Jornal da Band

Diretas Já: Saiba por que o amarelo se tornou a cor do movimento pela democracia

Publicitários do Paraná criaram a identidade das Diretas. Primeiro comício reuniu cerca de 30 mil pessoas em Curitiba

Por Sérgio Gabriel

Dia 12 de janeiro de 1984. Na capital do Paraná começa a arrancada das diretas. Foi em Curitiba que o que nasceu como uma ideia, o projeto das diretas já, se transformou em uma campanha. 

O deputado Ulysses Guimarães disse em entrevista durante o comício: “Depois deste êxito espetacular estou certo que é um termômetro, indica o que vai acontecer no brasil. E quando o povo está marchando unido é invencível. Não há força que possa derrotá-lo”. 

Não havia uma linguagem uniformizada. Era preciso dar uma direção a campanha marcado para cá, aqui virou um laboratório... A idade virou um laboratório. 

Há 40 anos Antônio, Ernani e Bira trabalhavam na "Exclam", a agência que fazia as campanhas do PMDB do Paraná, e receberam a missão de profissionalizar e dar o impulso publicitário ao projeto político. A cidade inaugurou a temporada de mega comícios em 1984. 

A campanha desenvolvida pelos publicitários de Curitiba trazia um desejo simples e direto. “Eu precisava pensar: ‘O que as pessoas querem no Brasil? Elas querem votar’, lembra Antonio Freitas, publicitário.

Um desejo escrito na letra cursiva das ruas e da época do voto manual trazia a frase da campanha "Eu quero votar para presidente". Mas era necessário ir além e dar identidade. Uma cor para a campanha. 

O publicitário Bira Menezes descreve: 

“Pintei o Brasil de amarelo. Resgatar o amarelo que não é o amarelo da ditadura. É o amarelo do Brasil do canário, da seleção canarinho”.   

 Mais de 30 mil pessoas se reuniram em um famoso ponto de encontro no Centro de Curitiba, a “Boca Maldita”: Governadores do PMDB marcaram presença, a maioria de terno. Mas o amarelo já estava presente nas roupas dos artistas. 

“É o clima de democracia. É o povo que fala: ’Queremos eleições diretas’. Que seja devolvido ao povo o direito de escolher o presidente da República”, discursou o então governador de São Paulo, Franco Montoro. 

 Hoje, 40 anos depois, no local do comício, Ernani e Bira reviveram aquele momento e o sentimento que unia o povo que lotou o centro da cidade. 

O publicitário Ernani Buchmann conta: “As pessoas queriam democracia plena. Eles tinham fome disso? Uma sede danada. Uma sede de anteontem, como dizia o Chico Buarque”. 

Foi também a estreia de Osmar Santos como locutor das Diretas. A voz dele se espalhou pelas praças de todo o brasil   

A ideia do amarelo surgiu nas pranchetas dos publicitários, mas quem viralizou a cor como símbolo das Diretas Já foram os artistas. Num manifesto eles defendiam a cor como símbolo de união da campanha. E davam significados. Era o amarelo das flores sem medo, o girassol amarelo que nos guia, tinge e alimenta. 

A atriz Esther Góes destaca: “Foram os artistas que lançaram, né, da sacada do restaurante Pirandello. O amarelo pelas diretas, e depois houve adesão de jornal e tudo e aquilo se espalhou, e o pacifismo disso é muito forte, o desejo realmente do retorno a garantias legais, o retorno à democracia, pacífico, integrador, que realmente deu ao brasil uma saída histórica maravilhosa, saímos juntos daquilo tudo”.   

O jornalista Oscar Pilagallo explica que o amarelo foi um componente importante para disseminar a campanha das Diretas Já. “Deu uma identidade, certamente é uma cor que não é muito comum, embora ela conste lá da bandeira brasileira, tal, mas ajudou também a dar um pouco essa coisa supra partidária, não tinha um partido que fosse amarelo”.   

Fafá de Belém

A cantora Fafá de Belém foi uma das pessoas que tinha um lugar especial na Caravana das Diretas. Ela participou de 20 comícios e, até hoje, 40 anos, depois, o amarelo tem um significado especial para ela. 

“O amarelo é do povo brasileiro. Nossos girassóis, nosso ouro, nosso milho, isso é do povo brasileiro. A campanha das Diretas resgatou o hino e a bandeira, e ninguém pode se apropriar destas cores. Além disso, é a cor de Nossa Senhora.”

 Nas Diretas, depois de muito tempo, o Hino Nacional voltou a ser cantado em praça pública por multidões que clamavam por democracia. 

  • Produção: Paula Marolo e Bia Moço
  • Edição: Claudia Castro e Alziro Oliveira
  • Coordenação: Sergio Gabriel
  • Direção de núcleo: Fernando Mattar
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