O secretário nacional de Cultura, Mario Frias, polemizou nas redes sociais nesta sexta-feira (6) ao rebater uma acusação da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) relacionada ao incêndio que atingiu um galpão da Cinemateca, na capital paulista, na semana passada. Em tom irônico, Frias afirmou que a perícia estaria demorando porque a polícia “está ocupada” investigando a suposta agressão sofrida pela parlamentar.
Tudo começou com uma publicação feita na terça (3) pela deputada. “O descaso do governo Jair Bolsonaro com a Cinemateca de São Paulo continua — nenhuma vistoria foi feita com equipe especializada em conservação de filmes. Mario Frias protela e não apresenta nenhum plano! É inaceitável”, escreveu Joice.
“Desculpa, deputada, a perícia da polícia está demorando um pouco, pois eles ainda estão ocupados tentando descobrir quem bateu na senhora, enquanto dormia. Tão logo seja possível, eles irão apoiar outros casos não tão importantes a segurança nacional, como o da senhora”, respondeu o secretário.
Agressão a Joice Hasselmann
Frias fez referência à agressão que Joice diz ter sofrido no dia 17 de julho. À Rádio Bandeirantes, ela contou que a última coisa que se lembra daquela noite é de estar assistindo televisão em seu apartamento. Na manhã seguinte, acordou deitada no chão do corredor "com a cabeça em uma poça de sangue".
Em um primeiro momento, achou que poderia ter sofrido um AVC ou um princípio de infarto, mas, ao realizar exames e passar por diversos médicos, observou que o grande número de fraturas graves era incompatível com apenas uma queda.
Joice sofreu cinco fraturas no rosto (sendo duas na região do nariz, duas no seio da face e uma no maxilar), uma na coluna e traumas no ombro, no joelho e na costela. No local havia relógios, brincos, anéis e outras joias, mas nada foi roubado.
A deputada conseguiu pegar o celular e telefonou para o marido, o neurocirurgião Daniel França, que dormia no quarto de hóspedes. O médico, então, prestou os primeiros socorros e procurou colegas especialistas, incluindo o amigo Dr. Kalil e alguns dentistas, já que havia quebrado dois dentes.
“Meu marido pediu tomografias, fui fazer e o resultado foi assustador. O Dr. Kalil me ligou assustado e falou 'o que é isso?'. Era algo inimaginável. Conversei com médicos e tentamos fazer uma reconstituição. Não descarto nenhuma possibilidade. Não vou acusar quem já me ameaçou, seria irresponsável. Pode ser que eu tenha caído? Bom, seria um caso único na história. Os ferimentos não eram compatíveis com uma queda.”
A polícia segue investigando o caso.
Incêndio na Cinemateca
Um incêndio atingiu o galpão da Cinemateca Brasileira, na Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo (SP), no fim da tarde do último dia 29. O local era usado para guardar parte do acervo do instituto.
O incêndio teria começado durante a manutenção do sistema de ar-condicionado. Em nota, a Secretaria Especial da Cultura afirmou que “todo o sistema de climatização do espaço passou por manutenção há cerca de um mês como parte do esforço do governo federal para manter o acervo da instituição”.
A Secretaria Especial de Cultura, órgão do governo federal, confirmou ainda que pediu apoio da Polícia Federal para investigar as causas do incêndio. “Só após o controle total [das chamas] pelo Corpo de Bombeiros que atua no local poderá determinar o impacto e as ações necessárias para uma eventual recuperação do acervo e, também, do espaço físico”, diz a nota.
O imóvel atingido pelo fogo não é a sede principal da instituição, que fica na Vila Clementino, mas também guarda parte de seu acervo, como a documentação do Instituto Nacional do Cinema, do Concine (Conselho Nacional de Cinema), cópias de segurança de filmes e, possivelmente, arquivos de filmes do curso de cinema da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.
A casa de cultura já sofreu com quatro incêndios em sua história. No último deles, a sede da instituição, que fica na Vila Clementino, foi atingida pelo fogo em fevereiro de 2016. Na ocasião, cerca de 500 obras foram destruídas.
Criada em 1940, a Cinemateca Brasileira é responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira. Tem o maior acervo da América do Sul, formado por cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de um milhão de documentos relacionados ao cinema, como fotos, roteiros, cartazes e livros, entre outros.