O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), com sede nos EUA, informou na sexta-feira (09/08) que tropas ucranianas avançaram até 35 quilômetros em território russo, na região de Kursk, que fica próxima à fronteira nordeste da Ucrânia. Especialistas alertam, no entanto, que o exército ucraniano não estaria com o controle total da área.
Há relatos de combates intensos, mortes e feridos. Não há, porém, informações independentes da própria região, já que os relatos geralmente chegam por meio de redes sociais, blogueiros militares russos e autoridades locais.
Nesta segunda-feira (12/08), o governador da região de Kursk, Alexei Smirnov, teria informado o presidente russo, Vladimir Putin, que mais de 120 mil pessoas deixaram a área ou foram retiradas das proximidades da linha de frente. Outras 59 mil, segundo Smirnov, ainda precisariam sair.
O governador também afirmou que a Ucrânia controla 28 assentamentos na região e que suas tropas avançaram cerca de 12 quilômetros dentro do território russo, em uma incursão que começou no dia 6 de agosto. Smirnov disse ainda que ao menos 12 pessoas morreram e 121 ficaram feridas, sendo dez crianças, desde o início da ação.
Objetivos ucranianos
Especialistas citam motivos políticos e militares para a repentina ofensiva. Para a Ucrânia, o objetivo seria conquistar a maior quantidade possível de território russo e, assim, pressionar Moscou e deixar Kiev em uma posição mais forte em futuras negociações de paz.
As terras ucranianas ocupadas pela Rússia poderiam ser trocadas por territórios russos conquistados pela Ucrânia. Em termos de estratégia militar, o avanço dentro da Rússia poderia criar uma zona de segurança para a população de áreas que são contestadas pela Ucrânia, além de enfraquecer o exército russo.
O ataque pode forçar a Rússia a enviar mais tropas para a região. Nesta segunda, Putin disse que irá expulsar as tropas ucranianas de Kursk. Mas, apesar dessa hipotética mobilização, acredita-se que Moscou não teria soldados para compensar na linha de frente.
Incursão prejudica a Ucrânia?
Por um lado, a Ucrânia assumiu um risco com a incursão e pode acabar perdendo mais contingente do que a Rússia.
Por outro, o país apresenta um poderio militar maior devido ao apoio recebido do Ocidente, aponta o especialista militar ucraniano Oleh Zhdanov.
De modo geral, o avanço é, acima de tudo, um sucesso político para a Ucrânia, que já exerce pressão sobre a Rússia.
Operação planejada com antecedência?
O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, e outras lideranças ainda não comentaram explicitamente sobre a incursão. Especialistas supõem que a ação tenha sido planejada há meses e que o apoio militar a partir do Ocidente tenha impulsionado a operação.
O quão sustentável é a ação?
O exército ucraniano provavelmente não conseguirá manter toda a área por onde avança. Mas, no momento, conforme avaliações preliminares, a Ucrânia obteve relativo sucesso porque a região não estava preparada para ser defendida pelo exército russo.
A sustentabilidade do avanço, no entanto, provavelmente dependerá do apoio militar contínuo do Ocidente à Ucrânia.
Kursk e o aumento do gás
Kursk é uma região importante para o fornecimento de gás. A última estação pela qual o combustível flui da Rússia para a Europa via Ucrânia está localizada perto da pequena cidade de Sudzha. Aparentemente, ao menos até agora, o transporte continua sem alterações. De qualquer forma, desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, as exportações de gás russo para a Europa diminuíram drasticamente.
Autor: Juri Rescheto, Janina Semenova