Um tribunal do regime russo condenou nesta sexta-deira (19) o jornalista americano Evan Gershkovich a 16 anos de prisão em uma colônia penal russa por "espionagem". O veredito veio após três semanas de audiências secretas, classificadas por Washington como uma farsa.
Gershkovich, de 32 anos, trabalhava como correspondente do The Wall Street Journal e se tornou o primeiro jornalista na Rússia a ser acusado de espionagem desde a Guerra Fria. Ele foi detido na cidade russa de Ecaterimburgo em março de 2023, e foi mantido na famosa prisão de Lefortovo, em Moscou.
O governo dos Estados Unidos acredita que ele está sendo mantido como "moeda de troca" para garantir a libertação de russos condenados no exterior. A Rússia tem uma política de não trocar prisioneiros internacionalmente, a menos que eles já tenham sido condenados, o que pode abrir caminho para que Gershkovich seja trocado em um acordo.
Seu julgamento avançou rapidamente desde a primeira audiência no fim de junho, com as equipes de acusação e defesa apresentando seus argumentos finais nesta sexta. Outros casos semelhantes na Rússia levaram várias semanas ou até meses entre as audiências.
Questionado, o Kremlin não confirmou a intenção de troca de prisioneiros. O presidente russo, Vladimir Putin, já deu a entender que deseja ver a libertação de Vadim Krasikov, um russo condenado na Alemanha por matar um comandante separatista checheno. Os juízes alemães disseram que foi um assassinato orquestrado pelas autoridades russas.
Entre outros cidadãos norte-americanos detidos na Rússia estão o repórter Alsu Kurmasheva e a bailarina Ksenia Karelina, ambos com dupla cidadania, americana e russa, e o ex-fuzileiro naval norte-americano Paul Whelan, que está cumprindo sentença de 16 anos por espionagem.
Condenação sem provas
O Kremlin não forneceu nenhuma prova pública das alegações de espionagem contra Gershkovich. O governo russo alega apenas que ele foi pego "em flagrante" coletando informações secretas sobre as capacidades militares da Rússia uma fábrica de tanques sob ordens da CIA.
A alegação foi classificada como absurda pelo Departamento de Estado dos EUA e pelo The Wall Street Journal, que reforçou que ele nunca trabalhou para o governo americano e foi preso por "simplesmente fazer seu trabalho".
Nascido nos EUA, filho de soviéticos, Gershkovich fazia reportagens na Rússia desde 2017. Ele tinha credenciamento oficial para trabalhar como jornalista do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
Na prisão isolada de Lefortovo, ele se comunicava com amigos e familiares por meio de cartas escritas à mão, nas quais dizia não ter perdido a esperança em relação à sua situação.
O julgamento foi realizado a portas fechadas, o que é comum em casos de espionagem. Os jornalistas foram autorizados a entrar brevemente na sala do tribunal quando as audiências começaram no mês passado. Gershkovich, com a cabeça raspada de acordo com as normas russas, sorriu e acenou com a cabeça, dentro de uma estrutura de vidro reservada para réus.
Um grupo de trabalho das Nações Unidas declarou este mês que a detenção de Gershkovich por acusações de espionagem foi "arbitrária" e pediu sua libertação imediata.
"Evan nunca foi empregado pelo governo dos Estados Unidos. Evan não é um espião", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, no mês passado.
A Casa Branca advertiu os cidadãos norte-americanos que ainda estão na Rússia a "partir imediatamente" devido ao risco de prisão indevida.
O ex-presidente e candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, afirmou que, caso eleito, iria usar sua relação pessoal com Vladimir Putin para soltar Gershkovich.
sf (AFP, ots)