Jornal da Band

Veja como é o treinamento de soldados da Ucrânia na luta contra a invasão russa

Um ano após início da guerra, repórter Yan Boechat entra nas trincheiras para acompanhar como moradores se tornam soldados para defender o país

Por Yan Boechat

A Guerra da Ucrânia completa um ano nesta sexta-feira (24). As batalhas mais ferozes acontecem na região do Donbass, onde esteve o enviado especial do Jornal da Band Yan Boechat. Ele entrou nas trincheiras, acompanhou o treinamento de soldados ucranianos, e conversou com os poucos moradores que resistem em ficar por lá e defender a região da invasão da Rússia.

Veja o treinamento no vídeo acima

Uma pequena estrada no Leste da Ucrânia parece ter saído de um desses filmes que tentam explicar os horrores da Primeira Guerra Mundial. Mas não há ficção aqui. As casas destruídas, o carro parado como se alguém tivesse acabado de fugir, as árvores queimadas. Tudo é assustadoramente real.

Em Torske, um pequeno vilarejo que já trocou de mãos por três vezes nessa guerra, a cinco quilômetros das linhas de batalha, já não há ninguém. 

Perto dali, jovens soldados recém chegados ao front treinam nas florestas que logo se tornarão uma vez mais campos de batalha. Treinamento básico, de como atirar, de como se mover para uma posição, como se esconder nas trincheiras. 

De onde estão, conseguem ouvir o som da artilharia disparando incessantemente contra as posições russas. E som das bombas que chegam de lá.

Desde meados de janeiro a Rússia voltou a atacar as posições ucranianas dando sinais de que se prepara para uma nova ofensiva. Vem avançando em linhas de combate que estavam estáticas há meses. 

Os russos estão a uns 20 km de distância e têm atacado Kupiansk com muita intensidade nas últimas semanas. Os ucranianos acreditam que o próximo grande centro de batalha dessa guerra deva ser em Kupiansk. Essa é uma cidade muito estratégica para a Rússia, um grande entroncamento ferroviário. E para os russos conquistarem toda a região do Donbass é fundamental conquistar Kupiansk. 

Na cidade de Bakhmut, no início de fevereiro, as batalhas eram ferozes, com dezenas de mortos diariamente

Lyudmyla Nalynovska, de 61 anos, é uma das seis mil pessoas que decidiram ficar aqui mesmo com as tropas russas se aproximando cada vez mais do centro da cidade. Ela vem a esse antigo ginásio de boxe aquecer-se, encontrar os amigos e carregar o celular. 

"É muito assustador caminhar lá fora. Não há ninguém nas ruas, as bombas caem o tempo inteiro, está tudo destruído. Só venho aqui para ter alguém pra conversar”, disse Lyudmyla.

Em meados de fevereiro, os russos haviam cortado o acesso a Bakhmut pelas principais rodovias e apenas essa estrada rural servia como entrada e saída da cidade prestes a ser cercada.

Mesmo com o som incessante da artilharia, algumas pessoas ainda se aventuravam pelas ruas. Até um mercado a céu aberto, a poucos quilômetros de onde as batalhas estavam ocorrendo, funcionava com relativa calma. E bastante resignação.

Em Chasiv Yar, um vilarejo bem próximo de Bakhmut, o som da artilharia faz parecer que uma tempestade de trovões se aproxima. Depois de quase seis meses de batalha, Alexander Pavlovitch está chegando à conclusão de que a tormenta, agora, está próxima demais.

“Eu já estou preparado para partir, já empacotei minhas coisas”, disse Pavlovitch. Se os russos chegarem aqui, eu vou embora.”

Pavlovitch é um dos últimos moradores de seu prédio. Nesses últimos meses, ele e um vizinho gastaram o tempo fazendo reparos no que as bombas destruíam. Agora, ele acha, as coisas estão ficando perigosas demais.

“O bombardeio não estava tão pesado assim antes, por isso eu estava aqui, Mas agora está ficando difícil.”

Em uma pequena estradinha, Serhei Zamulenko sorria, solitário, sob tímidos flocos de neve e uma temperatura congelante. Todos os dias ele vai até a entrada de Chasiv Yar vender suas carpas defumadas. Acha que está mais seguro aqui, em campo aberto, do que dentro da cidade.

“Estamos acostumados”, afirmou Zamulenko. "As pessoas acham que essa guerra começou há um ano, mas a guerra está aqui desde 2014."

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