Quando as cédulas do real, a nova moeda brasileira, foram apresentadas, o índice de inflação era assustador. Girava em torno de 45% ao mês e 3.000% ao ano, um ano antes da implantação do novo plano de estabilização econômica do país.
O objetivo principal do real foi atacar as causas da inflação, a exemplo dos gastos públicos. Era um processo que começou em dezembro de 1993, que envolvia, ao longo do tempo, medidas como privatizações e reformas.
“O que aconteceu no Plano Cruzado foi que a gente queria cortar gastos depois de anunciado o plano. Congelaram-se os preços, vieram as eleições, mas ninguém cortou gastos”, relembrou o economista Pérsio Arida, integrante da equipe que criou o Plano Real.
Para não assustar a população, a estratégia era evitar choques e medidas bombásticas que fracassaram em outros planos. Como exemplo, o congelamento de preços. A proposta do Plano Real, porém, era ter um período de transição.
Houve um período de transição. Dava tempo de os preços relativos irem se acomodando nesta nova referência (Elena Landau, ex-diretora do BNDES)
Moeda virtual antes do real
Nada diferenciava mais o real dos outros planos como três letrinhas: URV (Unidade Real de Valor). Tratava-se de uma espécie de moeda virtual que não servia como meio de pagamento, mas era um índice que se transformaria no real que conhecemos hoje.
“A URV cuidava daquele problema dos planos anteriores que tinham fracassado, porque todos eles, quando a moeda entrava em circulação ou quando o plano era anunciado, encontrava uma porção de setores que estavam atrasados nos ajustes e preço, e esses setores iam pressionar, o que estourava, outra vez, a inflação. Já com a URV acompanhando e, na hora de lançar moeda, simplificando, todos estariam no mesmo patamar”, explicou Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda.
Real forte como o dólar
À URV, foi dado o valor de um dólar. A moeda virtual também absorvia a variação dos preços das mercadorias em cruzeiros reais.
“Quando nós passamos a URV para o dólar, também dissemos que o real vale um dólar. Então, usamos esta percepção de estabilidade do dólar para mostrar que estávamos fazendo uma moeda tão forte como o dólar”, pontuou o economista Edmar Bacha, que também ajudou a construir o Plano Real.
Período de transição
O período de transição com a URV durou 4 meses. Os políticos tinham pressa. Era ano de eleição. O real era o principal cabo eleitoral de Fernando Henrique Cardoso na disputa pela presidência contra Luiz Inácio Lula da Silva.
“Eu até disse a eles: ‘Se for para esperar um ano, quem vai lançar a moeda será o Lula’. Isso porque ele [Lula] já estava com 42% na pesquisa”, relembrou Ricupero.
Mesmo dentro do governo, havia muita dúvida sobre a eficácia Plano Real. O próprio presidente Itamar Franco defendia algum tipo de congelamento para segurar os preços, segundo revelou Ricupero à Band.