RSF: Alemanha teve 41 ataques a jornalistas em 2023

Número compilado pela ONG Repórteres sem Fronteiras é menor do que o de 2022, mas bastante superior ao registrado antes da pandemia. Maioria das agressões ocorreu em eventos políticos, principalmente da extrema direita.

Por Deutsche Welle

Dados compilados pela ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), divulgados nesta terça-feira (09/04), alertam para um clima bastante hostil aos profissionais de imprensa na Alemanha.

A RSF registrou 41 ataques a jornalistas em solo alemão no ano passado, número bem abaixo dos 103 contabilizados em 2022 e dos 80 de 2021. Ainda assim, a contagem ainda é bastante superior à de 2019, o último ano antes da pandemia de covid-19, quando ocorreram somente 13 ataques.

Durante a pandemia de covid-19, houve um disparo no número de ataques a jornalistas. "Nossa análise do ano passado também demonstra que essa tendência ainda não arrefeceu completamente", afirma o relatório da RSF sobre a situação na Alemanha.

"Uma atmosfera cada vez mais anti-imprensa se espalhou pela Alemanha nos últimos anos", afirma o documento. "No ano passado, repórteres foram novamente agredidos, tiveram equipamentos quebrados e sofreram ameaças na internet em escala gigantesca."

Segundo a RSF, as formas mais comuns de agressão em 2023 foram chutes, socos e golpes com objetos como tochas ou até tambores. Esses incidentes são contabilizados como ataques se atingirem o corpo ou os equipamentos dos jornalistas.

Novas formas de agressão

Os repórteres também tiveram equipamentos roubados, foram jogados ao chão, atingidos com areia ou pedras e, em um dos casos, com fezes.

A ONG destaca ainda o surgimento de uma nova forma de agressão através dos protestos de agricultores, com uso de tratores para bloquear vias públicas, que acabam se voltando também contra a imprensa.

"Observamos um novo e perigoso tipo de agressão. Fazendeiros impediram a entrega de jornais através dos bloqueios com tratores e pilhas de estrume em vários estados alemães", destacou o diretor da RSF Michael Rediske.

"Isso demonstra que a liberdade para reportar de maneira independente não está somente ameaçada pelos ataques a indivíduos das equipes de profissionais. O descontentamento com uma cobertura jornalística supostamente muito limitada sobre os protestos dos agricultores já parece ser suficiente para rebaixar ainda mais os limites para os ataques à liberdade de imprensa", afirmou Rediske.

Extrema direita mais hostil à imprensa

Segundo a ONG, os lugares mais perigosos para os jornalistas na Alemanha são os eventos políticos, como reuniões partidárias, manifestações ou atos de protesto. Das 41 agressões, 32 foram registradas em ocasiões como essas.

"Mais uma vez, as maiores hostilidades contra a imprensa ocorreram em particular no ambiente das reuniões de teóricos da conspiração ou de extremistas de direita, onde em 2023, ocorreram 18 das 41 agressões", afirma a RSF.

O ano de 2024 já não começou bem para a imprensa alemã, com um repórter sendo vítima de um ataque brutal no entorno de uma manifestação na cidade de Leipzig.

Brasil continua perigoso, mas sem mortes

Um balanço anual da RSF divulgado em dezembro do ano passado afirma que o Brasil não registrou nenhuma morte de jornalista durante o exercício da profissão.

Apesar disso, o assédio e a violência online, especialmente contra mulheres, continuam a crescer, aponta a ONG. Jornalistas responsáveis pela cobertura de casos de corrupção e política são os mais expostos à violência.

Em 2022, pelo menos três assassinatos de jornalistas foram registrados pela RSF, incluindo britânico Dom Phillips, morto na Amazônia ao lado do indigenista Bruno Pereira durante uma investigação sobre crimes ambientais em terras indígenas.

Nos últimos dez anos, pelo menos 30 jornalistas foram assassinados no Brasil, tornando o país o segundo mais perigoso da América Latina para a imprensa nesse período, atrás apenas do México.

rc (DPA, EPD)

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