dias estava no cargo desde 2019, mas foi demitido na noite da última terça (29) após a acusação. Ele foi nomeado pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, graças às boas relações com o centrão.

A indicação partiu de Abelardo Lupion, ex-deputado, então assessor da Casa Civil, filiado ao Democratas, assim como Mandetta. Logo ganhou como padrinhos o ex-presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e o atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Roberto Dias disse que a denúncia foi inventada após ele questionar a intermediação de Dominguetti de uma vacina já contratada pelo governo com o próprio fabricante. O laboratório AstraZeneca nega terceirizar as negociações.

Dominguetti afirmou que representava a Davati, mas a empresa americana disse que ele é um vendedor autônomo. A credibilidade do depoente foi questionada.

“Não tem o menor currículo, a menor qualificação para ser o representante da Davati, e, portanto, da Oxford/AstraZeneca junto ao governo brasileiro”, criticou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Dominguetti disse que entrou na Davati em janeiro, mas seguiu como cabo na Polícia Militar de Minas Gerais. Chegou a ser responsável pelas guaritas do palácio do governador Romeu Zema, mas perdeu o cargo por, oficialmente, "não ter perfil para o posto". O PM responde a processos na corporação e na Justiça.

No meio do depoimento, veio a surpresa: Luiz Paulo Dominguetti apresentou um áudio, do deputado Luis Miranda (DEM-DF), segundo ele, também negociando vacinas. Semana passada, o parlamentar acusou Jair Bolsonaro de saber de um esquema de corrupção no Ministério da Saúde envolvendo a Covaxin. O tempo fechou na CPI. 

Senadores levantaram a possibilidade de o áudio ser uma estratégia de confundir os trabalhos na comissão e de a prova ter sido “plantada”. Do lado de fora, Miranda reagiu.

“Trata-se da minha empresa nos Estados Unidos, numa aquisição, uma intermediação de aquisição de luvas onde isso ocorreu, o áudio ele é enviado ao senhor Rafael Alves e ele ocorre exatamente no dia 15 de outubro de 2020, não existia nem vacinas à disposição para serem vendidas”, rebateu o parlamentar.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-ES) pediu a prisão em flagrante de Dominguetti por falso testemunho, alegando que o arquivo foi plantado, e se tratava de uma fraude. A CPI determinou a perícia no celular de Dominguetti, que foi apreendido, mas o presidente da comissão Omar Aziz (PSD-AM) negou o pedido de prisão contra ele.

“Nós estamos aqui diante de um bode na sala. E eu digo isso porque a pergunta que fica é se esse bode veio espontaneamente ou foi plantado. E, quando eu falo em bode na sala, não estou me referindo a vossa senhoria, eu estou me referindo a um áudio fraudulento sacado do bolso do colete”, discursou a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Dominguetti vai ser reconvocado, desta vez em uma acareação com diretores da empresa que ele diz representar e o ex-diretor de logística da saúde Roberto Dias, que teria pedido a propina pelo contrato.

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