Uma das principais atrações turísticas de Berlim, o Museu de Pérgamo ou Pergamonmuseum, que abriga o gigantesco e famoso altar grego de mesmo nome e uma vasta coleção de artefatos da antiguidade, será inteiramente fechado a partir de 23 de outubro para trabalhos de restauração que devem durar pelo menos quatro anos, até 2027.
No entanto, em alguns setores do museu as obras devem durar ainda mais. A previsão é que a restauração completa da construção, localizada na Ilha dos Museus de Berlim, só fique pronta em 2037.
Algumas seções do museu, incluindo o salão que abriga o Altar de Pérgamo, já estão inacessíveis para o público desde 2014. Se tudo correr como previsto, o altar estará entre os primeiros artefatos que voltará a ser exibido em quatro anos, após mais de uma década sem receber visitantes.
Inscrito como patrimônio da Unesco junto com uma série de museus vizinhos, o Museu de Pérgamo abriga ainda a Porta de Istar, proveniente da antiga Babilônia, com 2.600 anos de idade, as Portas do Mercado da antiga cidade greco-romana de Mileto e uma vasta coleção de arte islâmica que abrange um milênio.
O fechamento iminente por pelo menos quatro anos e de algumas alas por um período ainda maior, provocou uma corrida de berlinenses e turistas para dar uma última olhada na coleção do museu ainda acessível.
Gudrun von Wysiecki, que cresceu no lado ocidental do Muro de Berlim, disse que atravessou a antiga fronteira entre as duas Alemanhas pela primeira vez na década de 1970 apenas para visitar o Museu de Pérgamo. "Sempre amei esse lugar. Vê-lo pela primeira vez foi uma epifania absoluta", disse a professora aposentada de 75 anos, à sombra do antigo Portão do Mercado de Mileto. "Tivemos muita sorte de conseguir alguns dos últimos ingressos desta semana. Na minha idade, quem sabe se estarei viva para a reabertura."
A estrela do museu: o Altar de Pérgamo
Idealizado durante o Império Alemão (1871-1918), concluído em 1930, e batizado com o nome de seu artefato mais famoso, o altar grego, com mais de 113 metros de largura construído no século 2 antes de Cristo, o museu costuma atrair mais de um milhão de visitantes por ano quando todas as suas exposições estão acessíveis.
Arqueólogos alemães descobriram as ruínas do Altar de Pérgamo entre 1878 e 1886, no atual território da Turquia, e as enviaram a Berlim, então capital do novo Império Alemão, que buscava adquirir artefatos antigos mundo afora por questões de prestígio. Em contraste com tantos objetos levados ilegalmente por arqueólogos europeus durante o período colonial, o altar foi adquirido legalmente por meio de um acordo com o Império Otomano, que ocupava então as antigas terras da Grécia antiga. Pérgamo foi uma cidade grega localizada onde hoje fica Bergama, na Turquia.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o altar foi desmontado e armazenado num abrigo antiaéreo na capital alemã. Mais tarde, foi saqueado pelos soviéticos e levado como troféu de guerra para Leningrado (atual São Petersburgo), onde acabou exposto no museu Hermitage. Só em 1958 as peças retornaram ao Museu de Pérgamo, então no território da antiga Alemanha Oriental, um estado satélite dos soviéticos. No entanto, dezenas de outras peças nunca foram devolvidas pelos russos.
Necessidade urgente de reforma
Mesmo com essa história atribulada, o altar sobreviveu relativamente intacto. O mesmo não pode ser dito do museu que o abriga o pesado altar e outros artefatos há mais de cem anos, localizado sobre o leito poroso do rio Spree, na região central de Berlim. No momento, operários tentam estabilizar e reforçar as fundações subterrâneas de concreto do museu. É uma tarefa hercúlea, que ajuda a explicar a duração extraordinária das obras e o custo estimado de 1,5 bilhão de euros (R$ 8 bilhões) da reforma.
A Fundação do Patrimônio Cultural Prussiano, que supervisiona as instituições da Ilha dos Museus, afirmou que a ala sul do Pérgamo está em uma "condição estrutural muito precária" e que partes do prédio correm o risco de desabar.
O desgaste natural ao longo das décadas, combinado com os danos duradouros da Segunda Guerra Mundial, também vem provocando inundações durante chuvas, disse Barbara Helwing, diretora do Museu do Antigo Oriente Próximo, localizado no mesmo edifício. Segundo ela, os reparos são "urgentemente necessários" para proteger as preciosas coleções e garantir a segurança dos visitantes. "O prédio está em péssimo estado e está afundando. Por isso o fechamento não provoca apenas tristeza", disse ela.
No entanto, surgiram críticas com o custo altíssimo da reforma e o fato de que, além de alguns painéis solares, os planos não incluem uma reforma para tornar o prédio "verde".
"O Museu de Pérgamo completamente renovado, quando for reinaugurado em 2037, será, em termos de tecnologia climática e energia, um edifício do passado movido a combustíveis fósseis", escreveu o crítico de arquitetura Nikolaus Bernau no semanário Die Zeit.
jps/cn (AFP, ots)