Favorecimento em tratamento de saúde pode custar cargo do presidente de Portugal

Tratamento é conhecido como o mais caro do mundo e família brasileira pode ter passado a frente em fila de espera por medicamento

Por Felipe Kieling

A interferência direta do governo português em um tratamento que é conhecido como o mais caro do mundo pode custar o cargo do presidente português Marcelo Rebelo de Sousa. Isso porque o filho do político pode ter feito um possível favorecimento para amigos avançarem em fila de espera do tratamento em Portugal.

A suspeita é de que as gêmeas luso-brasileiras, Maitê e Lorena, de 5 anos, podem ter passado na frente de outras pessoas que também esperavam pelo medicamento chamado Zolgensma.

Nuno Rebelo de Sousa mora em São Paulo e é presidente da Federação das Câmaras Portuguesas de Comércio no Brasil. Amigo dos pais de Maitê e Lorena, ele escreveu para o próprio pai, o presidente português, pedindo uma análise no caso das meninas. Elas nasceram com atrofia muscular espinhal — uma doença neurodegenerativa rara que causa a morte dos neurônios motores.

O presidente português encaminhou então o e-mail para a Casa Civil de Portugal. A partir daí as gêmeas conseguiram a nacionalidade portuguesa em apenas 14 dias. E a aprovação para o uso do remédio, com o custo de 2 milhões de euros cada, aconteceu dois dias depois. Isso foi em 2020 e o hospital Santa Maria abriu uma auditoria para investigar o processo. Uma funcionária chegou a falar que recebeu ligações da secretária da então ministra da Saúde, Marta Temido, que também é acusada de interferência.

No Brasil, as gêmeas tiveram o tratamento negado por conta do alto preço do medicamento — que só passou a ser oferecido pelo SUS no ano passado. 

Essa crise tem balançado o governo português. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa tenta se equilibrar no cargo, mas cresce a pressão para que ele renuncie.

O Ministério Público português investiga o caso. Se o presidente for condenado, a pena prevê a perda do mandato. Ele negou qualquer irregularidade e disse que apenas repassou o e-mail enviado pelo filho, para que a situação das meninas pudesse ser analisada. Os pais das gêmeas também negam que tenham pedido qualquer vantagem ao filho do presidente português.

As meninas passam por outro tratamento em São Paulo e a próxima consulta em Lisboa está marcada para janeiro. Mas o advogado da família disse que talvez eles não voltem para o país, pois estão sendo vítimas de xenofobia e recebendo mensagens de ódio dos portugueses pelas redes sociais.

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