'Crime e Fé': mãe de santo fala de destruição de terreiro e fuga para exterior

Mãe Carmem de Oxum precisou passar dois anos na Suíça após ataque de traficantes evangélicos em Nova Iguaçu, no RJ

Por Vinícius Dônola

Mãe Carmem de Oxum foi uma das vítimas dos ‘soldados de Cristo’, criminosos que aterrorizam terreiros e fiéis de religiões de matriz africana em comunidades da Baixada Fluminense. A ialorixá é a personagem principal do quinto episódio da série ‘Crime e Fé’, do Jornal da Band. 

Ela conta que após a destruição do terreiro dela por oito criminosos, precisou ainda deixar o país e passar dois anos na Suíça. “Eu escutei da polícia que eu deveria ir embora porque está muito perigoso, que eu colocava a minha vida em risco, então foi o que fiz”, conta. 

No Brasil, ela deixou dois filhos e quatro netos. Para ela, ver o terreiro ser destruído e ela obrigada a quebrar guias de santos foi doloroso. “O que mais me doeu é adentrarem no quarto do teu santo, do sagrado, que você zela por aquilo tanto tempo, que você toca como se toca num filho e você passar por tudo isso. Ver que a pessoa do outro lado não respeita”, lamenta. 

O terreiro dela ficava em Nova Iguaçu. Após o ataque, Mãe Carmem visitou três vezes para tentar ver o que havia sobrado ali. Apesar disso, ela sentiu orgulho dela como ialorixá. “Tão grande, que precisava oito homens para me amedrontar, me senti um gigante, meu coração disparava. Quando eu jogava os meu ibás no chão, eu dizia para o sagrado: ‘Me perdoa, não sou eu. Eu estou sendo obrigada’”, conta. 

Ibás são os elementos que compõem o altar de uma casa de santo. Apesar de passar dois anos na Suíça, Carmem não teve medo de voltar. “Nem saí do Brasil, meu pensamento, minha cabeça estava aqui, meu coração estava aqui. Nossa, meu orixá, minha casa, meus filhos, netos, tudo estava aqui”, afirma. 

E mesmo com toda a perseguição, ela não sente medo de expressar a fé. “O que seria o medo para mim? De cultuar o meu orixá, não. De fazer o meu candomblé, não. Meu medo é da surpresa covarde, esse é meu medo. Se tirar um braço, uma perna, os dois olhos, continuo sendo uma sacerdotisa de orixá”, pontua. 

Confira os outros quatro episódios da série Crime e Fé:

Primeiro episódio:

Segundo episódio:

Veja o terceiro episódio:

Confira o quarto episódio:

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