Operários deixam o Nepal para fazer trabalhos degradantes e exaustivos no Catar

País da Copa tem 140 mil trabalhadores do Nepal que deixaram seu país em busca de novas oportunidades

Por Yan Boechat

Nepaleses arriscam a vida para trabalhar no Catar  Yan Boechat/Band
Nepaleses arriscam a vida para trabalhar no Catar
Yan Boechat/Band

Ramesh Gupta passa o tempo livre na frente da TV.  É obcecado por futebol. No celular, guarda centenas de partidas de times europeus. Ele é uma exceção nesta parte do Nepal, a poucos quilômetros da fronteira com a Índia. Futebol no Nepal não atrai tanta atenção quanto o popular cricket. Mas Ramesh não se importa. Junto com alguns amigos, formou até um time local: O Shree Mahabir Sports Club.

“É um jogo lindo, eu sempre me sinto feliz quando estou jogando.”

Ramesh e os amigos jogam todos os dias em um campo de futebol que dividem com as cabras e as vacas, sagradas nessa parte do mundo.

"Minha vila é tão linda. Eu não me sinto bem quando saio daqui. Aqui nos temos um campo de futebol maravilhoso, temos templos lindos e uma bela estação de trem."

Ramesh ama o lugar, mas está se preparando para dizer adeus. Em poucos meses vai seguir o caminho que seus parentes e centenas de milhares de seus conterrâneos tem seguidos nos últimos anos.

“Nós não temos chance, para sobreviver e garantir nosso futuro, nós somos forçados para ir para o exterior, Dubai, Catar,. Nós temos que sacrificar nossa juventude, algumas vezes, nossas vidas.”

Ramesh diz isso pensando no tio, que morreu há poucos meses no Catar enquanto trabalhava em um canteiro de obras.

“Eu tenho medo de perder minha vida. O trabalho que fazemos no exterior eh assim. Nos temos que trabalhar na construção e não sabemos o que pode acontecer. Então, eu tenho medo.”

A estimativa do governo do Nepal é que quase 140 mil nepaleses, quase todos homens, estejam trabalhando no Catar. Até 2010, ano em que a monarquia do Golfo Pérsico foi escolhida para sediar o Mundial, esse número era muito menor, algo como 35 mil pessoas.

"Desde o anúncio de que a Copa seria no Catar, em 2010, nos vimos um crescimento importante de trabalhadores indo para lá Surgiram novas oportunidades de trabalho, então, com base nessa situação, nos passamos a ver um crescimento significativo de nepaleses indo para o Catar."

País pobre

O Nepal é um país pobre, espremido entre dois gigantes, a Índia e a China. A economia é baseada na produção de arroz e nos turistas de todo o mundo que vem até aqui conhecer o Monte Everest. Com uma área do tamanho do estado do Ceará, tem uma população de 30 milhões de habitantes.  

A migração por motivos econômicos é tão intensa que o envio de dinheiro do exterior é responsável por 25% do PIB de 36 bilhões de dólares

Dambar Sunwar é o responsável por registrar o número de trabalhadores que deixam o país. Cabe a ele, também, apoiar as famílias a transladar os corpos dos que morreram.  “Nossa estimativa é de que quatro nepaleses morrem por dia trabalhando no exterior, principalmente nos países do Golfo, e trazer os corpos de volta não é nada fácil”, diz Sunwar.  

Ramesh montou um mercadinho com o dinheiro que o irmão enviou do Catar. Mas o dinheiro é pouco. Ele conta que pretende ficar dois ou três anos no Catar, e então investir tudo que ganhar para expandir o negócio. "Se eu conseguir isso ou ficar aqui, ficar jogando futebol; e ficar com meus amigos. É tudo que quero."

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