O Jornal da Band está mostrando nesta semana uma série especial sobre os 40 anos das Diretas Já - um movimento que mudou a história do Brasil. E o dia da votação da emenda que devolveria ao eleitor o direito de escolher o presidente da República mostrou como uma derrota virou uma grande vitória.
No dia da votação da emenda Dante de Oliveira Brasília foi ocupada pelas tropas lideradas pelo General Newton Cruz, comandante militar do Planalto.
A transmissão ao vivo da sessão pelas TVs e rádios foi proibida. Nas manchetes os jornais reproduziam o clima no país, como na capa do Jornal da Tarde desenhada pelo editor-chefe Fernando Mitre.
“No dia da votação ele reproduziu a capa do comício do Anhangabaú com 1,5 milhão de pessoas com uma manchete que dizia senhores deputados lembrem-se desta imagem. E na capa de trás uma lista com os deputados sugerindo que marcasse que votasse contra”, relata o jornalista Ferdinando Casagrande, que escreveu um livro sobre a história do jornal.
No plenário da Câmara, a negociação era intensa. Era preciso convencer os deputados fieis ao presidente João Baptista Figueiredo a votar com as Diretas Já. E a oposição já pensava no dia seguinte.
“O que quer que ocorra com a Emenda Dante de Oliveira nós continuaremos a luta usando todos instrumentos usados até agora”, disse na época o deputado Ulysses Guimarães.
O governo estendeu a sessão até a madrugada. Esta era a principal tática dos inimigos das diretas. Vários deputados do governo preferiram ficar no gabinete e não apareceram para votar no plenário. No final, faltaram 22 votos para aprovar as Diretas Já.
A primeira página do Jornal da Tarde era o retrato do luto da nação. “O dia que a emenda foi rejeitada pelo congresso o Jornal da Tarde saiu com uma capa totalmente preta”, lembra Ferdinando. “Foi uma ideia do Mitre.”
Os perdedores da emenda Dante de Oliveira seriam os vencedores no início do ano seguinte no Colégio Eleitoral.
A mobilização das Diretas Já impulsionou a campanha do então governador de Minas Gerais. Tancredo Neves articulou derrota do regime militar e com a força das ruas venceu uma eleição em que o povo não tinha direito de voto
“A democracia deve muito as diretas. A Constituinte deve muito às diretas”, diz a historiadora Heloísa Starling.
Tancredo voltou as ruas em comícios organizados pelo PMDB.
Miro Teixeira destaca: “Então veio a questão: deixar com os militares a sucessão ou participar: Ai veio a campanha da mudança já. Ou seja vamos conseguir do povo a autorização para participar da eleição indireta”.
A inflação e o cansaço com o regime militar fizeram acelerar a abertura lenta, gradual e segura planejada pelos militares. Desta vez foi impossível conter a vontade do povo e no colégio eleitoral, criado pela ditadura para impor seus candidatos, Tancredo Neves venceu Paulo Maluf. E no discurso de vitória fez uma promessa: aquela seria a última eleição indireta.
Tancredo ficou doente e morreu sem tomar posse. O vice José Sarney virou presidente. Mas isso é outra história.
Nas escolas, o movimento que levou milhões de pessoas às ruas há 40 anos virou matéria na sala de aula.
A estudante Rafaela Gotardo opina: “Eu acho que impactou para o pessoal acordar e fazer algo contra a ditadura. Para o aluno Gustavo Torquato, as diretas fora fundamentais para a democracia. “A necessidade de uma eleição era muito grande porque apara algumas pessoas eras a mudança na vida delas”, diz. “É melhor viver hoje do que 40 anos atrás? Sem dúvida”, afirma o estudante Rodrigo Toloi. “A gente tem mais poder. Temos a democracia.O poder está no povo.”
O jornalista Oscar Pilagallo ressalta: “É importante a gente perceber hoje como foi difícil a gente conquistar o que a gente tem hoje, não é uma coisa que foi dada fácil, esse processo foi demorado, foi cheio de idas e vindas, custou muito, foi difícil para colocar de pé. Então essa gênese da redemocratização deve ser vista hoje com um fator a mais para a gente valorizar ainda mais a democracia que a gente conquistou naquela época”.
- Produção: Paula Marolo e Bia Moço
- Edição: Claudia Castro e Alziro Oliveira
- Coordenação: Sergio Gabriel
- Direção de núcleo: Fernando Mattar